Por MARCO ANTÔNIO P. COSTA
Tudo bem que ainda não estejam produzindo tudo o que tem conhecimento e capacidade, mas as ribeirinhas da região do alto Araguari, na região central do Amapá, já voltaram com a produção dos sabonetes feitos com as mais legítimas seivas da selva amazônica.
A “fornada” já está pronta e deve chegar em Macapá nesta sexta-feira (13) para a comercialização, que é feita diretamente na sede do Instituto Chico Mendes da Conservação da Biodiversidade (ICMBio), em Macapá, na Rua Leopoldo Machado, Bairro Jesus de Nazaré, área central.
O ICMBio foi o grande parceiro dessas mulheres que se organizaram e superaram o traumático fim do ciclo do garimpo Capivara, que garantia a sobrevivência e as contradições de gerações de ribeirinhos, mas foi fechado por estar na área da Floresta Nacional do Amapá (Flona), criada em 1989.
Recomeço
Com orgulho, o Portal SelesNafes.com, como conta Arlete Leal Pantoja, também teve sua humilde contribuição para a retomada dos projetos das sementeiras do Araguari, que das sementes começam a tirar parte do sustento e de perspectivas de vida melhor.
No dia 13 de julho de 2020, a matéria “Ribeirinhas que fazem cosméticos com produtos da floresta precisam recomeçar”, ajudou a dar visibilidade e a divulgar a coleta virtual dessas mulheres para a compra de seus materiais. E deu certo.
“Hoje estamos organizadas na associação Sementes do Araguari, já temos CNPJ, inscrição municipal, estamos aguardando a estadual, e a gente com os recursos que conseguimos com o apoio dos parceiros e amigos que ajudaram a gente na divulgação da nossa ‘vaquinha’, a gente conseguiu comprar os materiais, formas, resíduos como a glicerina, vaselina, panelas esmaltadas, conseguimos comprar uma parte do material para produzir o sabonete de andiroba, copaíba e breu branco”, contou Arlete.
Desafios
Porém, este foi apenas um recomeço. A pandemia que atrapalhou lá atrás, segue prejudicando, especialmente as vendas. Por exemplo, cerca de 100 sabonetes passaram da validade e foram perdidos, pois não houve quem comprasse. A divulgação, compreende, é fundamental e muitas pessoas querem comprar o produto, mas não sabem onde encontrá-lo.
Por isso, também, a parceria com o ICMBio é importante, pois além de ajudar na conscientização e no processo de transição do garimpo para a atividade sustentável, a instituição dá uma força no escoamento da produção dessas mulheres.
Cada sabonete custa R$ 8, produto totalmente artesanal com o cheiro das águas, florestas e da terra que nascem do Tumucumaque e vão encontrar-se com o Amazonas e o atlântico no leste amapaense. Veja a coleta de Breu Branco na mata:
Novos parceiros
Outros desafios estão sendo enfrentados com o apoio de novos parceiros. As velas de andiroba, por exemplo, ainda não estão sendo produzidas e são um dos produtos mais procurados por quem já as experimentou, por seu potente efeito repelente contra mosquitos.
A máquina para a sua produção é cara, no entanto, Arlete informou que uma parceria com o Iepé, organização não governamental com vasta atualização no Amapá, irá garantir a compra do equipamento. E Arlete almeja mais.
“Hoje estamos com um recurso aprovado para a comunidade, para trabalhar com a associação e a gente vai conseguir agora comprar a máquina de vela, assim como outros materiais que ainda nos faltavam”, destacou.
Até o momento, 15 famílias estão envolvidas neste projeto. Contudo, Arlete tem confiança de que outras mulheres irão se juntar e que depois irão conseguir recursos suficientes para construírem uma usina de produção em pleno alto Araguari.
Quem quiser conhecer mais os projetos, ajudar de alguma maneira e se inteirar sobre os produtos das Sementes do Araguari, pode entrar em contato diretamente com Arlete através do telefone (96) 99911-4918.