Ex-prefeita fala sobre filho odontólogo morto em ação policial

Euricélia Cardoso, ex-prefeita de Laranjal do Jarí, cidade do sul do Amapá, deu um relato emocionado sobre o filho Igor Cardoso ao Portal SelesNafes.com.
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Por MARCO ANTÔNIO P. COSTA

Doze dias após a morte do filho em uma ação policial, Euricélia Cardoso, ex-prefeita de Laranjal do Jari, município no sul do Estado do Amapá, quebrou o silêncio e falou pela primeira vez sobre a tragédia que abateu sua família.

Mãe de Igor Ramon Cardoso Lobo, de 28 anos, ela repudia qualquer tentativa de mancha à honra e história do filho. E afirma que, assim como os outros dois homens mortos na ação, seu filho é inocente e uma vítima.

Euricélia contou que soube do ocorrido apenas no sábado (11), por volta das 10h30, através do seu esposo, que lhe informou, primeiramente, que Igor havia sofrido um acidente de carro. Quando pediu para que ligassem ao hospital, o marido informou que ele não tinha resistido.

Ela estava em Brasília (DF) e, às 15 horas, já estava desembarcando em Macapá. Foi direto à Polícia Científica (Politec), onde recebeu o corpo do filho.

Momento em que Igor recebeu a carteira profissional no Conselho Regional de Odontologia

Igor morreu no banco do motorista com vários tiros

A ex-prefeita contrapõe as informações dadas à imprensa pelo advogado de defesa dos seis policiais militares que participaram da ação e estão presos de forma provisória.

Cícero Bordalo afirmou, em coletiva de impressa na tarde de segunda-feira (20), que não foram feitos exames periciais, por exemplo o residuográfico em Igor. A mãe contesta. Ela diz ter aguardado a liberação do corpo até às 23h do sábado, justamente porque os exames devidos estavam sendo realizados.

No domingo, velou e sepultou o filho. Na segunda-feira (13), reuniu-se com o delegado Victor Crispim, responsável pelo caso, pela primeira vez.

Disse ter ficado segura após a reunião com o delegado, pois sentiu nele boa intenção de passar transparência e buscar a verdade e justiça sobre o caso.

Igor e Euricélia: momentos de felicidade de mãe e filho

“Além da perda, que é irreparável, a gente ainda tem que conviver com essa injustiça de tudo o que foi colocado na imprensa, denegrindo a imagem do meu filho. Além de tirarem a vida dele de forma tão cruel, ainda tentaram levar a honra dele junto. Nesse momento, o que a gente quer mesmo é que tudo seja esclarecido. Eu creio primeiro na justiça de Deus. E lutarei para que a justiça aqui também seja feita”, declarou, muito emocionada, Euricélia Cardoso.

Versão

A mãe de Igor também é uma das pessoas que tenta entender como tudo ocorreu. Um dos personagens deste caso, Patrick Moraes dos Santos, de 29 anos, que era um dos passageiros do carro dirigido por Igor naquela noite, tem passagens pela polícia.

Igor com a namorada e a enteada

Ele teria, segundo Euricélia, afirmado à família, e também à Polícia Civil – informação confirmada pelo Portal SelesNafes.com com o delegado Victor Crispim –, que não conhecia Igor Cardoso, que seria apenas motorista de aplicativo. Esta é uma tese que a defesa dos policiais questiona e tenta derrubar.

Sobre Igor

A mãe contou que Igor formou-se em Odontologia em 2020. Ele estava em Santana trabalhando em clínicas particulares e complementando renda trabalhando de motorista de aplicativos.

Havia comprado um carro à prestação. Morava em um apartamento alugado, ao valor de R$ 700. Um de seus apegos na vida era a pequena cadelinha de estimação e o trabalho.

Igor formou-se em Odontologia em 2020

A ex-prefeita contou que havia acabado de passar uma temporada com o irmão mais velho. Os depoimentos do irmão de que nunca percebera nada anormal na conduta de Igor, de amigos próximos, da namorada e na própria relação entre mãe e filho, a fazem ter certeza de que a cena do crime foi adulterada na intenção de tornar vítimas em algozes.

Seria o mesmo que ocorreu, aponta Euricélia, com os comerciantes Helkison José da Silva do Rosário, de 38 anos, e seu enteado, Rafael Almeida Ferreira, de 19 anos, que, inicialmente, foram apontados como bandidos, mas que logo imagens de circuitos de segurança, a persistência da família e o relato de testemunhas, demonstraram serem, na verdade, vítimas.

“Tudo o que eu busquei dar de mais precioso para meus dois filhos é o mesmo que tive dos meus pais: o respeito ao próximo, ter honra, ensinei valores que acredito que não tem dinheiro no mundo que pague e eu não tenho nenhuma dúvida que esses valores estão bem consolidados na vida dos meus filhos, na vida do Igor, que chegou de maneira precoce, chegou de oito meses e de maneira precoce Deus o levou”, declarou Euricélia – mais uma vez muito emocionada na entrevista.

Mãe e filho eram bastante próximos

Perdão e justiça

A ex-prefeita também falou sobre o que sente em relação aos policiais que participaram da ação que resultou na morte do filho dela: não guarda ódio de ninguém.

“No velório do meu filho, fiz questão de dizer que eu os perdoo, a todos os que estão envolvidos. Mas, o fato de eu os perdoar, não me exime do direito de querer lutar por justiça, é o mínimo”, concluiu.

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