“Lutando contra a facção”, afirma advogado de policiais presos

Cícero Bordalo Júnior falou com a imprensa, em entrevista coletiva convocada por ele mesmo, na tarde desta segunda-feira (20).
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Por MARCO ANTÔNIO P. COSTA

O advogado Cícero Bordalo Júnior, responsável pela defesa dos seis policiais militares envolvidos na ação que deixou três homens mortos no Bairro Fonte Nova, em Santana, no último dia 10, chamou o episódio de “guerra contra uma facção criminosa que atua no Estado do Amapá”.

Naquela noite de sexta-feira, os comerciantes Helkison José da Silva do Rosário, de 38 anos, e seu enteado Rafael Almeida Ferreira, de 19 anos, morreram na ação, assim como o motorista de aplicativo e cirurgião dentista Igor Ramon Cardoso Lobo, de 28 anos.

Os clientes de Bordalo tiveram a prisão temporária decretada pela Juíza Marina Lorena Lustosa e se apresentaram voluntariamente à Polícia Civil na manhã deste último sábado (18), no 4º Batalhão da Polícia Militar, em Santana, onde estão detidos.

Bordalo falou com a imprensa, em entrevista coletiva convocada por ele mesmo, na tarde desta segunda-feira (20). Sobre os comerciantes Helkison e Rafael, lamentou suas mortes.

Local do desfecho da ocorreência, na esquina da Avenida das Nações com a Rua Everaldo Vasconcelos, no Bairro Fonte Nova

Mas, disparou acusações contra os ocupantes do carro envolvido na perseguição policial que culminou com as 3 mortes. Segundo o Boletim de Ocorrência do caso, havia 4 pessoas no HB20, o motorista, e outros 3 passageiros, dois quais 2 teriam fugido e 1 foi baleado: Patrick Moraes dos Santos, de 29 anos, que sobreviveu após ser socorrido ao Hospital de Emergência de Macapá. Todos eles estariam “a serviço de uma facção criminosa”, afirmou Bordalo.

Bordalo e seus assistentes durante a coletiva. Fotos: Marco Antônio P. Costa/SN

A estratégia inicial da defesa é demonstrar que os policiais militares não tiveram intenção de matar inocentes, mas sim que fizeram uma abordagem correta, tendo que se defender dos ocupantes do veículo HB20 que começaram a atirar contra as viaturas da polícia.

Críticas

Cícero Bordalo criticou as investigações da Polícia Civil por ter, segundo ele, se empenhado em pedir a prisão dos militares e não investigado os verdadeiros criminosos, como Patrick, que tem passagens pela polícia e teria, inclusive, um mandado de prisão em aberto.

O advogado afirmou que não há imagens nítidas da hora exata da ação, mas que os dois comerciantes foram feitos de escudos humanos pelos bandidos, ou seja, Patrick e os demais membros os teriam colocado na frente, para se protegerem e, por isso, eles foram atingidos no tiroteio.

Na coletiva, a equipe da defesa reproduziu áudios que demonstram, supostamente, como a ordem para a realização de um assalto teria vindo de dentro do Instituto de Administração Penitenciária do Amapá (Iapen), de um homem com o apelido de “Nikito”.

Este detento teria enviado um áudio para Igor Cardoso com a ordem de ir buscar Patrick no bairro do Ambrósio, também em Santana, junto com dois revólveres de calibre 38, com numeração raspada.

Segundo a tese da defesa dos policiais, Igor, por sua vez, que tinha acabado de comprar um carro, preferiu pegar emprestado o carro de uma outra pessoa, que não estava na ação e que seria seu amigo, pois o seu veículo não tinha película. Para isso, ele teria, inclusive, trocado ou tido a intenção de trocar as placas dos veículos.

Advogado mostra documento que pretende usar na defesa

Segundo Bordalo, o motorista do HB20 teria sido encontrado com uma arma nas mãos e as placas dentro do veículo, o que comprovaria seu vínculo com a organização criminosa.

No entanto, os exames residuográficos das pessoas envolvidas não teriam sido feitos na cena do crime e exames de dias depois não teriam a mesma fidedignidade. Além disso, um dos laudos da Polícia Científica do Amapá, feito nas armas dos policiais, não teria tido condições de definir quantos disparos foram feitos pela arma de cada policial, por falta dos reagentes químicos necessários para tal, o que, afirmou, afeta a defesa de seus clientes.

Quando perguntado quantos tiros os policiais dispararam, o advogado afirmou que eles não tiveram como precisar. Uma fonte do Portal SelesNafes.com afirmou que, somente Igor Cardoso, teria levado de 8 a 10 tiros.

As críticas às investigações da Polícia Civil e à atuação do delegado responsável pelo caso marcaram a tônica da declaração da defesa.

Familiares dos comerciantes em protesto. Foto: Arquivo/SN

“Por que não pede a quebra de sigilo desses telefones, não puxa as gravações, não liga para o WhatsApp com ordem judicial para terminar de investigar isso aí? E só se interessa em prender os policiais, que estavam lutando contra a facção. Nós também temos essa tristeza que tenha falecido esse senhorzinho e o filho dele, de 19 anos, também nos revolta essa situação de o delegado não investigar como foi que membros dessa facção, como o Nikito, dando ordens de dentro da penitenciária, para os membros da facção, pro Igor, pro Patrick, pros outros dois que fugiram, pro Breno que está baleado no pé, porque que ele não investigou isso detalhadamente, e eu como advogado, estou trazendo à baila, estou trazendo a público, depois de 48 horas de ser contratado, porque o delegado até hoje não fez isso”, vociferou Bordalo.

Ele afirmou que seus clientes estão confiantes e se entregaram porque não são bandidos.

Seles Nafes
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