Corrupção: A reação do time B

Promotor de justiça Afonso Guimarães escreve crônica comparando processos por corrupção à reviravolta em jogo de futebol
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Por AFONSO GUIMARÃES, promotor de justiça responsável pelas ações derivadas da Operação Eclésia, que investigou a farra com dinheiro público na Assembleia Legislativa do Amapá

Sabe aquele jogo de futebol em que só no primeiro tempo um time faz cinco a zero no outro e vai para o vestiário certo da vitória? Pois é, esse jogo existe, está em andamento e sendo jogado em um estádio ainda sem nome, pois está em construção.

O time A começou arrasador, seus atletas avançaram as linhas de marcação e sufocaram o time B, tanto que, nos primeiros quinze minutos já estava vencendo o jogo por três a zero, fazendo mais dois gols antes do juiz encerrar a primeira etapa.

Os times foram para os vestiários e o técnico do time A vendo que o adversário estava batido, convencido de que a vitória era só uma questão de tempo, chamou seus atletas e os orientou para evitarem as divididas, que tocassem a bola, que usassem o regulamento e, ao final, era só partir para o abraço.

Por ouro lado, o técnico do time B deu uma dura nos seus atletas, chamou-os de pernas-de-pau, de covardes, ou seja, mexeu com o brio deles e mudou a tática. Mandou que fossem pra cima, que sufocassem o time A. Não se sabe como, mas ainda no vestiário, conseguiu conversar com o juiz do jogo, ambos com as mãos nas bocas para impedir a leitura labial. Ao final da preleção, foi enfático ao dizer que a derrota naquele jogo seria a derrota de todos os jogadores.

Nesse contexto, o jogo recomeçou, já no primeiro lance o juiz marcou um pênalti muito duvidoso em favor do time B. Logo depois, expulsou um jogador do time A e desmarcou um gol feito num contra-ataque. Seguiram-se vários lances duvidosos com as vantagens confirmadas pelo árbitro da partida, sempre a favor do time B.

Foi assim, que aos quarenta e cinco minutos do segundo tempo o jogo já estava empatado em cinco a cinco. O juiz, que após o intervalo do primeiro para o segundo tempo voltou com outra postura claramente tendenciosa em favor do time B, deu cinco minutos de acréscimo, tempo em que a partida será resolvida, pois a bola está rolando.

A contagem desses cinco minutos está começando agora e pelo desenrolar do jogo, parece que o time B vai ganhar de virada, pois se o time A não endurecer, logo-logo sofrerá o sexto gol e a partida estará perdida, apesar de um início brilhante.

O comentarista da partida faz uma observação: nesse jogo, a torcida acumula as funções de técnico e VAR. Como técnico, ela pode fazer algumas substituições, retirando de campo alguns atletas do time A, que mudaram de comportamento e parecem até que estão jogando no B. Como VAR, deve questionar as decisões do árbitro da partida e anular os lances duvidosos que favoreceram o time B.

Os técnicos não forneceram as escalações dos seus times, permitindo a cada torcedor colocar o nome que achar mais adequado em cada atleta. Apenas uma informação foi repassada à torcida: O time A joga contra a corrupção e o time B, a favor dela.

A torcida também pode dar nome ao estádio e ao árbitro da partida.

Seles Nafes
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