Por MARCO ANTÔNIO P. COSTA
Parecia uma sexta-feira comum, mas o último dia 8 de outubro continha um anúncio histórico: a maior variação inflacionária, quebrando a barreira de dois dígitos, desde a criação do Plano Real, em 1994.
O acumulado do ano do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) registrou crescimento de 10,25% em 12 meses, uma marca negativamente histórica e que afeta, principalmente, aos mais pobres e impacta particularmente o amapaense.
O caminhoneiro Gilvan Morais, de 45 anos, estava na fila de um posto de gasolina abastecendo seu caminhão e, ao telefone, estava ao lado da placa de preços. Ele revelou que conversava com o seu cliente de Oiapoque, que tentava o impossível: pechinchar o preço do frete.
“Eu gastava R$ 1.600 para ir até o Oiapoque. Agora, para colocar a mesma quantidade de combustível, eu gasto R$ 2.250, R$ 2.200, aumentou bastante, a gente sente no bolso, eu tô pagando agora R$ 4,88 no litro do diesel e, no início do ano, paguei na casa dos três reais. Com certeza, eu repasso isso para o meu frete e eu estava agora mesmo discutindo isso com o cliente aqui, e ele vai repassar isso para o consumidor e no final, eu também sou consumidor”, declarou Gilvan.
Ele acredita que a inflação esteja novamente atacando o brasileiro e o motivo, laconicamente, apontou: “meu chefe, isso é coisa dos governantes”, para em seguida subir na sua boleia e seguir viagem.
Gilvan é um exemplo concreto do círculo vicioso da pressão inflacionária, que desde a alta do dólar, da desvalorização do real – a moeda do mundo, dentre as mais relevantes, que mais sofreu desvalorização no último período –, do preço dos barris de petróleo, do aumento do gás de cozinha e da energia elétrica, deixou tudo mais caro.
Carne
Quando o Procon-AP lançou nota, também naquela sexta-feira (8), solicitando aos mercados e açougues que se abstenham de comercializar ossadas de boi, não houve exagero. O preço da carne bovina é dos itens mais caros para o consumidor amapaense, acumulando alta de cerca de 30%, segundo o Procon, no ano de 2021.
Leite Medeiros, de 52 anos, estava na fila da carne em um supermercado de Macapá. Com atenção, tentava verificar o que estava mais em conta. Ao final, com três bandejas e 1 Kg de carne em cada uma delas, falou ao Portal SelesNafes.com.
“Caríssimo, caríssimo. Não dá mais para comer carne como antes, a gente compra porque é obrigado. Olha só [mostrando suas bandejas no carrinho], um pouquinho de nada deu R$120”, declarou o preocupado consumidor.
Amapá e os mais pobres
O economista Charles Chelala também falou ao Portal SN e analisou como a inflação está impactando mais aos pobres e também tem incidências pesadas sobre o amapaense.
“Inflação significa um processo de alta geral de preços. No momento estamos vivendo uma inflação muito mais pesada para os setores mais pobres da população, porque o que aumenta são os elementos que consomem grande parte da renda dessa população: alimentos, gás, energia e mesmo combustíveis, que afeta os mais pobres mesmo que eles não tenham carro, porque tudo é transportado de óleo diesel e aumenta o preço de tudo o que consumido”, explicou o professor economista.
No caso amapaense, ele apresentou agravantes. Os fretes maiores param no Amapá, pela distância e o fato de que o Estado não produz grande parte dos alimentos que consome. Por isto, em caso de alta de preços de determinado alimento vindo de outros estados, não há como substituí-los por um produto interno. Por fim, Chelala destacou as responsabilidades pelo o atual momento difícil enfrentado no país.
“A política econômica Bolsonaro/Guedes, não faz absolutamente nada para enfrentar a inflação. Assiste impassível, inclusive colocando lenha na fogueira, por exemplo, com a política de preços de reajuste da Petrobras, que é lesa pátria, pois leva em consideração o preço do petróleo caso fosse importado e não o preço do produto produzido. Isso só favorece os acionistas da Petrobras, que ganham milhões em lucro, mas prejudica toda a população que é obrigada a pagar um preço muito maior do que o custo”, finalizou Charles Chelala.