Menina abandonada na rua encontra a inclusão na dança

Iniciativa de professores foi abraçada também por outros pais de crianças especiais
Compartilhamentos

Por RODRIGO ÍNDIO

Verdadeiras histórias de amor entre mães e filhos não são fundamentadas apenas pelo laço de sangue e o vínculo da gestação. No processo de adoção, o amor também pode ser incondicional, e, sim, natural. Assim acontece com a professora Fabíola Figueiredo e a filha Maria Clara.

A criança tem paralisia cerebral, hidrocefalia, epilepsia de difícil controle, lúpus e agora está em investigação para uma imunodeficiência. Quando tinha 7 meses de vida, Maria foi abandonada pelos pais biológicos em via pública e foi levada para cuidados na maternidade Mãe Luzia.

Fabíola teve conhecimento do caso e logo soube: era o momento de ter uma filha, que por sinal é única, em todos os sentidos. A guarda lhe foi concedida. Iniciava ali a trajetória de uma verdadeira família ‘abençoada’.

Hoje, Maria Clara tem 11 anos. Desde 2015, passou a praticar balé e integra o corpo de bailarinas da escola de dança Petit Dance. No último sábado (16), a menina fez uma apresentação alusiva ao Dia da Pessoa com Deficiência Física, celebrado em 11 de outubro.

Claro, a mãe estava na plateia para aplaudir de pé a participação da filha que só lhe enche de orgulho.

Grito dentro do carro

“O balé pra ela é tudo, porque ela ama música, passa o dia inteiro em casa ouvindo em seu radinho. Quando ela vai para o balé fica leve, e ela sabe o trajeto do balé, se mudar ela grita dentro do carro. Essa prática trouxe muitos benefícios para ela”, detalhou Fabíola.

Filha Maria Clara e Fabíola Figueiredo. Fotos: Rodrigo Índio

Clara já sabe o trajeto para a escola

Com uma rosa na mão recebida durante a apresentação, a professora destacou a importância do evento.

“Importante para a valorização da criança e do pai, pra mostrar que o filho dele apesar de ser especial consegue fazer qualquer coisa. O que quiser dar pra fazer. A sociedade só tem que dar estrutura para que isso aconteça e respeitar”, ponderou.

É com esse pensamento de inclusão que Dhemili Penha, de 13 anos, ajuda a amiga Elizangela Dias, de 30 anos, nas coreografias. Durante a apresentação, as meninas sorridentes, mostraram que são talento puro e têm sintonia.

“Se excluir as pessoas especiais de nosso convívio elas vão se sentir muito mal. Não é a primeira vez que dançamos com elas, estamos acostumadas a trabalhar com elas na sala de aula. A gente ensina e elas são super inteligentes. Me sinto honrada”, disse Dhemili.

O responsável pelo trabalho com as meninas, é o professor e coreógrafo José Cosme Carlisle, que trabalha a inclusão em sua escola desde 2015. Ele garante ser o único no estado a fazer isso e confidencia que no início existia falta de aceitação dos pais das crianças especiais e do público em geral. Hoje, existe uma visão mais ampla do trabalho.

“Para a maioria das pessoas, no balé você precisa ter um corpo esbelto, magrinho, todo definido, diferente de outras modalidades, e eu vim pra quebrar esse tabu, mostrar que pra dançar não precisa de padrões, você consegue dançar sim, tudo é possível quando a gente quer, uma prova são elas que estão desenvolvendo esse trabalho e evoluindo a cada dia. Damos uma atenção especial por acreditar na capacidade das pessoas”, garantiu Carlisle.

Atualmente, a escola Petit Dance atende 12 crianças especiais. Mais detalhes sobre as aulas de dança, e reabilitação de crianças especiais e idosos podem ser acessadas pelo número (96) 9 9183-0870.

Professor e coreógrafo José Cosme Carlisle

Inclusão por meio da dança

Dhemili, de 13 anos, ajuda a amiga Elizangela, de 30 anos

Mais de 300 atendimentos por semana no CER

Programação

As atividades para marcar a passagem do Dia da Pessoa com Deficiência Física aconteceram no Centro Especializado em Reabilitação (CER), da rede municipal de saúde, localizado na Rua das Pupunhas, n° 650, bairro Açaí.

Além da apresentação de balé, ocorreu rodada de palestras com temas relacionados aos direitos da pessoa com deficiência e o ‘capacitismo’, com o objetivo de conscientizar os participantes a respeito do emprego incorreto de alguns termos da língua portuguesa, que podem ser ofensivos para a pessoa com deficiência. Houve ainda atividades esportivas e lúdicas.

O CER oferece um atendimento multidisciplinar. São cerca de 300 atendimentos por semana.

Seles Nafes
Compartilhamentos
Insira suas palavras de pesquisa e pressione Enter.
error: Conteúdo Protegido!!