O “fique em casa” é o responsável pela inflação?

O Portal SN entrevistou o economista e professor Antônio Teles Júnior, da Universidade Federal do Amapá sobre o tema.
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Por MARCO ANTÔNIO P. COSTA

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) divulgou, no dia 8 de outubro, que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulou 10,25% nos últimos 12 meses. É uma marca histórica, que faz o brasileiro e o amapaense sentirem no bolso o preço dos alimentos, combustíveis, energia elétrica e outros itens.

Nos debates acerca da pressão inflacionária tem sido comum, inclusive nas declarações do Palácio do Planalto, a afirmação de que o isolamento social, o popular “fique em casa”, adotado por quase todos os governadores do país, é o grande causador da inflação.

O Portal SelesNafes.com entrevistou o economista Antônio Teles Júnior. Ele é mestre em economia, professor da Universidade Federal do Amapá (Unifap), e, atualmente, é diretor-presidente da Agência de Desenvolvimento Econômico do Amapá.

O “fique em casa” é o responsável pela alta inflação que atinge o país nesse momento?

‘Fique em casa’ nada tem a ver com a inflação. Os países que fizeram o distanciamento social rígido são os que têm a maior recuperação pós-pandemia. Há uma elevação dos preços internacionais de commodities em decorrência da retomada da economia mundial. No Brasil, além desse fenômeno, existem as incertezas inerentes à política fiscal e à agenda de reformas. Com isso, mais capitais saem do país, o que pressiona o câmbio, a crise de desconfiança agrava ainda mais a inflação.

Por mais que o Governo eleve os juros, ainda assim, o efeito é limitado sobre a inflação. Lembrando que já estamos em um período de elevado nível de desemprego. Desse modo é necessário a apresentação de uma política fiscal mais consistente para garantir solidez aos fundamentos da economia e reduzir as incertezas.

Na sua opinião, quais medidas o governo federal poderia adotar no curto prazo? E quais as saídas de fundo?

Primeiro, tem que parar de gerar crise política, seja com o Judiciário ou [com] o Congresso. Em segundo lugar, fazer um esforço político junto à base para aprovar as medidas que se referem ao ajuste fiscal, em especial a reforma administrativa e a tributária (da última vez o esforço do Executivo foi pra tentar passar o voto impresso).

Além disso, fortalecer os instrumentos já existentes, tais como o teto de gastos e a política de desestatização. Essas medidas ajudariam a reduzir as incertezas e servem para reduzir as expectativas de elevação da inflação.

A política monetária através do Banco Central está reagindo, mas tem seu efeito limitado na medida que os preços internacionais continuam a se elevar. Somente restabelecendo a credibilidade dos instrumentos de política econômica é possível amenizar a crise inflacionária.

“O governo não sinaliza para a agenda de reformas. Está muito mais preocupado em ampliar os gastos antes de dezembro com o novo Bolsa Família”

Faltando um ano para as eleições, você hoje tem expectativa de que o governo ainda possa dar esse giro e parar de gerar suas próprias crises e colocar a economia no rumo correto?

Acho difícil. O governo não sinaliza para a agenda de reformas. Está muito mais preocupado em ampliar os gastos antes de dezembro com o novo Bolsa Família e na negociação dos precatórios, medidas que ampliam os gastos. O olhar agora é na eleição, por isso que a todo instante o governo tenta emplacar uma justificativa para sua inépcia, argumentos escapistas, como esse em que se atribui a inflação as medidas de controle da pandemia.

Seles Nafes
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