Por MARCO ANTÔNIO P. COSTA
Quando ela nasceu, em fevereiro de 1916, o mundo ainda estava sob a primeira grande guerra, um czar ainda governava a Rússia e o Brasil ainda respirava seus primeiros anos como uma República. Josefa Lina da Silva, aos 105 anos, é a mais antiga moradora do bairro do Laguinho e a principal referência das tias do Marabaixo.
Apesar da idade e da perda completa da visão, sua memória é impressionante. Em 2019, aos 103 anos, Tia Zefa recebeu a reportagem do Portal SelesNafes.com pela primeira vez e neste 20 de novembro de 2021, dia da Consciência Negra, rememorou cantigas, ladrões e histórias de quando ainda era criança em Macapá.
Disse que lamenta mesmo somente é não ter mais forças para trabalhar. Tia Zefa cantou e contou histórias, como a do primeiro avião que pousou em Macapá, trazendo a bordo a freira Irmã Catita e que acabou virando ladrão de Marabaixo nos versos do Sr. Eufrásio.
A música de quase 100 anos de composição, ela lembra bem e contou como todos na cidade ficaram assustados quando viram o avião “que ia na terra e na água”. A memória não traiu a marabaxeira e de fato remonta destes anos 1922/1923, os primeiros registros de aviões em Macapá, certamente anfíbios, provavelmente catalinas.
“O que que eu posso fazer? Não posso ficar contra nada. Tirar a vista, não foi Deus quem fez. A gente quando nasce, já traz o tempo que tem que passar por aquela crise, o nosso pai do céu sofreu por nós, a gente tem que compreender que nós não ficamos aqui para sempre, a gente tem que morrer. Coragem. Eu me levanto e as meninas falam ‘mamãe ainda está cedo, venha deitar’, mas eu fico cuíra querendo me levantar. Quem tá acostumada, quem já trabalhou daqui pro curiaú de pé, é difícil ficar parada”, finalizou Tia Zefa.