Por MARCO ANTÔNIO P. COSTA
No Amapá, talvez pelo imaginário popular de associar o nome “favela” aos morros cariocas ou à periferia de São Paulo, o termo não é muito usado. No entanto, há muitas favelas no Amapá e nesta quinta-feira (4) a Central Única das Favelas (Cufa), ocupou uma delas para comemorar o “Dia da Favela”.
Durante a tarde, moradores das pontes da Rua das Estrelas, no bairro Jardim Marco Zero, zona sul de Macapá, receberam cestas básicas e atividades culturais para marcar a data.
A Cufa entregou, em um projeto que tem a parceria com Companhia Vale do Rio Doce, 96 cestas básicas, distribuídas para famílias que estão em condição de vulnerabilidade social. Elas foram cadastradas e receberão este auxílio por seis meses.
Ao entrevistar a senhora Darlinda Maria de Souza, de 73 anos, com muitas pessoas ao redor, todas confirmaram, em uníssono: há dias em que falta a proteína na mesa ou que algumas famílias têm apenas o mingau de farinha, o popular “chibé”, para comer. A ajuda, portanto, chega em boa hora, garantem.
“Na minha casa sou apenas eu e um neto, meu marido morreu. Não recebo aposentadoria e o meu neto trabalha, às vezes, com meu filho. É essa ajuda que eu tenho. Aqui na comunidade tem muita gente que ajuda. Tem dia que não tem a mistura, a carne, e tem muito desemprego”, contou a senhora, que recentemente foi operada de catarata e está com a visão bastante comprometida.
Segundo a assistente social Alzira Nogueira, uma das coordenadoras da Cufa Amapá, ainda há no Estado algum tipo de resistência em utilizar-se o termo favela como ele deve ser usado: uma ocupação irregular de terrenos (públicos ou privados), onde a população tem acesso precário aos serviços públicos e essenciais.
Essa definição do IBGE e dos estudiosos das urbanidades, é a que cabe, por exemplo, na maioria das áreas de pontes de Macapá.
“Essa resistência favorece a invisibilidade e omite as negligências históricas com as populações periféricas. O Dia da Favela é um dia de reflexão sobre as condições de vida das pessoas que ocupam esses territórios. Mais do que comemorar, queremos chamar a atenção para os problemas enfrentados por essas populações, trazendo à luz as negligências históricas com as favelas brasileiras”, explicou Alzira.
Além da distribuição de cestas, shows de rap com diversos MC’s que têm na sua produção a favela como centro de inspiração e principal objeto, também foram distribuídos absorventes íntimos na comunidade.