Por MARCO ANTÔNIO P. COSTA
Na última segunda-feira (8) o maior estado do país, São Paulo, não registrou nenhuma morte por covid-19. É a primeira vez que isso ocorre desde que pandemia chegou ao Brasil. No Amapá, estamos há duas semanas consecutivas sem óbitos e os demais dados são todos animadores.
Nas últimas cinco semanas houve o registro de apenas um óbito; taxa de letalidade de 1,61, maior apenas que de Roraima, enquanto que a taxa nacional é de 2,79; o ritmo de transmissão, está em 0,91, dentro do padrão indicado pela Organização Mundial da Saúde (OMS); a taxa de ocupação de leitos de UTI no setor público é de 18% e no setor privado de 0%; 14 municípios estão com risco considerado baixo e Laranjal do Jari, muito baixo; a pontuação do Amapá no índice de classificação de risco do Ministério da Saúde é 5, ou seja, risco baixo; apenas Oiapoque destoa destes números, com 58% dos casos positivos no Amapá entre os dias 31 de outubro e 6 de novembro.
Diante deste cenário animador, com o avanço da vacinação, entrevistamos Dorinaldo Malafaia, que está à frente da Superintendência de Vigilância em Saúde (SVS) durante toda a pandemia. Perguntamos se estamos diante do fim da crise, sobre o uso de máscaras, grandes eventos e outros pontos. Acompanhe.
A média móvel de mortes em todo o país diminuiu bastante. São Paulo não registrou mortes nesta segunda-feira (8). O Amapá também está sem óbitos há duas semanas. A pandemia acabou?
Infelizmente, não. Os reflexos desses bons resultados neste momento são desdobramentos de um conjunto de ações tomadas nos últimos meses que vão desde as ações não farmacológicas, como medidas de proteção, mas, sobretudo, da produção nacional e aplicação de vacinas no braço da população brasileira.
Temos alertas emitidos pela OMS que já referem preocupação quanto à baixa cobertura e lentidão na vacinação e também do relaxamento total de medidas protetivas, como a não obrigatoriedade do uso de máscaras em alguns países da Europa.
Em nosso país, com a última portaria do Ministério da Cultura que desobriga a vacinação para pessoas que frequentam grandes eventos, grandes aglomerações, nos parece um erro e um risco ao retorno de surtos no país.
Países da Europa estão retomando medidas de isolamento após o crescimento de casos. O que está acontecendo? O Brasil corre esse mesmo risco?
No final de setembro, o centro europeu de controle da covid já havia alertado sobre esse risco. Aconteceu por conta das taxas insuficientes de vacinação, porque relaxaram demais a flexibilização e também pela variante Delta, muito mais transmissível que a primeira covid-19. Se não vacinarmos, sim, o risco existe.
Várias cidades brasileiras liberaram ou estão discutindo liberar o uso de máscaras. Você acha prudente? Acha que o Amapá irá seguir este caminho?
Acho imprudente essa medida. O centro de operações em emergência – COESP, que eu presido, tem avaliado e acompanhado tais flexibilizações, neste momento, inclusive, participo em Brasília de várias reuniões, entre elas com a Opas [Organização Panamericana das de saúde], exatamente avaliando o cenário atual da pandemia e os riscos iminentes. Nossa posição é de ampliar ao máximo a cobertura vacinal completa e antes do carnaval, manter as medidas de uso de máscaras, sem retroceder até que tenhamos mais de 80% de vacinados em um cenário geral, que implica em avaliação de riscos externos e fronteiriços em baixa.
Quais são as medidas de segurança que a SVS pretende manter por mais algum tempo?
A manutenção das medidas sanitárias, como distanciamento e sobretudo do uso de máscaras são fundamentais, até que tenhamos um quadro de saída do status de pandemia, até chegarmos ao status de endemias para que possamos de fato flexibilizar. Temos a clareza de mediar essas relações na sociedade com o máximo de educação em saúde. Entendemos que a vida deve seguir e que se exaure as medidas do “fica em casa“. Temos que acelerar a vacinação.
A vida em sociedade, passados dois anos de enfrentamento, mais de 600 mil vidas perdidas, segue… As pessoas se recriam e precisamos seguir. No entanto, para nós dos órgãos sanitários devemos seguir vigilantes e buscando conter ao máximo os excessos.
Shows estão acontecendo no Amapá e grandes cidades como Rio de Janeiro e Salvador vão ter carnaval. Qual a sua opinião sobre isso? E no Amapá?
Todos gostamos do carnaval, para termos mais segurança precisaremos avançar ao máximo nos próximos meses e vacinar muita gente pra proteger ao máximo e gerar um efeito coletivo na população.
Os eventos devem ter protocolos que levem em consideração a prioridade da vacinação, neste sentido, retorno ao raciocínio anterior: é um erro a portaria do Ministério da Cultura que flexibiliza a cobrança de cartão de vacina pra frequentadores de eventos.