Professor da Unifap participa de pesquisa que busca cura para a covid-19

Compostos são encontrados com facilidade na região e geraram resultados promissores
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Por MARCO ANTÔNIO P. COSTA

Um estudo inédito sobre a busca de produtos naturais úteis para o combate da SARS-Cov 2, o coronavírus que causa a covid-19, coordenado pelos pesquisadores Cleydson Breno Santos, da Universidade Federal do Amapá (Unifap) e Samuel Pita, da Universidade Federal da Bahia (UFBA), foi recentemente publicado na prestigiada revista International Journal of Molecular Sciences (Factor de Impacto 5.923 e classificação WebQualis A).

O artigo intitulado “Natural Products-Based Drug Design Against SARS-CoV-2 Mpro 3CLpro” que também teve a colaboração dos pesquisadores Rai C. Silva, Humberto F. Freitas, Joaquín M. Campos, Njogu M. Kimani, Carlos H. T. P. Silva, Rosivaldo S. Borges, propôs o emprego de uma série de estratégias computacionais que permitiram selecionar moléculas promissoras para o bloqueio de uma proteína importante para a maturação e multiplicação do vírus.

O Portal SelesNafes.Com conversou com o professor Dr. Cleydson Breno Santos, que é do colegiado de ciências biológicas da Unifap, sobre os primeiros resultados da pesquisa, do seu desenvolvimento e dos próximos passos a serem tomados. Acompanhe.

Vocês estão atrás de uma cura para a covid-19?

Todo processo de desenvolvimento de um medicamento tem por finalidade a cura ou a redução do impacto de uma doença sobre um paciente. Nossa pesquisa está engajada nas etapas iniciais de desenvolvimento de fármacos em que se busca identificar moléculas com capacidade de bloquear uma proteína importante para a maturação do SARS-Cov2 (Mpro) no hospedeiro, portanto, objetiva impedir que o vírus se prolifere gerando efeitos mais graves aos pacientes infectados.

Como funciona a pesquisa? De onde os pesquisadores retiraram as substâncias que estão testando?

O estudo reuniu pesquisadores da Unifap, Universidade Federal do Pará (UFPA), Universidade Federal da Bahia (UFBA) e Universidade de São Paulo (USP Ribeirão Preto), além de colaboradores estrangeiros da Espanha (Universidade de Granada) e do Quênia (Universidade de Embu), no qual as moléculas empregadas foram obtidas a partir do banco de dados de produtos naturais do Semiárido Baiano, catalogadas por pesquisadores da Universidade Estadual de Feira de Santana-BA.

Essas moléculas são originadas do metabolismo de plantas comuns da região, as quais foram isoladas e caracterizadas quimicamente. Os produtos naturais foram então preparados para uma triagem virtual, contudo, nem todas poderiam ser utilizadas clinicamente por apresentarem propriedades indesejadas, por exemplo, toxicidade. Assim, algumas dessas moléculas foram prontamente descartadas do estudo. Em seguida, identificamos regiões (sítios) da proteína Mpro que poderiam se ligar aos produtos naturais restantes e determinamos a afinidade entre essas moléculas e a região identificada por meio de uma técnica denominada acoplamento molecular. Por fim, as 5 moléculas com maior afinidade tiveram seus comportamentos e estabilidade dentro da proteína simulados computacionalmente permitindo identificar dois produtos naturais que apresentaram maiores chances de bloquear a proteína Mpro do SARS-Cov. 

Na ordem: Raí Campos Silva (UFPA), Njogu M. Kimani (Quênia), Carlos H. T. P. Silva (USP/Ribeirão Preto), Joaquín M. Campos (Grana/ Espanha), Humberto Fonseca de Freitas (UFBA), Rosivaldo S. Borges (UFPA), Samuel Silva Pita (UFBA), Cleydson Breno Santos (Unifap)

Como foram os resultados até o momento?

De um conjunto de 550 moléculas derivados de produtos naturais, identificamos 10 moléculas que podem se ligar a regiões importantes da proteína Mpro de SARS-Cov e bloquear a ação dessa proteína. Estudos de interação proteína-molécula mostraram que duas moléculas são promissoras como inibidores da proteína e podem ser empregadas para ensaios que permitam estimar a potência e eficácia delas para matar o vírus ou evitar sua multiplicação. Os resultados são animadores, pois muitos compostos identificados são frequentemente encontrados na flora brasileira e podem ser a base para a continuação de diversos outros estudos.

Quais os próximos passos?

Uma vez identificadas as moléculas com maior chance de bloquear a Mpro do SARS-Cov, a etapa seguinte é estabelecer parcerias com setores públicos e privados para a realização de ensaios in vitro e in vivo que permitam confirmar a atividade e eficácia dessas substâncias, a fim de avançar na solicitação de patentes e no planejamento de novos fármacos úteis para covid-19. Estas últimas etapas, porém, necessitam de novos investimentos como qualquer outra pesquisa realizada em âmbito nacional e internacional.

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