Amapari: com coceira e sem peixes, ribeirinhos buscam solução junto ao MPF

Eles vivem da agricultura na comunidade de Igarapé Xivete, região ligada ao Rio Amapari, no centro-oeste do Amapá.
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Por RODRIGO ÍNDIO

Arnaldo Viana de Almeida, de 53 anos, vive da agricultura na comunidade de Igarapé Xivete, região ligada ao Rio Amapari, no centro-oeste do Amapá, e que apresentou, nos últimos dias, contaminação da água gerando mortandade de peixes e outros animais, além de prejuízos à população.

O ribeirinho mora desde que nasceu no local. É casado, pai de 8 filhos e avó de 13 netos. Devido ao contato diário com a água contaminada, começou a apresentar problemas de saúde, mais especificamente de pele.

“De domingo pra cá, quando achamos o peixe na boca do Igarapé, estou com coceira e ardência na pele. Eu me lavava com a água. Somos desempregados. Vivemos daquilo. A contaminação é bem na frente do meu terreno. A gente utilizava até pra beber essa água, agora estamos a Deus dará”, relatou.

Quem também está inseguro e sem saber o que fazer é Edvan Souza da Silva, o Maranhão, de 53 anos. Ele vive da pesca, mas suas malhadeiras e outros materiais de trabalho estão guardados devido a proibição da atividade.

ribeirinhos se juntaram ao Movimento dos Atingidos por Barragem para fazer a denúncia

Ribeirinhos protocolaram um documento…

… que aponta relatos, denúncias, indícios e possíveis causas. Fotos: Rodrigo Índio/SN

“E agora, como vou comer? Não tem mais peixe, a água tá poluída e a análise não consta nada. Estamos esquecidos, a empresa virou as costas pra gente. Mesmo morando na beira do rio, passei três dias sem água para fazer as coisas, depois uma agente de saúde me deu. Estou pensando porque deram uma cesta com duas latas de sardinha e uma de conversa, aí não tem condições. Queremos ajuda”, desabafou.

Arnaldo e Maranhão estiveram nesta segunda-feira (6), junto com outros moradores e o coordenador do Movimento dos Atingidos por Barragem (MAB), professor Moroni Pascale, no Ministério Público Federal, em Macapá. Eles protocolaram um documento que aponta relatos, denúncias, indícios e possíveis causas.

Arnaldo: “A gente utilizava até pra beber essa água”

Ele mostrou no braço a região de coceira e ardência na pele

“Ouvimos a comunidade, que está reclamando não ser assistida. Essas famílias não têm de onde tirar seu sustento porque não podem utilizar a água do Igarapé de maneira nenhuma”, disse Pascale.

Ele e sua comissão estiveram na região afetada e detalha que a mortandade aconteceu onde desemboca o Igarapé do Areia, que vem da Mina Tucano e chega pra baixo do Igarapé Xivete.

Maranhão: “E agora, como vou comer? Não tem mais peixe, a água tá poluída e a análise não consta nada”

“Pra cima do Xivete não aconteceu morte de peixe. Estamos denunciando também que têm fissuras, a água passou por cima da barragem e fez um buraco na parte jusante na barragem que desaguou no Igarapé Areia. Cerca de 200 famílias estão afetadas”, acrescentou Pascale.

O alerta pede, ainda, a fiscalização urgente na barragem Tucano e nas demais para que outros municípios não sejam afetados. O pedido que reforça que os causadores sejam responsabilizados foi protocolado no início da tarde.

Pascale: “Estamos denunciando também que têm fissuras, a água passou por cima da barragem e fez um buraco na parte jusante na barragem que desaguou no Igarapé Areia”

“Acreditamos, pelo o que estamos vendo, que o lucro está acima da vida nesse momento. Queremos ao contrário, que a vida seja respeitada nessas comunidades que estão sendo penalizadas lá por esses grandes empreendimentos”, concluiu o coordenador do MAB.

Seles Nafes
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