Por SELES NAFES
Um dos nomes mais conhecidos do combate à corrupção no Amapá, o promotor de justiça Afonso Guimarães, acaba de se aposentar após décadas de Ministério Público e de centenas de ações penais, a maioria contra políticos. Ele conseguiu a prisão de muitos, mas outros vêm conseguindo ganhar sobrevida graças à quase interminável possibilidade de recursos do Brasil. Agora, o ex-chefe de operações como Eclésia e Caminhos de Ferro, que investigaram o desvio de milhões da Assembleia Legislativa, quer ter uma cadeira dentro do parlamento.
O promotor aposentado surfa numa onda de renovação dos quadros políticos iniciada em 2018, quando ex-membros do Judiciário, MP e polícias em todo o Brasil entraram para a política e foram eleitos.
No Amapá, além dele, outros nomes seguem essa mesma vibe, como o ex-promotor Adilson Garcia e a ex-desembargadora Sueli Pini, que se filiaram ao PSC e ao PRTB, respectivamente. O Portal SelesNafes.Com conversou com Afonso Guimarães.
O senhor vai mesmo entrar na política?
Estou analisando. Se eu encontrar um partido que aceite minhas ideias, irei disputar as eleições.
Por que tomou essa decisão?
Porque considero a política um meio pelo qual é possível fazer as transformações necessárias capazes de colocar o poder público a serviço das pessoas e não o contrário, como tem sido ao longo da história da República, onde o povo, embora sustente uma máquina extremamente pesada, sempre fica em segundo plano.
O senhor vai usar o combate à corrupção como carro-chefe do discurso em busca de votos?
O combate à corrupção deve ser o pilar de toda atuação política. Partindo desse princípio, a busca por recursos públicos em apoio ao estado e municípios, por exemplo, fica muito mais eficiente, pois não haverá por parte do político a prática da propinagem.
Como seria a sua atuação como parlamentar?
Uma atuação política poderá ser alicerçada em 3 frentes: combate à corrupção, aprimoramento da legislação criminal brasileira e captação de recurso para estado e municípios (sem cobrança de propina).
Com quais partidos está conversando para se filiar?
Com alguns. Nota do editor: existem conversas bem adiantadas com o PTB
Quantos anos o senhor passou no MP?
Quase 20 anos de MP
Que lições tirou?
Aprendi muita coisa, especialmente que o MP deve se dedicar ainda mais ao combate à corrupção.
O senhor colecionou vários desafetos durante os processos criminais que moveu. Em algum momento o senhor terá que se relacionar com alguns deles. Como o senhor espera lidar com isso?
Nunca deixei o meu trabalho como promotor de Justiça penetrar nas questões pessoais dos investigados ou processados, de modo que não tenho nenhum problema com eles. O respeito é uma via de mão dupla. Quem respeita merece respeito.
Por certo, que eu buscarei me relacionar politicamente com aqueles que tem o interesse público como balizador das suas ações.
Por que se tornar político, um agente público tão desacreditado pela população?
Não é a política que torna o político desacreditado pela sociedade, é a sua maneira de atuar. Se o político colocar o interesse público na frente das suas ações, ele será respeitado.