Para a mãe deve doer, e muito

Falta de empatia pelos pais de presos tem gerado ofensas nas redes sociais
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Por SELES NAFES

A foto e a cobertura jornalística sobre o surto de epidemia de gripe dentro das cadeias do Instituto de Administração Penitenciária do Amapá (Iapen) geraram opiniões pra lá de controversas nas redes sociais. A máxima do ‘bandido bom, é bandido morto’ mais uma vez ficou evidente entre os internautas, mas o que chamou mais atenção foi a opinião e ofensas à mãe que desabafou ao ver a foto do filho carregado doente em um carrinho de cargas dentro do presídio para ser levado a uma unidade de saúde. Empatia faz falta. E não falo de empatia pelo preso, mas pela mãe dele.

É claro que antes de ser bandido o jovem tem escolhas, assim como todos nós. Esse negócio de dizer que a vida é mais severa com uns a ponto de não oferecer nenhuma oportunidade não é totalmente verdade. A maioria tem, sim, opções ao longo da vida para escolher que caminhos trilhar. Por mais que a vida seja difícil e a luta pela sobrevivência seja diária, temos muitos exemplos de pessoas que superam todos os obstáculos. Já fizemos dezenas de reportagens sobre isso, como a história do jovem que caminhava 10 km até a faculdade, ou do jovem de uma área de pontes que hoje é advogado, do jovem que estudava para entrar em cursinhos, e por aí vai…

Mas por que essas pessoas conseguiram? Foram escolhidas a dedo por Deus? Pelo destino? Não acredito nisso. É claro que Deus quer o melhor para nós, mas também precisamos querer mudar nossos destinos.

Dito isso, é preciso entender que nenhuma mãe ou pai cria o filho para ser bandido. É claro que a negligência existe, pois nem todos nasceram para ter filhos. Para muitos, faltam vocação, amor, bom-senso, preocupação e empenho na criação. Mesmo quem tem esses adjetivos enfrenta frustrações.

Assistir ao filho colecionar amizades ruins, vícios e depois a amarga vida no crime já são dores que suficientes para dizimar almas e destruir uma família. Esse negócio de morrer de desgosto é a mais pura verdade. 

Doentes, detentos aguardam atendimento no HE: escolhas

Depois de perceber que o filho foi para o lado escuro, deve ser outra dor intensa assisti-lo sendo carregado ou tratado como gado num carrinho de carga. A sensação de fracasso e culpa são bolas de demolição que não deixam nada em pé.

Se o tal bandido merece estar passando por tudo isso, aí é outra discussão. Mas que deve doer em cada mãe ou pai ver a cena, ah, isso deve. Tristeza mata, e de várias formas, assim como a falta de empatia.

Seles Nafes
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