O dia em que Garrincha vestiu tricolor e negro-anil no Amapá

O craque do passado Aldemir França contou em detalhes como foi um dos melhores dias do futebol amapaense em Macapá.
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Por MARCO ANTÔNIO P. COSTA e MARCELO GUIDO

Manoel Francisco dos Santos, Mané, o Anjo das pernas tortas, a Alegria do povo ou, simplesmente, Garrincha, um dos maiores jogadores de futebol de todos os tempos, jogou no Amapá, no já longínquo 12 de agosto de 1973.

Era domingo e o palco foi o histórico Glicério Marques, quando Mané jogou o primeiro tempo pelo Ypiranga e o segundo tempo pela equipe do São José, os dois principais times de futebol de então.

Quem nos conta um pouco dessa história é Aldemir França, arisco camisa 10 do Clube da Torre, que diz com emoção que jogar – primeiro ao lado e depois contra Garrincha –, foi uma das maiores honras que já teve na vida.

Nesta época, Garrincha tinha recém encerrado sua carreira profissional e fazia jogos de exibição em vários Estados do país.

O futebol da década de 1960/70 não pagava as vultosas quantias que paga hoje em dia para as estrelas, nem mesmo para o Mané, um dos responsáveis pelo título da Copa do Mundo de 1958 e o principal jogador da campanha vitoriosa da Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 1962. Além disso, ele já enfrentava a doença do alcoolismo, mas, mesmo assim, uma vez craque, para sempre craque.

Leorimir, Garrincha e Bill Maravilha. Fotos: Arquivo Pessoal

Aldemir França contou que Garrincha foi trazido e recebeu 4 mil cruzeiros da associação dos cronistas esportivos que existia à época. Veio de Fortaleza (CE) e daqui seguiu para jogar em Belém (PA) no Remo e Paysandu.

Sobre o jogo, França contou.

“No primeiro tempo do jogo, ele não foi muito acionado. No segundo tempo, trocou e foi pro São José, e quem foi marcar ele foi o Pitéu, por isso que dizem que o João [o termo João era dado àqueles que Garrincha driblava] amapaense é o Pitéu. Ele deu um drible, primeiro fez que ia no fundo, depois ele trouxe a perna fazendo que ia pro meio e o Pitéu, que era canhoto, veio com tudo, tirou o pé do chão, aí ele levou pro fundo e fez aqueles cruzamentos dele, que foi certo na cabeça do Delmir, que fez o gol”, contou Aldemir França.  

Prefeito Cleyton Figueiredo, Jarbas Gato, Luiz Melo, Garrincha, Almir Menezes e Estácio Vidal Picanço

Também houve outro lance de destaque do Mané.

“Teve uma falta, no fundo. Ele jogou os dois tempos virado pra lá [atacando para a direção de onde hoje fica o quartel dos bombeiros], porque ele trocou de time, né, aí, ele bateu e nosso goleiro, acho que era o Arnoldo Redig, ficou olhando e a bola pegou no travessão, perto da gaveta, e voltou quase para o meio campo, foi um chute violento”, relembrou com saudosismo o ex-jogador.

Em pé: Bandeirantes, Merendinha, Arnoldo Redig (in memorian), Damasceno, Marta e Pitel. Agachados: Miltinho (in memorian), Dilermano (in memorian), Aldemir França, Leonardo e Bill Maravilha. Técnico: Chefe Humberto Santos

O jogo acabou 2 x1 em favor do São José. Delmir marcou os dois gols pelo mais querido do Bairro do Laguinho e Bill Maravilha foi quem anotou para o Ypiranga. Acabou ganhando aquele time em que o Mané jogou melhor, no segundo tempo.

Foi uma grande festa e celebração ao futebol e a um craque. Aldemir falou que Garrincha era simples, divertido, alegre e que, naquele dia, confraternizou com todos os jogadores no pós-jogo.

Índio e curió

Aldemir França contou que Garrincha ficou hospedado no principal hotel da cidade, que por anos foi da franquia Novotel, bem em frente à orla de Macapá. Na noite de sábado – anterior ao jogo – Garrinha recebeu a visita, dentre outras pessoas, do jornalista João Silva. Dessa visita, contou-se uma história em Macapá.

Aldemir lembra com nostalgia daquele dia: “foi uma grande emoção”

“Foram falar com ele no hotel Macapá, encontraram ele sentado, já tinha feito amizade com um índio, que nem sabia quem ele era. O índio tinha um curió que cantava muito e o Garrincha era apaixonado por passarinhos. Imagina encontrar um grande astro do nosso futebol batendo papo com um índio, vendo um curió cantar”, relembrou França.

Garrincha faleceu em 1983, no Rio de Janeiro e seus lances e genialidade, seja jogando pelo Botafogo ou pela Seleção Brasileira, são sempre lembrados como parte dos melhores momentos que o futebol já teve.

Sobre a emoção de jogar com Garrincha, Aldemir foi categórico.

“A gente recebia as coisas aqui, com muito atraso, pelo Canal 100, que passava o compacto dos jogos antes dos filmes começarem. A revista Placar também chegava, mas com muito atraso também. E, de repente, a gente está vendo o cara na tela de cinema e depois estamos passando a bola pra ele, foi uma grande emoção”, relembrou o craque de bola, técnico, dirigente de futebol e parceiro de Garrincha, Aldemir França.

Seles Nafes
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