“Uma gota no oceano”, diz ribeirinho ao salvar peixes após manobra em comportas

Vídeo que registra a ação de ribeirinhos viralizou nas redes sociais do Amapá. Caso ocorreu no Rio Araguari, a 112 km de Macapá.
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Por ANDRÉ SILVA

O registro em vídeo de moradores da comunidade Sapo Seco, localizada no município de Porto Grande, a 112 quilômetros de Macapá, salvando peixes no Rio Araguari chamou a atenção nas redes sociais e reascendeu a polêmica sobre a mortandade dos animais desde que a Hidroelétrica Cachoeira Caldeirão passou a operar no município.

O flagrante, que não é novidade, foi gravado pelo ribeirinho identificado apenas como Cutião. Ele diz que todos os anos, desde que a HUE passou a funcionar, os peixes que ficam para trás depois da abertura das comportas têm que ser tirados e, após o fim da manobra, devolvidos ao rio, senão eles morrem.

“Isso é uma gota no oceano. Mas a gente faz a nossa parte. Antes da Cachoeira Caldeirão a natureza se encarregava de puxar esse peixe pro rio. Agora a água cresce, no tempo da chuva, e a Cachoeira suga ela em uma velocidade tão grande, que não dá tempo do peixe descer. Ele acaba ficando nas partes mais fundas e consequentemente, morre”, explicou em tom de protesto o ribeirinho.

O Movimento Atingidos por Barragem recebeu a denúncia dos ribeirinhos, que afirmam este ano já terem morrido mais peixes que em 2021. A entidade protocolou uma denúncia no Ministério Público de Porto Grande, pedindo providências.

“Muitos peixes morrendo. Os moradores estão tentando salvar os que ainda estão lutando para viver. Sabem da importância dessa ação, para as comunidades ribeirinhas e pescadores que tiram seu alimento e sustento do Rio Araguari. Salientamos que são unânimes em afirmar que esse sinistro não ocorria antes da construção da Cachoeira Caldeirão”, alegou o presidente do MAB, Moroni Atiba.

Baixa oxigenação

A mortandade de peixes está ligada à operação de hidroelétricas em rios de todo o mundo. No Brasil este fenômeno foi estudado por cientistas ambientais das Universidades Federais do Pará e de Tocantins e da Universidade estadual de Maringá, no Paraná.

O estudo foi publicado em 2021 pela ONG WWF, e pesquisou 251 eventos em rios de água doces da bacia hidrográfica brasileira, onde havia registro de mortandade entre os anos de 2010 e 2020.

Quando a maré sobe novamente, peixes são devolvidos ao rio. Fotos: Reprodução

A pesquisa apontou que a abertura das comportas para liberar água do reservatório, tanto para regular a vazão do rio quanto para facilitar o funcionamento das turbinas com a remoção de plantas aquáticas, por exemplo, está ligada à mortandade dos peixes, porque segundo o estudo, o movimento provoca uma supersaturação de gases na água causando a morte dos animais.

Seles Nafes
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