Vítima de escravidão, estupros e tortura, jovem especial tenta recomeçar

Após anos de sofrimento no interior do Pará, Solange foi acolhida por uma família em Macapá e precisa de ajuda.
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Por RODRIGO ÍNDIO

Solange Nunes da Silva, de 22 anos, é uma jovem com necessidades especiais que conheceu a maldade humana de perto.

Órfã de pai e mãe desde criança, por imposição do destino foi parar numa família de bandidos, que lhe maltratou por muito tempo.

Obrigada a trabalhos pesados, em condições análogas à escravidão e estupros coletivos, engravidou de um dos abusadores e viveu sob tortura enquanto perdia a infância e a adolescência.

Agora, após ser resgatada, essa paraense de nascimento está em Macapá, no Amapá, e clama por ajuda para tentar seguir a vida e dar para a filha pequena tudo aquilo que nunca teve: carinho, amor e oportunidade.

Resgatada com a filha, Solange agora olha para o futuro com alguma esperança. Fotos: Rodrigo Índio/SN

Escravidão e tortura

À base de pauladas, água quente e terçadadas pelo corpo e na cabeça, Solange era forçada a subir em enormes açaizeiros, mesmo estando no 9° mês de gestação, para satisfazer sua senhoria, na comunidade de Rio Moura, distrito da zona rural de Gurupá (PA).

Grávida de um dos estupradores, Solange pariu de noite. Na manhã do dia seguinte, foi obrigada a ir para o açaizal trabalhar. Ela lembra que quando chegou depois de um dia exaustivo na mata, viu a filha, ainda bebê, ser abusada sexualmente. Encontrou a criança com o órgão sexual ensanguentado.

Solange mostra as marcas…

… da tortura …

… que ela carregará para o resto da vida

Sofrimento desde cedo

Solange nunca soube de seu pai biológico e perdeu a mãe quando ainda era criança. Seu tio por parte de mãe passou a cuidar dela. Mas, também faleceu logo. A mulher dele passou a ser sua tutora. Na época, Solange ainda era uma menina – ela não lembra a idade.

Foi justamente essa viúva que, segundo consta em boletim de ocorrência sobre o caso, cometeu os maus-tratos. Os abusos sexuais eram feitos pelos filhos dela. São homens conhecidos na região por serem ratos d’água – assaltantes de embarcações, conforme apontou a denúncia.

Mãe e filha foram abusados pelos “irmãos de criação”

“Ela me batia muito. Fazia de escrava de mim lá. Só me davam as sobras das comidas do prato deles e cabeça de bicho pra comer. Quando doía minha barriga de fome, eu tomava água de sal pra passar um pouco. Malinavam colocando o dedo na minha filha. Eu não aguentava mais”, lembra com dor Solange.

Resgate

O caso foi descoberto quando a vítima relatou tudo a uma mulher, moradora do Amapá, que visitava a comunidade. Por salvação divina, acredita Solange, elas se encontraram.

A viajante gravou todo o relato em áudio e enviou para uma amiga. Essa amiga é cunhada de Natalzira Costa, a dona Nena, de 42 anos, também moradora de Macapá. Ao tomar conhecimento da situação, revoltada, dona Nena denunciou o caso à polícia paraense.

Dona Nena se comoveu e acolheu vítima em sua casa

“A Polícia conseguiu chegar lá, constatou a denúncia e resgataram ela. O povo de lá fugiu. Levaram ela [Solange] para o Conselho Tutelar de Gurupá. Ela disse que queria ficar comigo, porque denunciei o caso. Mandaram ela pra cá. Chegou numa situação muito difícil, mal conseguia andar de tão magra. Ela e a bebê botavam muitos vermes pela boca”, relata dona Nena.

Recomeço

Mesmo sem emprego fixo, Nena acolheu a jovem e a criança em sua casa, no Bairro Vale Verde, zona sul de Macapá. Além de coração bondoso, ela se comoveu com o caso de Solange porque também tem filhos com necessidades especiais.

Quando chegaram a capital amapaense, mãe e filha apresentavam furúnculos e outras feridas por todo o corpo. Não tinham roupas. A situação era deplorável. A bebê, hoje com 2 anos de idade, chegou com apenas 5 calcinhas rasgadas e uma única blusa. Já Solange, só tinha um vestido.

No quarto reservado para Solange e sua filha, só tem uma rede…

… e uma penteadeira improvisada na parede

Mesmo com a boa vontade de Nena, atualmente, no quarto reservado para Solange e sua filha, só tem uma rede e uma penteadeira improvisada na parede. Elas estão precisando de uma cama, um ventilador, roupas e alimentos.

“Contamos com ajuda dos amigos, pois negócio de bolsa [benefício social] eu não ganho. Tenho filhos especiais e um irmão doente. Não tenho condições de ajudar todos, mas a gente se vira como pode. Hoje, ela me disse que queria roupa nova, eu disse que não tinha condição. Me doeu, porque eu queria ajudar. Peço que quem puder, que ajude ela, não quero nada pra mim, mas pra ela e pra criança. Faço isso por amor, o ser humano não precisa passar por isso”, disse, chorando, dona Nena.

Dona Nena mostra a única blusa que a criança tem

Ajuda

Quem tiver interesse e puder ajudar, pode entrar em contato através do número (96) 9 9903-7027, ou ir até à família, na Rua Sapucaia, n° 149, Bairro Vale Verde.

Quem preferir, pode fazer transferência bancária pela chave pix [email protected], em nome de Sebastião Rodrigues Moreira.

“Quem tiver qualquer roupinha velha que não queira, pra mim e pra minha filha, a gente aceita. Estamos precisando e quero que ela tenha as coisinhas dela. Deus vai abençoar vocês”, pediu Solange.

Seles Nafes
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