Por RODRIGO ÍNDIO
O resultado da eleição para a presidência da República continua gerando polêmica e confusão em todos os meios, inclusive o acadêmico.
Uma professora da Universidade Federal do Amapá (Unifap), dona de um dos mais qualificados currículos do corpo docente, decidiu não dar mais aulas a pessoas que tenham vertentes políticas de esquerda.
A decisão teve impacto imediato em alunos do Curso de Farmácia, colegiado do qual ela faz parte e é orientadora de trabalhos de graduação e programas de pós-graduação em mestrado e doutorado.
A reação da professora doutora Sheylla Susan Moreira da Silva de Almeida, autodeclarada apoiadora do presidente Jair Bolsonaro (PL), derrotado pelo candidato eleito Lula (PT), foi compartilhada e denunciada por alunos da instituição.
Em um grupo de WhatsApp, ela declara que não dará mais aula para dois orientandos e que entregará a carta de orientação de ambos.
“Não quero esquerdistas no laboratório”, dispara.
“Se tiver mais algum esquerdista, que faça o favor de pedir desligamento… ou estão comigo, ou contra mim”, acrescenta em seguida.
Uma destas pessoas citadas na mensagem é a professora da Universidade Estadual do Amapá (UEAP), Débora Regina dos Santos Arraes, de 35 anos, que está no 3° ano de doutorado pela Rede Bionorte, instituição vinculada à Unifap.
Ela detalha que Sheylla Almeida tomou a atitude baseada nas publicações que ela e seu colega teriam feito em seus perfis, onde eles declaravam apoio a Lula. Isso teria despertado a ira da orientadora.
“Fui a favor, votei no Lula, fiz postagens em redes sociais. Mas nunca mandei no grupo, nunca mandei para ela, nunca nem conversei e não toquei nesse assunto. O que motivou a atitude dela eu não sei responder. Mas me senti muito abalada, fiquei gelada, meu coração disparado, porque eu senti que isso foi uma violência contra mim, uma violência contra o meu direito, a minha opinião, contra aquilo que eu defendo, contra uma universidade pública de qualidade”, desabafou Débora Arraes.
A doutoranda também diz se sentir constrangida pelos colegas que integram o grupo e têm suas questões políticas e ideológicas, mas não podem se expressar, por receio.
“Sou doutoranda, tenho meu emprego, mas tem alunos lá que são de PET (Programa de Educação Tutorial), IC (Iniciação científica), mestrado, e essas pessoas vivem de bolsa e precisam se submeter a essas condições, e para eles seria uma situação bem mais difícil se ela retirasse eles dessa bolsa porque que é a fonte de renda de sobrevivência, de sustento e a possibilidade de estudo. Então, ninguém respondeu no grupo, ficou todo quieto”, comentou a professora Débora.
Agora, ela vai em busca de um novo orientador para concluir seu doutorado “em paz”.
“Eu não posso permitir que um episódio determine meu futuro”, finalizou.
Sem se identificar, um acadêmico do Curso de Farmácia, coordenado por Sheylla Almeida, apresentou outras denúncias. Ele diz que pelo prestígio e nome na vida acadêmica que ela tem, suas falhas acabam ficando impunes.
“Ela não cumpre nenhum prazo, marca atividades e não aparece ou quando não, desmarca em cima da hora, não é profissional, visto que não sabe separar as coisas. Faz simplesmente tudo o que quer e o colegiado passa pano, sim, porque ninguém tem coragem de bater de frente com ela”, denunciou.
Agora, os alunos pedem providências da Unifap sobre o assunto.
“Nós, como acadêmicos do curso de farmácia não toleraremos mais esse e quaisquer tipos de assédio por parte de professores, técnicos ou acadêmicos. Essa foi a primeira denúncia oficializada e não será a última. Mas o que queremos com isso é cobrar que a Unifap tome as medidas necessárias para coibir esses assédios e atos antidemocráticos dentro da universidade”.
A Ueap lançou nota em solidariedade à professora e doutoranda Débora Arraes, no caracteriza como assédio e opressão por posição política por parte de sua orientadora.
A reitoria da Unifap disse que tomou conhecimento por meio das redes sociais do fato caracterizado como assédio. Falou estar indignada e que contrapõe toda e qualquer forma que reprima o pensamento ou liberdade de acadêmicos e servidores.
“Registra-se que a UNIFAP não concorda com tal conduta e os fatos estão sendo apurados, bem como serão adotadas as providências necessárias após as devidas apurações”, diz a nota.
O portal SelesNafes.Com tenta contato com Sheylla Susan Moreira da Silva de Almeida, que ficou de se posicionar em breve.