Crônica de Natal sobre uma ‘mamãe-enfermeira’

Depois de 25 anos trabalhando em partos, Eliana Maria faleceu no dia 11 de novembro de 2022. Foi sepultada usando seu jaleco
Compartilhamentos

Por JÚLIO MIRAGAIA, jornalista (e filho)

Hoje é véspera de Natal, data que relembra ao mundo o nascimento de Jesus. E por Natal ser nascimento, para mim é impossível não lembrar de minha mãe, técnica de enfermagem que trabalhou como parteira, ela que esse ano partiu.

Dona Eliana Maria Silva da Silva trabalhou por mais de duas décadas pelos corredores do Hospital da Mulher Mãe Luzia, nossa maternidade. Ingressou no serviço público no concurso do Ipesap, no fim dos anos 1990.

Sempre que voltava para casa, depois dos plantões, chegava com uma história das madrugadas: às vezes engraçada, às vezes trágica ou às vezes era apenas uma noite de jornada sem sobressaltos. Os casos eram contados durante o café da manhã, antes que ela fosse dormir.

Eu estudava no começo dos anos 2000 no CCA, e passava o dia na escola por ser do grêmio estudantil. Quando saía, no começo da noite, caminhava pelas calçadas irregulares do Centro, atravessava a Jovino Dinoá e avistava de longe mamãe chegando, vestida de branco, entrando no hospital. Outras vezes, ela já estava lá dentro e a via dentro de uma sala ao lado da recepção. Ela me dava o dinheiro para voltar para casa, de ônibus ou de mototáxi, porque acabava gastando o que levava durante o dia, almoçando e lanchando na escola.

Mamãe, que tantas crianças trouxe ao mundo por suas mãos, este ano não estará fisicamente conosco no Natal. Um câncer no pâncreas, já em fase de metástase, foi descoberto em junho. Foi tudo muito rápido. No dia 11 de novembro, ela se despediu de nós, seus sete filhos, seus netos, bisnetos, amigos, colegas de enfermagem, irmãos, afilhados e tantos mais que a amavam.

Clima bom de trabalho com as colegas da maternidade…

Ingresso no fim dos anos 1990

Dia das Mães, maio de 2022 com 5 dos 7 filhos e amigos

Com 4 dos 7 filhos

Com a irmã/amiga Graça, em agosto de 2020

Reconhecimento da Sesa no dia do falecimento

Foi velada e sepultada com seu jaleco e roupa de enfermagem, a profissão que tanto amava e que se esforçou tanto para conseguir formar, na Escola de Enfermagem São Camilo. A enfermagem foi uma porta que abriu em sua vida para dar melhor condição de vida a todos nós.

É estranho, nesses dias de paisagem chuvosa pelo centro, passar pela Avenida FAB, atravessar a Jovino Dinoá, vindo da direção do CCA, e não mais encontrá-la chegando ao hospital, vestida de branco. Ou vê-la ali, daquela janela com enfeites natalinos, da recepção, conversando e rindo com suas colegas enfermeiras.

Definitivamente, nossa mãe está para sempre nas melhores lembranças. Hoje, mais ainda, porque é véspera de Natal. E Natal é nascimento, matéria-prima do seu ofício, que ela exercia com sincero e transbordante amor. Mamãe nasce todos os dias dentro de nós, que tivemos a felicidade de tê-la por perto.

* Eliana era mãe de Seles Nafes, Lúcio Wellington, Haracéli Thamara, Wagner Marius, André Thiago, Júlio Ricardo (Miragaia) e Júlio Marcelo, todos gratos….

Seles Nafes
Compartilhamentos
Insira suas palavras de pesquisa e pressione Enter.
error: Conteúdo Protegido!!