Sinos de 133 anos podem ser tombados na lendária Cunani

Reconhecimento começou a ser discutido pelo Conselho de Política Cultural do Amapá
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Por SELES NAFES

Os sinos da igreja do Cunani, comunidade centenária situada no município de Calçoene, quase na Guiana Francesa, poderão ser tombados como patrimônio histórico do Estado. O assunto está sendo discutido pelo Conselho Estadual de Política Cultural.

A comunidade do Cunani quase foi um estado independente quando o Brasil ainda era um império comandado por Dom Pedro II.

A vila foi fundada em 1896 (3 anos antes Proclamação da República) por aventureiros franceses e escravos fugitivos, chegando a ter a própria moeda. Segundo historiadores, o “estado” nunca foi reconhecido por França ou Brasil, e acabou não progredindo, chegando a quase desaparecer.

A pequena igreja católica de madeira da vila também sucumbiu com o tempo, e foi substituída por uma de alvenaria que ninguém na vila sabe dizer ao certo quando.

Comunidade fundada por franceses e escravos fugitivos. Fotos: Seles Nafes

Vila hoje tem menos de 50 famílias

Gravura com o ano de 1890. Foto: Rosivan Santos

Rosivan e conselheiros debatem projeto sobre os sinos

Da igreja original, só sobraram os três sinos e telhas de barro fabricadas em Marseille (França), e que são guardadas como tesouros pelos moradores e exibidas aos poucos turistas que aparecem na região.

No caso dos sinos, inscrições gravadas neles demonstram o ano de fabricação: 1890. Além do valor histórico, eles podem ser tombados por outra característica imaterial: a forma como são tocados.

“Ao contrário de outros sinos no mundo todo, eles são tocados com as mãos e possuem notas musicais para cada ocasião de sepultamento ou chamada para a missa. Só existem cinco moradores da vila que sabem tocar dessas duas formas”, explica o documentarista Rosivan dos Santos, que esteve em 2021 na localidade.

Foto de Rosivan em 2021 mostra que a ponte ainda estava inteira…

Foto do Portal SN em abril de 2022: travessia só de canoa

Telhas da antiga igreja fabricadas na Franca e outras relíquias estão em casas de moradores do Cunani

O documentarista apresentou, no último dia 23, o projeto “Os sinos do Quilombo do Cunani badalam a nossa História!”, durante reunião do Conselho Cultural. Os conselheiros ficaram impressionados com o potencial histórico. 

A partir de agora, o processo que poderá resultar no tombamento, ou seja, na proteção e reconhecimento dos sinos do Cunani, será conduzido pela comunidade e Conselho de Política Cultural.

Hoje o Cunani é um vilarejo quase isolado do restante do estado. Por causa do ramal em péssimas condições, chegar ao Cunani a partir da sede de Calçoene pode levar até 2h na época de chuva.

Uma ponte de cabos de aço que já era ruim e desafiadora em 2021 (quando Rosivan esteve na localidade), já não existia em abril de 2022, quando o Portal SN esteve no Cunani. 

Seles Nafes
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