Por SELES NAFES
Os sinos da igreja do Cunani, comunidade centenária situada no município de Calçoene, quase na Guiana Francesa, poderão ser tombados como patrimônio histórico do Estado. O assunto está sendo discutido pelo Conselho Estadual de Política Cultural.
A comunidade do Cunani quase foi um estado independente quando o Brasil ainda era um império comandado por Dom Pedro II.
A vila foi fundada em 1896 (3 anos antes Proclamação da República) por aventureiros franceses e escravos fugitivos, chegando a ter a própria moeda. Segundo historiadores, o “estado” nunca foi reconhecido por França ou Brasil, e acabou não progredindo, chegando a quase desaparecer.
A pequena igreja católica de madeira da vila também sucumbiu com o tempo, e foi substituída por uma de alvenaria que ninguém na vila sabe dizer ao certo quando.
Da igreja original, só sobraram os três sinos e telhas de barro fabricadas em Marseille (França), e que são guardadas como tesouros pelos moradores e exibidas aos poucos turistas que aparecem na região.
No caso dos sinos, inscrições gravadas neles demonstram o ano de fabricação: 1890. Além do valor histórico, eles podem ser tombados por outra característica imaterial: a forma como são tocados.
“Ao contrário de outros sinos no mundo todo, eles são tocados com as mãos e possuem notas musicais para cada ocasião de sepultamento ou chamada para a missa. Só existem cinco moradores da vila que sabem tocar dessas duas formas”, explica o documentarista Rosivan dos Santos, que esteve em 2021 na localidade.
O documentarista apresentou, no último dia 23, o projeto “Os sinos do Quilombo do Cunani badalam a nossa História!”, durante reunião do Conselho Cultural. Os conselheiros ficaram impressionados com o potencial histórico.
A partir de agora, o processo que poderá resultar no tombamento, ou seja, na proteção e reconhecimento dos sinos do Cunani, será conduzido pela comunidade e Conselho de Política Cultural.
Hoje o Cunani é um vilarejo quase isolado do restante do estado. Por causa do ramal em péssimas condições, chegar ao Cunani a partir da sede de Calçoene pode levar até 2h na época de chuva.
Uma ponte de cabos de aço que já era ruim e desafiadora em 2021 (quando Rosivan esteve na localidade), já não existia em abril de 2022, quando o Portal SN esteve no Cunani.