Capiberibe: A verdade sobre o açaí e o abandono do Iepa

Ex-governador afirma que desenvolvimento de produtos do açaí foi interrompido pelo sucateamento do Iepa e suspensão de investimentos
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Por JOÃO CAPIBERIBE, governador do Amapá (1995-2002)  

Entre no google e digite: Açaí 600. Você vai ver e saber que um frasco com 180 cápsulas de antioxidante de açaí, fabricado nos Estados Unidos, é vendido no mundo a preço de ouro. Quanto custa esse frasco que você acabou de ver no google? Varia de acordo com a cotação do dólar, no domingo passado eu vi, estava custando R$ 435,92.  

Ora, mas o que tem a ver esse vídeo com o frasco de Açaí 600? Vou tentar explicar!

O vídeo (abaixo) mostra que governamos o Amapá olhando para o futuro ao assegurar recursos humanos e financeiros para pesquisa e inovação. O IEPA, naquela época, fazia pesquisa aplicada para desenvolver produtos da nossa biodiversidade, alimentícios, farmacêuticos e cosméticos, cujos resultados seriam entregues ao setor privado para processá-los e colocá-los no mercado, gerando empregos qualificados para o nosso povo.

O frasco de Açai 600 mostra que, ao negar recursos para a continuidade das pesquisas desenvolvidas pelo IEPA, uma das primeiras instituições no mundo a pesquisar sobre açaí, o governo que nos sucedeu abdicou do nosso futuro, mas alguém se apropriou dele! Quer saber quem? Então continue lendo.

Na virada do milênio, dois jovens americanos do norte vieram ao Amapá fazer surf nas ondas da pororoca do rio Araguari, fenômeno que deixou de existir em função da ação desastrosa do homem na natureza.

Além de surfar na pororoca esses Jovens conheceram o açaí, experimentaram e gostaram, levaram uma quantidade de polpa para seu país, que dispõe dos melhores laboratórios do mundo, a quem entregaram suas amostras para pesquisa. Festejaram muito quando viram o resultado, haviam descoberto um gigantesco filão de ouro. Se não me falha a memória isso aconteceu em 2001, no comecinho do milênio.

Surf na Pororoca deu origem à primeira fábrica de polpa de açaí do Amapá

Açaí nativo na região de Mazagão: abundância na floresta. Foto: Seles Nafes/Arquivo

Pouquíssimos anos depois de obterem os resultados das pesquisas, dois ou três no máximo, os jovens surfistas da pororoca inauguram sua fábrica de polpas de açaí para exportação, a Sambazon, no município de Santana, a primeira de uma vida empresarial mega bem sucedida. Hoje, o açaí viro commodity e eles, os surfistas da pororoca, bilionários. E no Amapá? O que aconteceu para continuar tão pobre?

No Amapá, o governador que nos sucedeu em 2003, cortou pela metade o dinheiro do IEPA, quer dizer, enforcou a galinha dos ovos de ouro, deixando-nos sem futuro.

Você tem prova do que está afirmando?

Antes que alguém me faça essa pergunta, respondo com dados do Orçamento do Governo do Amapá, prestem bem atenção nessas informações:

“O orçamento do IEPA em 2001, em valores nominais, foi de R$ 6.182.000,00. Em 2023, vinte e dois anos depois, caiu para R$ 5.422.847,00. Na realidade, para manter a estrutura e os projetos em andamento naquele distante ano de 2001, o IEPA precisaria hoje de pelo menos 30 milhões de reais por ano. O valor destinado no orçamento de 2023 é insuficiente para manter a estrutura física e o acervo científico da instituição, o IEPA virou sucata, triste! E o Amapá mergulhou de cabeça no atraso.

Concluo dizendo que lá atrás, ao retirar dinheiro da pesquisa, o governo da época renunciou ao nosso futuro, e os surfistas, como players no mercado global, entraram no vácuo, surfam até hoje em nossa onda violeta do açaí.

Seles Nafes
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