Por ANDRÉ SILVA
Os atores do grupo teatral amapaense Os Desclasificáveis foram constrangidos quando encenavam uma peça na Maternidade Mãe Luzia, no Centro de Macapá, na noite de terça-feira (4).
Um exagrama, símbolo da religião judaica cristã, foi a causa da hostilidade. A estrela foi feita com fita adesiva vermelha no chão da maternidade. Velas de sete dias completavam a estilização do cenário. Foi quando um agressor, um técnico em enfermagem funcionário da unidade, sugeriu que o grupo estivesse fazendo um ritual de candomblé.
As imagens mostrando as atrizes em cenas rodou vários grupos de conversa e as descrições apontavam que se trava de um ritual de umbanda. As informações erradas sobre o fato vinham quase sempre acompanhadas de críticas com intolerância religiosa.
Mas, o espetáculo itinerante “Cristo por Elas” é apresentado desde 2011. A peça relata a história do calvário de Cristo contato do ponto de vista de mulheres que fizeram parte do ministério de Jesus. Entre elas está as personagens de Maria Madalena, Maria – mãe de Jesus –, Marta e Maria, irmã de Lázaro, o ressuscitado, além da mulher Samaritana, a quem Jesus pede água em um poço.
“Ele (o técnico em enfermagem) começou a nos agredir verbalmente, dizendo que era um ritual de umbanda e que aquele era um lugar de trabalho. Aí, uma outra senhora até questionou se era a estrela do Zé Pelintra. A gente até explicou para ela de que não se tratava daquilo e sim que era um símbolo cristão”, explicou o diretor do espetáculo, Paulo Alfaia.
A pesquisa tem como base para a construção dos textos escritos dos evangelhos que não estão na Bíblia cristã tradicional, como o de Maria Madalena, mas incluem texto de João, Mateus e Lucas, onde o relato sobre as personagens é citado. A ideia do espetáculo é trazer o tema do empoderamento feminino ao centro das discussões, como relatou o diretor.
“Mulheres que tiveram suas vozes negadas na história e aparecem em segundo plano. Durante o espetáculo, o próprio rapaz que foi extremamente deselegante, estava assistindo. Isso foi uma falta de conhecimento”, ponderou Alfaia.
A maternidade foi o local escolhido esse ano, segundo o diretor, por se tratar de um lugar onde o papel da mulher na expansão da humanidade fica em evidência.
“As mulheres se identificam com o texto e se emocionam com a apresentação. Elas estavam lá acompanhando com seus filhos”.
Alfaia classificou a situação como constrangedora e machista por parte do agressor. Ele esclareceu que o espetáculo não faz alusão as candomblé e nem à umbanda, mas se fizesse, na opinião dele, não teria importância.
“A ideia da peça é levar uma mensagem de amor e acalento a humanidade. Tanto que a Maria é mãe de Jesus. Eu não sou da umbanda, mas sou um defensor da cultura popular e tradicional, e dos terreiros de matriz africana como espaço de inclusão social e socioambiental. Mas o espetáculo não faz alusão. O preconceito foi justamente por conta da estrela que era vermelha. Teve uma moça que disse que se fosse azul não teria problema (risos)”, finalizou.
O texto Cristo por Elas é de autoria do pesquisador mineiro Junior Storck e foi encenado pela atrizes: Andreia Lopes, Hayam Chandra, Kássia Modesto, Joseanne Karla, Rosa Rente, Suane Brazão.