‘Se dedicando, a gente consegue’, diz mulher que conserta ventiladores

Rosinete já trabalhou na roça e de empregada doméstica antes de aprender o atual ofício, em Macapá.
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Por ANDRÉ SILVA

Cada vez mais as mulheres ocupam espaços onde sempre predominou a presença masculina. Quem levou um eletrodoméstico ao conserto e lá estava um homem no serviço da oficina? Mas paradigmas como esse têm sido quebrados a cada dia por mulheres como Rosinete Silva Guedes, de 46 anos, técnica em manutenção de ventiladores e bombas d’água – ofício tradicionalmente desempenhado por homens.

Nascida no Pará, ela veio da cidade de Breves para o Amapá acompanhada do marido e da filha mais velha. Rose, como é conhecida entre os clientes e familiares, está em Macapá há mais de 20 anos, e, por isto, se considera amapaense de coração.

Ela teve dois filhos, mas perdeu um deles quando ainda morava no interior do Pará: o caçula teve uma gripe forte e, sem recursos para buscar ajuda médica, o menino piorou e morreu.

Ela também sabe dar manutenção em bombas d’água

É com o dinheiro que ela fatura na sua oficina que sustenta a casa

A convite da sogra, após anos de dureza na roça, ela chegou por essas terras tucujus. O esposo logo conseguiu trabalho. Ela, não. Logo depois, um dos irmãos, que já morava no estado, comunicou que havia uma vaga para trabalhar com ele.

O trabalho era pesado: serviço de caseiro. A tarefa não se resumia apenas em tomar conta da casa, mas incluía cultivo de hortas, roçagem, podagem, pequenos consertos de cercas, portas, janelas, enfim, manutenção do ambiente conservado.

Depois disso, surgiu oportunidade como empregada doméstica. Exerceu a profissão até que ficou desempregada. O tempo passou e Rose se separou do marido.

Serviço na oficina dela não para. Fotos: André Silva/SN

Anos depois, um novo casamento lhe trouxe a profissão que lhe deixa realizada. Com o novo companheiro aprendeu, apenas olhando, a consertar ventiladores.

“Eu, vendo ele trabalhar com isso, e como eu não estava trabalhando mais, me dediquei a olhar o serviço dele. Ele ia trabalhando, eu ia olhando… até que aprendi. Aprendi a rebobinar, consertar ventilador e bomba d’água”, relembra.

Sete anos depois, o segundo casamento também ficou para trás, mas dele ficou o aprendizado do novo ofício, que lhe acompanha até hoje.

Com a profissão, ela já comprou…

.. a casa, onde mantém a oficina

“Sem trabalhar de novo, eu coloquei na minha cabeça que eu ia colocar um negócio pra eu mesma trabalhar. Pensei: se eu sabia, eu ia dar conta do meu trabalho”.

Quinze anos se passaram e hoje Rose tem o negócio próprio. É com o dinheiro que ela fatura na sua oficina que já comprou e sustenta a sua casa própria, que está em fase de construção.

A clientela vem, muitas vezes, segundo ela, por indicação. Geralmente quando um novo cliente chega não consegue esconder a surpresa.

“Eles até falam que nunca viram uma mulher trabalhando com isso. Eu apenas sorrio, né? (risos)”.

Rose: “Eles até falam que nunca viram uma mulher trabalhando com isso. Eu apenas sorrio, né?”

Rose disse que a profissão chegou num momento difícil na vida dela, quando precisou se reinventar para continuar sustentando a filha e a si própria. Ela aconselha às pessoas que se encontram em um momento parecido em suas vidas e as incentiva.

“Mesmo não sabendo, se ela se dedicar, ela consegue fazer como eu. Quando eu vim pra cá, [Macapá] não sabia trabalhar com outras coisas a não ser em casa de família e roça. Mas olhando meu ex-marido trabalhando, eu aprendi. Me dediquei a olhar e aprendi. Tudo que a gente quer na vida, se dedicando a gente consegue”, aconselhou. 

A oficina de Rose fica localizada na Avenida Cid Borges Santana, no Bairro Infraero 2, zona norte da capital. Quem precisar de manutenção em bomba sapo ou ventilador, pode falar com ela pelo WhatsApp (96) 99147-2134.

Seles Nafes
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