Igarapé das Mulheres, o abandono de um símbolo de Macapá

Assoreamento e lixo prejudicam comércio na região
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Por IAGO FONSECA

“Esse rio é minha rua”, diz a música de Ruy Barata e Paulo André. Em Macapá, o porto do Igarapé das Mulheres (que também já foi música de Osmar Júnior) é um dos pontos de parada na vida das pessoas que usam o rio Amazonas como meio de transporte de produtos. Apesar da importância, o velho Igarapé das Mulheres está abandonado há muito tempo. O acúmulo de lixo e vegetação causam desesperança em trabalhadores como Jair, Airton, Rosilene e outros trabalhadores.

O porto do Igarapé das Mulheres recebe diversos tipos de mercadorias, como o açaí, cana-de-açúcar, banana, melancia e peixe. No entanto, o assoreamento do canal dificulta a chegada e a saída das embarcações.

Na maré baixa, o extenso cais é preenchido com inúmeros barcos encalhados que só partem quando o rio volta a subir. O acúmulo de lixo e vegetação na proximidade do mercado de peixes impedem que empreendedores com barcos maiores descarreguem com facilidade nas proximidades.

“A gente vem aqui uma vez por mês ou até mais pra trazer peixe. Chega aqui tem sacrifício até pra tirar. Quando a mare tá ‘desmorta’ (maré baixa) a água não cresce muito. Aí um barco desse de dez toneladas não chega lá no mercado”, lamenta Jair Ferreira, pescador de 43 anos que traz seus produtos do Cabo Norte, entre o município de Amapá e o arquipélago do Bailique.

Jair trabalha há 20 anos com pescado e sempre atraca no Igarapé das Mulheres. Segundo ele, quando é véspera de Natal nenhuma embarcação consegue sair do porto, já que com o canal estreito se inicia uma disputa para entrar e sair do cais. A falta de iluminação pública gera riscos para comerciantes e barqueiros.

“A gente dorme ‘mal dormido’, com medo de ser assaltado”, retoma Jair. Segundo ele, o policiamento na área não está presente com frequência.

Disputa de espaço antes da maré baixa. Fotos: Iago Fonseca

Barcos ficam encalhados durantes horas…

…até a próxima maré alta

A reportagem ouviu vários trabalhadores que passavam pelo cais e mercado. O sentimento compartilhado é de abandono e esperança por mudança.

“A gente trabalha no ‘boca a boca’ com os barqueiros”, revela o feirante Airton Santos, de 57 anos. Ele também acha que o assoreamento do Igarapé e o lixo prejudicam o comércio com a limitação das embarcações que se aproximam.

Escavação

Segundo Airton, quando chove, muito lixo que vem do canal do Bairro Perpétuo Socorro vai parar dentro da bacia do Igarapé. Os feirantes acreditam que a região necessita de uma nova escavação e limpeza.

“Na época do Barcelos (governador e prefeito) cavaram três vezes aqui, os barcos boiavam até na maré seca”, revela Airton.

O cais está cedendo para o rio. Por onde se olha, é possível ver adaptações que os barqueiros fazem para embarcar e desembarcar no porto. Cordas, barcos enfileirados e tábuas inclinadas sem fixação são os meios de acesso adaptados.

Padeira Rosilene: movimento fraco com a dificuldade dos barqueiros

Jair: barcos não chegam na feira

Airton: cavaram três vezes

A padeira Rosilene Carvalho, de 54 anos, conta que na última limpeza realizada no local as máquinas afundaram parte do cais. A limpeza realizada em 2021 pela Zeladoria Urbana do município retirou cerca de 150 toneladas de lixo, incluindo materiais de construção e eletrodomésticos.

“Nossa situação não é fácil. Os ribeirinhos não têm mais onde encostar os barcos. Na maré alta os barcos faltam virar lá na frente (entrada do Igarapé das Mulheres)”, revela Rosilene.

Vegetação cresce sem manutenção e dificulta ainda mais as manobras

Feirinha improvisada…

…ao lado da Feira do Pescado: comércio todo prejudicado

Mururés

Hoje, a vegetação de mururés, canaranas e aningas cobre grande parte do porto. O aningal já alcança a altura de um pavimento de prédio. Segundo Rosilene, devido ao assoreamento e a vegetação, as vendas são prejudicadas.

“Às vezes (os ribeirinhos) desembarcam lá na frente, próximo ao posto. Aqui na frente da feira não tem como. Aí eles preferem ficar lá na frente ou ir para o Canal do Jandiá ou Santana”, completa a padeira.

Até o fechamento da reportagem o Portal SN não conseguiu contato com a Zeladoria Urbana do município.

Seles Nafes
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