Por GRAZIELA MIRANDA
Um acervo repleto de histórias e emoções está à venda em Macapá, e por uma bagatela: R$ 2,50 cada item. Pareceria um roteiro de drama se não fosse baseado em acontecimentos reais. Depois de mais de duas décadas, a última locadora de filmes da capital amapaense, a Mega Vídeo, está fechando as portas tragada pela era dos filmes na internet.
A loja foi, durante 25 anos, como um refúgio para os amantes da sétima arte. No entanto, como em um roteiro surpreendente, chegou o momento da virada.
A história do Mega Vídeo começou a mudar por volta de 2018, quando as plataformas de streaming conquistaram o coração da maioria das pessoas. Os clientes optam pela comodidade de assistir a filmes e séries sem sair de casa, deixando de lado o antigo ritual de escolher um DVD em uma memória distante.
A expansão do acesso à internet impôs o fim da era de uma tecnologia hoje quase obsoleta.
Suzana Gouveia, proprietária do Mega Vídeo, viu o público diminuir aos poucos. As famílias que antes frequentavam sua loja, trazendo os filhos para escolherem os filmes, agora se rendem à praticidade do streaming. Para completar, a saúde financeira do negócio se agravou ainda mais com a pandemia da covid-19, em 2020.
“Começamos a sentir a diminuição da procura pelos filmes em 2018. Naquela época, as famílias ainda vinham à locadora, traziam seus filhos para escolher os filmes. Mas, na pandemia, o cinema parou totalmente. E quando voltou, mesmo que os filmes saíssem em DVD, já não dava mais para comprar ou alugar, porque as distribuidoras nunca abaixavam os preços. Aí, após isso, passamos a apenas vender os filmes e não mais a alugar”, contou.
A proprietária lembra que antes disso, o movimento se intensificava por volta das 15h das sextas-feiras ou nas vésperas de feriado. Ver filmes sempre esteve entre os principais programas para quem não é chegado à badalação das festas.
“Era tão movimentado, que quando dava umas 21h, que era o horário de fechar, ainda tinha gente pra alugar filme. Nas segundas-feiras, após as 18h, os clientes chegavam a formar umas três filas para efetuarem a devolução. Tínhamos cinco funcionários só para pegar e guardar DVD’s, indicar filmes e atender no balcão”.
O acervo chegou a ser rico como um tesouro dos longametragens de aventura: mais de 30 mil títulos. Suzana e sua equipe fizeram viagens em busca dos clássicos, trazendo histórias que atravessaram gerações e marcaram época.
“Sempre comprávamos filmes, principalmente em viagens, que era quando vinham os clássicos. Trazíamos muito os clássicos dessa forma. Nós conseguíamos encontrar e trazíamos”, contou a proprietária.
Hoje, depois de 25 anos de operação, a Mega Vídeo segue para o desfecho. O espaço, porém, ainda não perdeu totalmente o encanto, pois continuará aberto até que o ‘último dos moicanos’ seja vendido. Uma despedida amarga, mas que deixa memórias e paixão pelo cinema vivas nos corações dos antigos clientes.