Davi admite desejo de concorrer à presidência do Senado

O senador do Amapá falou sobre o assunto com a Folha de S. Paulo
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Do EDITOR

O senador Davi Alcolumbre (UB) aproveitou uma entrevista ao site da Folha de S. Paulo para praticamente lançar sua pré-candidatura à presidente do Senado, “se os senadores quiserem”. Às repórteres Thaísa Oliveira e Camila Mattoso, da Folha, o parlamentar disse ser “menos poderoso do que pensam”, evitou falar da Lava Jato e tirou a responsabilidade de Jair Bolsonaro (PL) nos ataques golpistas de 8 de janeiro. Ele também defendeu que o Congresso tenha mais influência sobre o Orçamento. Veja alguns trechos.

O próprio governo faz a leitura de que a relação com o Congresso tem sido mediante “pagamento à vista”

Eu sei que o governo defende a coalizão. E eu também defendo. Acho que essa construção é feita com mais intensidade do que nós vivemos no governo passado. O ex-presidente Bolsonaro tinha restrições. Lula sempre falou que queria uma relação onde os partidos e as pessoas pudessem colaborar com o governo. E isso está acontecendo.

É o toma lá, dá cá?

Não, é composição. A gente não pode esquecer que a proposta vitoriosa nas eleições foi por 51% a 49% [dos votos]. Você tem um Congresso de centro-direita.

Na CCJ [Comissão de Constituição e Justiça], que o sr. preside, houve a aprovação de projetos do senador Sergio Moro. Depois, o governo foi derrotado no marco temporal e na PEC do Plasma. A impressão é a de que o sr. está sempre pressionando o governo.

Não, estou sempre ajudando o governo. É a narrativa que se passa na rua. É o contrário do que acontece. Quando a CCJ começa a trabalhar, a crítica é que eu estou atrapalhando o governo. Esse é o dilema grande de quem tem que decidir as coisas. Eu vivo isso na CCJ e tenho certeza que o presidente Arthur Lira vive isso na Câmara, o presidente Rodrigo Pacheco vive isso no Senado.

Se eu colocar para votar na CCJ as prioridades dos líderes, precisa de quatro Brasis para pagar a conta. Estou ajudando os brasileiros e ajudando o Brasil sem pautar coisas que não é nem o governo que não quer, é o Brasil que não resiste.

E na CPI do 8/1, por que o sr. cedeu informalmente sua vaga ao Moro?

Eu não cedi o lugar para o senador Moro. Eu tenho muitas atribuições que não é ficar sentado numa CPI acompanhando o debate de governo e oposição. Tenho que cuidar também do Amapá e do Brasil. Eu não vou parar a minha agenda para ir para a CPI.

Quando o sr. indicou os ministros isso já estava na conta?

Não fui eu que indiquei os ministros, [foi] o partido. As pessoas consultam o senador Davi Alcolumbre por ser vice-presidente do partido, por ser da Executiva nacional, por ser ex-presidente do Senado.

Então o sr. não tem nenhum ministério?

Não, eu tenho uma indicação, do ex-governador Waldez Góes [ministro da Integração], que tem relação pessoal com a esquerda porque é do PDT. A União Brasil aceitou que uma pessoa filiada a outro partido, com uma experiência extraordinária, pudesse ocupar um ministério muito relevante.

Falando assim, parece que o sr. concorda que fez uma indicação, mas não se responsabiliza pelas outras duas.

Eu participei e me responsabilizo por todas as três [indicações] da União Brasil. Como todo o partido participou.

Quando a gente conversa com parlamentares sobre emendas, é comum ouvir que o sr. tem forte influência sobre o processo. Como funciona?

Primeiro, eu sempre defendi emenda. Sempre defendi que o parlamentar possa ter a condição de chegar nos rincões do Brasil onde o Estado brasileiro não vai chegar.

Mas que controle o sr. faz disso?

Controlo as minhas emendas. Eu tenho, como senador, recursos individuais, as emendas da nossa bancada e eu trato politicamente isso com os prefeitos do meu estado e com o governador.

Da sua parte

Da minha parte. E da bancada do Amapá como coordenador.

De onde vem o poder do sr.?

Eu não tenho esse poder todo que falam. É porque eu converso muito com as pessoas. Eu escuto a necessidade. Quando eu percebo que é uma coisa simples, eu faço um encontro, levo no ministério, ajudo na relação.

Qual é a participação do sr. na presidência do Pacheco?

Eu sou um grande apoiador e entusiasta de um dos maiores líderes políticos do Brasil.

Existe uma cruzada contra o Supremo. Qual a opinião do sr.?

Não tem. A nossa relação é uma das melhores possíveis. O Supremo começou a ser muito atacado quando criaram CPI da Lava Toga, impeachment de ministro. Se você pegar meus dois anos na presidência do Senado, foi o momento em que eu fui mais atacado.

Era muito cômodo, se eu quisesse ser aplaudido por um milhão de pessoas na Paulista, abrir o impeachment de um ministro do Supremo. Eu fiz o certo, não abri.

Mas acha que é preciso fazer mudanças no Supremo?

A minha opinião é que tem que debater tudo. Quem tiver voto vai ganhar. Acho que a gente tem que prezar todo dia para cada um ficar dentro da sua esfera de atribuição. Muita gente inflama. Quando as pessoas falam que o Senado enfrentou o Supremo na votação do marco temporal, eu discordo totalmente. A [então] presidente [do STF] Rosa Weber botou na pauta uma agenda que estava paralisada há muito tempo. O Senado botou a sua também, que estava paralisada há muito tempo.

O Supremo está legislando?

É a reclamação.

O sr. concorda?

Não, é a reclamação. Tem uma coisa que poucas pessoas falam nos dias de hoje. Ano passado, alguns congressistas estavam propondo uma emenda constitucional para aumentar de 11 para 15 ministros da Suprema Corte. Quando essa conversa começou, muitos senadores, inclusive eu, foram contra. Então eu estou enfrentando o Supremo ou eu estou protegendo o Supremo?

O sr. se sentiu traído quando a maioria do STF proibiu o sr. de disputar a reeleição de 2021?

Não, foi decisão judicial. A gente não discute, recorre. Como não tinha mais ninguém para recorrer, está tudo certo. Se você explicar para uma pessoa normal que todo mundo teve o direito de se candidatar novamente e que eu não tive só porque eu estava na mesma legislatura, ninguém vai entender. Não tem lógica.

Waldez foi indicação pessoal. Foto: Arquivo/SN

E agora, o sr. está pronto para começar a campanha para a presidência?

A minha campanha prioritária já deu tudo certo ano passado [quando conseguiu a reeleição como senador]. Aqui no Senado, se você perguntar quem não pode ser candidato, só o Rodrigo não pode, porque ele já foi duas vezes. Então eu fico esperando o dia e a hora da decisão para ver o que Deus reserva para a gente nessa trajetória.

O sr. quer?

Se os senadores quiserem, eu vou aceitar.

Como está a relação com o núcleo bolsonarista do Senado?

Eu tenho relação pessoal com todas as pessoas. Eu trato com todas as pessoas, eu trato com os senadores do PT, do PL…

Mas o senhor vê responsabilidade de Bolsonaro no 8/1?

Acompanhei aquilo, um absurdo, repudiei veementemente, mas eu acho que nós temos que construir esse Brasil para o futuro. Acho que não é responsabilidade de uma pessoa, é responsabilidade dessa polarização.

Como está a relação com Bolsonaro?

Trato questões políticas com o senador Flávio Bolsonaro, que é meu amigo. Assim como sentei com o presidente Lula —eu nunca tinha apoiado o presidente Lula—, me comprometi a ajudar o governo. Tenho relação construída na política e tenho relação com todos os senadores do PL.

Como o sr. vê os reveses da Lava Jato?

Não tenho acompanhado isso. Estou cuidando da política aqui.

O sr. faz parte da política.

Pois é, mas eu não estou acompanhando isso. Questões jurídicas, está tudo certo. É advogado que tem que responder isso aí. Em muitos momentos o Congresso participou disso.

Houve excesso na Lava Jato?

Não estou focado nisso, estou cuidando de outras coisas.

O sr. acha que Lula vai avançar na autonomia do Orçamento, no domínio das emendas?

Acho que o Congresso cada vez mais deveria controlar o Orçamento. O governo tem suas atribuições e tem as suas condições de fazer as políticas públicas. E o Congresso também tem que ter a sua.

Qual a situação da Reforma Tributária?

A minha impressão é que está consolidada a tese da importância da Reforma Tributária para o Brasil.

Seles Nafes
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