Policiais militares são indiciados por homicídio de sindicalista

Crime ocorreu em maio, durante abordagem em que os policiais afirmam que agiram em legítima defesa. Além de Leandro Souza (foto), outro ocupante do carro morreu com a tiros
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Por SELES NAFES

Quatro policiais militares do Amapá foram indiciados pela Polícia Civil no inquérito que apurou o homicídio de um sindicalista, ocorrido em maio deste ano, durante uma abordagem na zona sul de Macapá. Eles também responderão por fraude processual.

O delegado Leonardo Leite, da Delegacia de Homicídios, entendeu que há provas de dois homicídios dolosos e um homicídio tentado, a partir de testemunhas, exames residuográficos e contradições.  

Leandro de Souza Abreu era o presidente do Sindicato dos Taxistas de Macapá. Ele foi morto a tiros na noite de 26 de maio dentro do táxi dele, uma Versa branco na Travessa G, no Bairro do Muca.

Parentes e testemunhas alegam que Leandro, que estava no banco de trás, acompanhava um jovem que tinha confessado ter roubado uma bicicleta. Leandro, que tinha registro de CAC e estava armado, não teria reagido à abordagem dos policiais e nem atirado.

Por outro lado, os policiais, todos os 1º Batalhão da PM, afirmaram no registro da ocorrência que ele teria descido com uma mão para acima e a outra na cintura, e em seguida teriam ouvido um disparo. Houve reação da guarnição.

Além de Leandro, Milton Bonifácio Ramos, acusado de ter roubado a bicicleta, também foi morto a tiros. Um menor ferido que ajudava a localizar a bicicleta e estava no banco de trás ficou ferido. Apenas o motorista do táxi, que pertencia a Leandro, não sofreu ferimentos e foi testemunha no inquérito.

Delegado Leonardo Leite conduziu as investigações. Foto: Olho de Boto/SN

Fraude e contradições

Na delegacia, os policiais apresentaram a pistola de Leandro e um revólver calibre 38 que estaria no carro e teria sido usado por ele contra a equipe. As armas teriam sido recolhidas antes da chegada da perícia para que populares não tivessem acesso.

“Não tem sentido isso, dele também ter um revólver calibre 38 com numeração raspada. Ele era CAC, tinha registro e porte apenas para transportar a arma até um stand de tiro. Naquele momento ele errou por estar portando a arma, mas isso não era justificativa para os policiais agirem daquela fora”, avalia o advogado Marlon Melo, do Sindicato dos Taxistas e que também assessora a família de Leandro.

“Ele desceu do carro com as mãos para acima. Os vidros do carro estavam abaixados, e os policiais tinham a visão do que ocorria dentro do veículo. Tudo aconteceu em apenas 22 segundos. Temos os vídeos que estão distantes, mas dão uma noção do que aconteceu”, acrescentou.

Durante as investigações, o delegado Leonardo Leite afirmou que houve contradições entre os depoimentos dos policiais e de testemunhas. Um deles afirmou não ter ouvido qualquer disparo de dentro do carro.

O exame residuográfico atestou presença de pólvora numa das mãos de Leandro.

“Claro que ia acusar, porque ele era atirador, tinha registro de CAC”, observou o advogado.

Marlon Melo (1º esquerda) com a equipe jurídica do sindicato: versão dos policiais não têm sentido

Segundo o delegado Leonardo Leite, em entrevista à Rede Amazônica (afiliada da Globo), no trajeto entre o local do crime e o Ciosp do Pacoval os policiais envolvidos na ocorrência teriam desviado a viatura até o batalhão, onde teriam apanhado o revólver calibre 38. O objetivo seria reforçar a tese de que eles teriam reagido em legítima defesa.

“Foi uma abordagem de forma equivocada que terminou com dois óbitos. A oficial da área deu uma ordem para que a guarnição fosse direto para o Ciosp para realizar a apresentação, mas foi desobedecida. Ela acompanhou a viatura, mas perdeu eles de vista”, explicou o delegado.

“O motorista do veículo (de Leandro) estava dentro dessa viatura, e disse que no batalhão viu um policial entrando e saindo do prédio com um invólucro na mão, que pode ser o revólver que foi apresentado no Ciosp do Pacoval para justificar uma legítima defesa”, acrescentou.

Dos quatro policiais envolvidos (um sargento e três soldados), três ficaram em silêncio e avisaram que só se manifestarão no processo judicial. Durante as investigações, apenas um deles prestou depoimento no Ciosp.

Seles Nafes
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