Sexo, conspiração e assédios: polícia conclui investigação na Fumcult

Servidoras da Fumcult relatam assédios do ex-presidente Olavo Almeida; delegado
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Por SELES NAFES

A Polícia Civil do Amapá decidiu arquivar um caso intrigante originado nas dependências da Fundação Municipal de Cultura de Macapá (Fumcult), onde o ex-presidente Olavo Almeida, de 60 anos, virou alvo de denúncias de assédio sexual, importunação sexual e assédio moral. No entanto, algumas testemunhas de acusação e até duas vítimas passaram ser suspeitas de uma conspiração para beneficiá-lo no inquérito.

No total, quatro mulheres teriam sido vítimas. Em pouco mais de um mês, 16 pessoas prestaram depoimentos, entre servidoras, servidores e ex-servidoras da fundação. Algumas servidoras relataram ter ouvido histórias de assédio, outras revelaram ter sido vítimas ou visto comportamentos “libidinosos”. Olavo foi descrito como um gestor que abraçava demais algumas funcionárias, que pegava nas cinturas, beijava pescoços, fazia propostas e outros gestos.  

A história foi investigada pelo delegado Bruno Braz, da Delegacia de Crimes Contra a Mulher (DECCM), a partir do boletim de ocorrência registrado por uma das vítimas, de 21 anos.

O depoimento dela foi prestado no dia 20 de setembro, quase um mês depois da exoneração de Olavo, que ocorreu em agosto por ordem do prefeito Dr Furlan (Podemos). No BO, ela revelou que foi beijada por Olavo no pescoço, recebeu um abraço forte e foi abordada por ele com “conversas libidinosas”.

No dia seguinte (dia 21), uma ex-chefe de gabinete de Olavo Almeida foi chamada para prestar depoimento como testemunha. Ela é uma das personagens centrais desse imbróglio. No depoimento, a ex-chefe de gabinete relatou um suposto episódio de assédio sexual praticado por Olavo ocorrido quase dois anos antes, em 6 de dezembro de 2021, quando ela aceitou um convite dele para almoçarem, na orla de Macapá.

No trajeto, no entanto, Olavo teria desviado o carro sem aviso para um motel no Canal da Mendonça Júnior, afirmando que ali seria o almoço. Ela afirmou que ficou muito preocupada, mas que os dois somente almoçaram no interior da suíte.

Como precaução, ela chegou a mandar mensagem para um colega de trabalho informando que eles estavam no motel, e chegou a mandar o localizador para ele. As fotos de tela do celular, com essa conversa, foram apresentadas à polícia. 

Alguns meses depois, as investidas teriam sido retomadas por ele, inclusive com oferecimento de dinheiro para os dois terem relações sexuais. A ex-servidora também afirmou que procurava responder às investidas com simpatia para preservar o emprego, mas percebeu que isso tinha apenas piorado a situação.

Ela também declarou que sabia que outras servidoras da equipe sofriam assédio, e que uma delas chegou a denunciar na delegacia, referindo-se à servidora que prestou depoimento no dia anterior a ela.

Romance e confusão

Uma das servidoras relatou na delegacia que sabia das histórias de assédio, mas, que em relação à servidora que relatou o caso do motel, ela revelou que os dois teriam um romance, pois já teriam sido vistos de mãos dadas. Outra servidora também assegurou em depoimento que os dois tinham “comportamento de namorados”.

Essa teoria é citada por vários depoentes na Delegacia de Mulheres, incluindo um episódio onde a esposa de Olavo teria agredido a chefe de gabinete num evento da Fumcult, no Mercado Central de Macapá.

Outro depoimento foi de uma ex-assessora jurídica. Ela confirmou que Olavo tinha “comportamentos libidinosos” com as funcionárias, e que a servidora levada para o motel teria uma forte influência sobre ele, a ponto de fazer com que exonerasse pessoas que ela queria.

Conspiração em grupo de WhatsApp

Um dos depoentes revelou a existência de um grupo de WhatsApp criado pela ex-chefe de gabinete e pela primeira servidora a denunciar Olavo. As duas teriam adicionado ao grupo outras testemunhas com o objetivo de alinhar os depoimentos.

O delegado Bruno Braz também descobriu que Olavo almoçou com seis testemunhas e com a primeira vítima no dia 25 de setembro, num restaurante no Bairro Santa Rita, por volta das 14h. As imagens do circuito interno mostram eles chegando. Eles se servem, escolhem uma mesa e conversam por cerca de 1h. Ao final, Olavo pega as comandas de todos e se dirige ao caixa para pagar.

Dia 25 de setembro, cinco dias depois do início das investigações: Olavo Almeida almoça com vítima e testemunhas

Grupo de WhatsApp criado pela primeira vítima para combinar depoimentos

Uma das vítimas teria omitido informações “valiosos em interesse próprio”

O delegado ingressou com um pedido judicial para que Olavo, testemunhas e supostas vítimas sejam proibidas de manter contato entre si e de acessar dependências da Fundação de Cultura, além de serem suspensos das funções.

No entanto, ao analisar o pedido, a juíza Carline Nunes, que estava no plantão judicial, decidiu que não seria adequado julgar o caso por entender que não havia “perigo de dano a resultado útil do processo”, e que o pedido pode ser julgado por um magistrado no expediente normal. A magistrada encaminhou o pedido para outra vara.

Procurado e informado sobre o teor da reportagem, Olavo Almeida não comentou o assunto.

Nesta terça-feira (31), a advogada Dirce Bordallo divulgou um elogio ao delegado que conduziu a investigação, e enviou documento onde ele informa porque decidiu arquivar o inquérito.

O delegado cita omissão de informações de uma das vítimas “em interesse próprio” (a ex-chefe de gabinete), além de “fragilidade da materialidade delitiva”. O documento é datado do último dia 18 de outubro. 

“Já parabenizo o delegado Bruno Braz, pela isenção e competência. Existem vítimas e pseudovítimas, e é fundamental que a autoridade policial perceba essa diferença”, disse a advogado de Olavo Almeida.

Seles Nafes
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