Por IAGO FONSECA
Pessoas diagnosticadas com o Transtorno do Espectro Autista (TEA) possuem vários direitos garantidos em lei, que abrangem a educação, saúde, assistência social e integridade moral.
No Amapá, legislações e ações sociais para emissão de laudos buscam garantir os direitos dessas pessoas e aumentar os conhecimentos sobre neurodiversidade na sociedade para pôr fim ao preconceito.
O TEA no Amapá inicia seus primeiros passos para a aceitação na sociedade. A pessoa autista é considerada deficiente de acordo o Estatuto da Deficiência e a Lei Berenice Piana, que trata especificamente do autismo.
O termo deficiente é utilizado porque não existe outro para caracterizar a pessoa com autismo, segundo o advogado Helder Afonso, que é autista. De acordo com ele, o Amapá possui cerca de 2 mil pessoas em fila de espera por laudo.
“A legislação ainda tem um alcance pequeno por conta das políticas públicas, que ainda são poucas. (…) o Estado como um todo não tem essa estrutura para receber o autismo por conta da demanda que é muito grande”, comenta.
A reportagem do Portal SN.com acompanhou um pouco da jornada de Mariah Júlia, de 3 anos, e sua mãe, Marleide Oliveira, 37 anos, que conseguiu o laudo TEA grau 1 para a filha após participar do “TEAtendemos”, ação social da Secretaria Municipal de Saúde de Macapá (Semsa).
Com o atestado em mãos, ela descobriu por conhecidos que Júlia tem direitos individuais protegidos e que poderia buscar alguns benefícios para a criança.
“No dia, eu não perguntei sobre o crachá dela, não sei se os pais mandaram fazer ou se algum órgão do governo que faz. (…) Minha preocupação é que não tenho com quem deixar ela para resolver essas coisas”, revela – apontando outra carência do poder público: falta de atendimento específico em creches.
O ‘crachá’ a que Marleide se refere é a Carteira de Identificação da Pessoa com Autismo e o Cordão de Girassol (identificação de deficiências ocultas). No Amapá, essas identificações da pessoa com TEA é um direito, e elas podem ser emitidas nas unidades do Super Fácil em Macapá, Santana e Laranjal do Jari, de segunda a sexta-feira, das 7h30 às 13h30.
A Ciptea, a versão nacional da carteira instituída pela Lei Romeo Mion em 2020, ainda não está disponível no estado.
A carteira de identificação permite aos pais que solicitem acompanhamento escolar especializado que siga o Plano de Ensino Individualizado e tratamento multiprofissional em saúde à criança e ao adolescente no Sistema Único de Saúde (SUS). Usuários de planos de saúde também possuem cobertura total para tratamentos.
A carteira assegura, ainda, no Amapá, a isenção do pagamento de IPVA e impostos federais na aquisição de carro novo em nome do autista, prioridade em filas de bancos, mercados, lojas e serviço público, meia entrada em cinemas e eventos culturais, e redução em 50% da carga horária de trabalho para servidores públicos.
Em alguns casos, é possível solicitar o Benefício de Prestação Continuada (BPC/Loas) do INSS, que garante aos autistas que vivem em situação de pobreza o recebimento de um salário mínimo por mês.
O autista e seu familiar devem estar com o Cadastro Único do governo federal atualizado, ter renda familiar inferior a um quarto do salário mínimo e não possuir, dentro da família, pessoa que possa trabalhar e contribuir com a Previdência Social.
Validade
O laudo médico para a TEA no Amapá não possui validade determinada, conforme a Lei estadual n° 2587 de 2021. Entretanto, a falta de profissionais especializados no estado para emissão de laudos dificulta o diagnóstico do espectro autista, especialmente em adultos.
O acolhimento para pessoas com TEA pode ser feito no Núcleo de Avaliação do Neurodesenvolvimento (Nande) do Hospital de Clínicas Dr. Alberto Lima, no centro de Macapá. Na rede municipal o Centro de Atenção Psicossocial Infantil (Capsi), no bairro Pedrinhas, acolhe crianças e adolescentes para cadastro na fila de diagnóstico.
Autismo é um transtorno do neurodesenvolvimento que não exige investigação biológica. O diagnóstico ocorre por meio de análise clínica de psicólogos, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais e psicopedagógicos.