Por IAGO FONSECA
Amanhece em Macapá e o aumento de pessoas e veículos na cidade sinaliza o início de mais um dia de rotinas de trabalho e educação. É o momento em que Edilson, Anderson e Daniel também se preparam para irem até os seus postos de trabalho, nas esquinas movimentadas para vender o produto essencial para a vida: água.
Com um chapéu, camisa com mangas cumpridas e uma cuba com garrafas com água, Edilson dos Santos, de 42 anos, sai de sua casa, no Bairro Buritizal, nas primeiras horas da manhã até à Rodovia JP, no Bairro Jardim Equatorial, para vender o produto aos condutores que passam por ali. Essa é a sua única fonte de sustento e foi a solução que encontrou para o desemprego.
“Meu ramo era como diarista. Comecei por ajuda de um colega, perguntei se tinha lucro, se dava boa renda e ele disse que depende da pessoa. Tomei essa atitude e hoje tenho o suficiente pra sobreviver”, contou Edilson, que também avalia que as vendas são maiores no período da manhã.
Com a água à R$ 2,50, em garrafas de 500 ml, a maior parte dos clientes são condutores de carros que já conhecem seu trabalho, segundo o ambulante. Apesar do cansaço nas pernas quando está sobrecarregado pelo calor, ele só vai pra casa quando termina seu estoque do dia.
“Fico aqui até às 14h ou até quando acaba o estoque. Pra quem está desempregado, é bom. Algumas pessoas são ignorantes, dizem que estou atrapalhando o espaço, discutem e passam em alta velocidade. Mas tem outros que até dão gorjeta. Só estou trabalhando, nada mais”, exclamou Edilson.
Distante alguns quilômetros dali, já no Centro de Macapá, Anderson e Daniel dividem a mesma esquina para trabalhar, na Rua São José, coração do Centro Comercial. Para os trabalhadores, a concorrência não atrapalha as vendas e dá oportunidade para todos.
“Não tem bronca, compartilhamos o mesmo espaço e todo mundo sai ganhando, temos família para manter. Compro material, gelo, pacote da água e tudo isso gera custo, mas conseguimos vender mesmo com as pessoas reclamando”, afirmou Anderson Borges, de 31 anos.
Morador do bairro Ipê, na zona norte da capital, Anderson deixou seu antigo trabalho de flanelinha, para investir na venda de água há três anos. Para ele, o maior desafio é lidar com o sol da manhã.
“Já fiquei doente do sol. Dá dor de cabeça, cansaço. Tem vezes que não dá vontade de vir, mas tomo remédio e venho para o ‘batalho’. Penso assim, se eu sair daqui não tiro o meu sustento e da minha família”, concluiu.
O paulista Daniel Marinho, de 30 anos, começou no centro de Macapá com a venda de chopps em 2017. Foi somente em 2020 que iniciou com as vendas de água e hoje possui um carrinho adaptado para comportar mais produtos.
“Nunca gostei de trabalhar para outras pessoas, já sofri muita humilhação. Então não aceitei isso pra mim, decidi seguir meu caminho por conta. De vez em quando aparece um ofendendo com palavras, mas como somos ambulantes dependemos das pessoas, levamos na esportiva”, revelou Daniel.
Com o preço do produto também a R$ 2,50, Daniel explicou que os maiores consumidores são passageiros de ônibus e motoristas de aplicativo, que impacta diretamente no movimento nos fins de semana.
“Vendo até 12 pacotes em um dia bom no verão. Nos sábados é quando as vendas são menores, o movimento no centro fica fraco. Nossa clientela são motoristas de Uber, passageiros de ônibus e pedestres. Quando tem eventos no centro monto uma segunda barraca e consigo vender até bebidas”, concluiu.
Mesmo com as boas vendas, Edilson, Anderson e Daniel compartilham o mesmo interesse: sobreviver. Para a reportagem, todos responderam que não buscam um objetivo maior com as vendas, apenas o suficiente para se manterem no dia a dia. Os ambulantes são parte de um mercado pouco observado, mas que tem ganhado espaço nas ruas de Macapá devido ao aumento do calor nos últimos anos.
O portal SN noticiou em fevereiro deste ano outra história de vida relacionada. Dirlei Damasceno, de 30 anos, vendia água nas esquinas de Macapá enquanto dividia seu tempo com estudos para aprovação no concurso da Polícia Militar do Amapá. No início deste mês circulou uma campanha para arrecadar recursos para que ele possa fazer os exames médicos do concurso. Até a publicação, a reportagem não conseguiu entrar em contato com Dirlei.