Por CAROLINA MACHADO
Com o propósito de inspirar pessoas a saírem de suas “redomas”, o fotógrafo amapaense Floriano Lima, de 61 anos, percorreu as ruas de Macapá às vésperas do Natal para capturar uma realidade da capital: homens em situação de rua aguardam por gestos de bondade.
Os registros foram realizados entre os dias 19 e 24 de dezembro nos Bairros Central e Buritizal. Floriano Lima explica que seu trabalho abrange duas vertentes: as paisagens do Amapá e o realismo social.
“Nesse período, em que muitas pessoas se isolam em seu ‘mundinho’, alheias à realidade ao seu redor, fiz esses registros para tocar o coração dos mais indiferentes e também dos órgãos competentes”, destacou.
Com a calibrada câmera nas mãos, Floriano se deparou com pessoas sem esperança de uma mudança positiva – o que o serviço social chama de ‘vulnerabilidade social’.
“A sensação é dolorosa e impactante. Sou movido pela sensibilidade de fazer o registro como uma denúncia, não em busca de likes nas minhas redes. Cada um deve tentar fazer a sua parte. Tento preservar o rosto para não expor a pessoa, mas sim o problema, na esperança de que uma solução chegue”, revelou.
Além de documentar essas cenas, o fotógrafo se aproxima das pessoas para conversar. Ele relata que muitas delas se sentem desiludidas e, em alguns casos, enfrentam a depressão. Essa conexão humana o impulsiona a ir além do clique da câmera.
“Tenho habilidade para essas conversas francas, porque um dia fui drogado e me sentia excluído por ‘amigos’ e pela sociedade, assim como eles agora. Nessa fotografia do rapaz debaixo do papelão, fui discretamente e deixei aquele copo de café quente que aparece embaixo. Quando ele despertou, conversamos e choramos juntos. Falei do que já passei e o incentivei a buscar a mudança”, contou.
Apesar das críticas recebidas ao longo de seus 41 anos de atuação na área da fotografia, Floriano Lima não pretende interromper esse tipo de trabalho. “Recebo críticas pesadas de pessoas menos sensíveis, que não compreendem a mensagem que quero transmitir. Mas continuarei, pois isso está enraizado em mim. É fotojornalismo, mesmo que eu não seja um”, concluiu.