“Ainda não tive coragem de voltar”: jovem pai abrigado em escola relembra alagamento

Além da família de Carlos, outras 40 ainda estão abrigadas na escola estadual Reinaldo Damasceno, na zona norte de Macapá.
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Por IAGO FONSECA

“Nunca tinha acontecido desse jeito”, revelou o pai de dois meninos, o auxiliar de técnico em refrigeração Carlos Weslley Teles, de 22 anos, ao lembrar da manhã de terça-feira (13). Ao amanhecer sob forte chuva, muitas casas em Macapá foram atingidas por alagamentos, principalmente as próximas de áreas de ressaca e canais que cortam a capital.

A família de Carlos, que tem a esposa Jaqueline e duas crianças novas demais para entender o ocorrido, foi uma das atingidas. Eles moram em uma casa em área de ponte na Avenida Violeta Mont’Alverne, no Bairro Buritizal.

Até a tarde de sexta-feira (16), eles ainda eram parte das 41 famílias abrigadas na Escola Estadual Reinaldo Damasceno, no Bairro Novo Buritizal, zona sul de Macapá. Durante a semana, até 69 núcleos familiares receberam atendimento no local.

“A água debaixo da casa é como se fosse o esgoto, a caixa de fossa, toda as casas são assim no lago. Quando encheu, toda aquela água contaminada subiu para cima das casas, veio de tudo, até cobra, aranha, barata d’água, todos os animais aquáticos que costumam dar em lago”, revelou o trabalhador de apenas 22 anos.

Escola Reinaldo Damasceno abriga as famílias atingidas pelo temporais

Famílias estão abrigadas em salas de aula

Algumas têm que dividir a mesma sala

De acordo com Carlos, móveis e eletrodomésticos encharcados não foram a principal preocupação do casal durante o alagamento da residência. Logo no primeiro dia, problemas básicos de saúde humana apareceram.

“Ficou inapropriado para a gente usar o vaso, por exemplo, porque a água não descia, a gente tava improvisando algumas formas de não ter que descer pra pisar naquela água suja. Subimos para o segundo andar, mas o banheiro e a pia ficam lá em baixo, chegou um momento que o cheiro ficou insuportável”, continuou Carlos.

Carlos trabalha “de bico”, em trabalhos temporários de manutenção de centrais de ar, e ficou preocupado quando viu a comida acabar.

“Saímos de lá no segundo dia quando a água não baixou, pegamos só o que deu, já estávamos sem mantimentos. Ainda não tive coragem de voltar para ver como a casa está, foi nossa primeira vez morando em uma área assim e fomos pegos desprevenidos, queremos ir para outro lugar”, completou. 

Crianças usam da quadra para brincar. Fotos: Iago Fonseca

Crianças fazem o que podem para se distrair

Profissionais passam o dia na escola auxiliando as famílias

Ao chegar no abrigo, tanto a família de Carlos quanto as demais receberam kits de alimentos, higiene e colchões. No local, as salas de aulas viraram dormitórios para três a quatro famílias. Todos são servidos com café da manhã, almoço e janta. Parte dos abrigados já começaram a retornar para suas residências.

“Nós fazemos o acolhimento, essa família nos informa que ela já está no local seguro e que ela já consegue retornar para o seu lar. Levamos todos os programas, serviços sociais para essa pessoa como apoio, ela sai daqui acompanhada por um técnico e pela Defesa Civil, com transporte e kits com 43 kg de alimentos, produtos de limpeza e higiene. Se a pessoa estiver precisando do aluguel, ela é acrescentada na política habitacional e também no aluguel social”, explicou Margleide Alfaia, coordenadora de proteção social do Amapá.

Margleide Alfaia, coordenadora de proteção social do Amapá

Fila para serviços de corte de cabelo e design de sobrancelhas

Profissionais passam o dia na escola auxiliando as famílias

Após comprovação de vulnerabilidade por meio de vistoria técnica os abrigados que perderam tudo receberão doações de eletrodomésticos pelo governo. Além dos bens materiais, a emissão de documentos perdidos nas enchentes é ofertada de forma gratuita.

“Se a pessoa teve a documentação perdida, extraviada na chuva, ela tem que procurar um dos nossos pontos. O principal é a Escola Reinaldo Damasceno. Fazemos esse levantamento, cadastro e emitimos o documento, em parceria com a Polícia Científica. Se perdeu certidões encaminhamos para a Defensoria Pública do Estado para emissão gratuita”, reforçou Renata Apóstolo, diretora da Rede Superfácil.

Hora do almoço

Renata Apóstolo, diretora da Rede Superfácil

Alimentos arrecadados para as famílias

Além da escola, o governo do Amapá também abriu outro ponto de acolhimento no ginásio Avertino Ramos, no centro de Macapá. Pessoas interessadas podem doar colchões, lençóis, brinquedos, roupas e calçados diretamente nos locais.

Seles Nafes
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