Por RODRIGO DIAS
A XII Feira de Ciências e Engenharia do Amapá (Feceap) está surpreendendo os visitantes com mais de 100 projetos inovadores. Entre eles, uma ideia tem se destacado: o “Barco Acessível”, criado pelo aluno Alerrandro da Silva Souza, um jovem de 15 anos do Atendimento Educacional Especializado (AEE), que estuda na Escola Estadual José Ribamar Pestana, em Santana, a 17 km de Macapá.
Alerrandro tem um diagnóstico de Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC) e foi matriculado inicialmente como deficiente intelectual – o que tornou sua história ainda mais em um exemplo de superação.
De acordo com a professora, Laudicléa Pires, ele chegou à escola com medo, carregando traumas de uma experiência negativa anterior, onde teria sido maltratado por uma professora, por não conseguir aprender.
“Em 2020, no meio da pandemia, começamos a trabalhar com ele à distância, enviando material e realizando aulas online. Em apenas um ano, ele se alfabetizou, e foi aí que vimos que ele tinha um talento incrível, e não uma deficiência”, lembra a professora.
Apaixonado por barcos, Alerrandro costumava levar pequenas miniaturas para a escola. Inspirado pela história de sua professora, que ficou cinco anos em uma cadeira de rodas após ser acometida por um tumor, ele decidiu que poderia fazer mais do que sonhar: queria mudar a realidade das pessoas com deficiência.
Com a ajuda de Laudicléa, começou a pesquisar. Não existem barcos com elevadores na região. Pessoas cadeirantes, quando viajam entre o Amapá e Belém, são acomodadas junto às cargas. Essa realidade tocou profundamente o jovem inventor. Professora e aluno visitaram a Marinha, a prefeitura e os técnicos que estão construindo o novo porto de Santana.
Foi então que Alerrandro decidiu criar um protótipo de barco com acessibilidade. Usando materiais reciclados, ele construiu o modelo em apenas um mês, com o objetivo de chamar a atenção para o problema nas embarcações da Amazônia.
Ele quer que seu projeto inspire mudanças – quem sabe até novas leis – para garantir o direito de todos viajarem com dignidade. O barco foi batizado de Romeu Sassaki, em homenagem ao pioneiro da inclusão e acessibilidade no Brasil.
“Desenhar e criar são minhas paixões”, disse Alerrandro, com um sorriso tímido, enquanto mostrava seu barco, um símbolo de um futuro mais acessível para todos.
Além do projeto ser uma promessa de inovação, ele também é um convite à reflexão sobre a inclusão. Quem quiser conferir de perto o “Barco Acessível” e muitos outros projetos surpreendentes, pode visitar a Feira de Ciências e Engenharia, que acontece na Escola Estadual Tiradentes, no Bairro Santa Rita, até o dia 27. Assista o adolescente explicando o seu projeto:
O evento, organizado pela Secretaria de Estado da Educação (Seed), tem como protagonistas alunos de escolas públicas e privadas do Amapá, de outros estados e até de outros países.
Os projetos com as melhores avaliações receberão premiação em dinheiro, no valor de R$ 5 mil para o primeiro colocado, R$ 3 mil para o segundo e R$ 2 mil para o terceiro.
Vencedor
Atualizado em 27/09/2024
Alerrandro da Silva Souza provou que sua história é um exemplo de superação e ficou com o 1° lugar em sua categoria na XII Feceap. O projeto do “Barco Acessível” para pessoas com deficiência e autismo encantou o público e a comissão avaliadora. O jovem venceu na categoria do AEE, levando para casa o valor de R$ 6,5 mil, uma medalha, e um credenciamento para representar o Amapá na Feira Brasileira de Iniciação Científica (Febic) 2025, em Santa Catarina.
Cheia de orgulho, a mãe do jovem, a professora Aldenira Rodrigues, expressou a gratidão que sentiu ao ver o filho superar tantos desafios.
“A escola José Ribamar Pestana foi a primeira que me escutou. Meu filho já passou por traumas e rejeições em outra escola, onde eu sempre via algo diferente nele, mas ninguém me ouvia. Hoje, ele está numa feira de ciências e venceu em uma categoria de educação especial. Sou mãe solo e muito orgulhosa de ser uma mãe guerreira. Tudo o que faço é por ele e pelo irmão. A palavra hoje é gratidão, apenas gratidão”.
Além do reconhecimento da família, a professora orientadora de Alerrandro, Laudicléa Pires, também comemorou a conquista, destacando a importância de acreditar no potencial dos alunos da educação especial.
“Sempre iniciei minhas aulas com a intenção de motivá-los, mostrando que, apesar das dificuldades, eles são capazes. O resultado de hoje prova isso. O barco acessível é o conhecimento teórico se transformando em prática. Sou grata a todos que nos apoiaram e quero deixar uma mensagem de que nossa sociedade precisa ser mais inclusiva, principalmente nos meios de transporte mais utilizados no Amapá, como os barcos”.
Para Alerrandro, o momento de vitória representa muito mais do que o prêmio. Ele falou emocionado sobre o impacto do projeto.
“É uma felicidade mostrar que pessoas com deficiência podem ir além das limitações que muitas vezes nos impõem. Meu projeto é sobre dar conforto e acessibilidade a quem precisa. Estou muito grato por tudo o que está acontecendo na minha vida e pelos desafios que ainda virão”.