Por RODRIGO DIAS
Valdenia Carneiro de Azevedo, de 33 anos, moradora do bairro dos Congós, na zona sul de Macapá, passa pelo momento mais doloso na vida de uma mãe: a perda de um filho ou uma filha. No seu caso, é ainda pior, pois ela afirma que ainda não teve a informação do que provocou a morte cerebral da filha, que respira através de aparelhos no o Hospital da Criança e do Adolescente (HCA). Enquanto a resposta não vem, ela suspeita de negligência.
Por outro lado, o hospital diz que equipes médicas e multidisciplinares trabalham para concluir o prognóstico e identificar as causas.
A luta por respostas começou no dia 13 de janeiro, quando ela recebeu uma ligação de profissionais da saúde do Hospital da Criança e do Adolescente (HCA), informando que sua caçula Maylla Linda Carneiro de Aguiar, de 1 ano e um mês de idade, havia sofrido ‘morte encefálica’.
Segundo Valdênia, a criança sempre foi muito ativa, nunca teve febre, gripe ou outra doença que lhe deixa-se debilitada, a não ser alguns vômitos uma vez ou outra, exatamente o motivo que a fez procurar o hospital.
“Ainda tinha dúvida que fosse refluxo, fiz exame pra saber se ela tinha intolerância, mas ainda não chegou. Eu ia e voltava pro PAI, fui mais de 20 vezes, eles davam remédio. No dia 7, deu uma crise de vômito e levei novamente, chegando lá eu não quis que dessem plasil pra ela porque provocava uma reação muito forte e diferente nela, então eles deram prometazina. Ela ficou em observação e anestesiada de 6h50 da manhã às 17h da tarde. Chegou a janta. Quando fui dar a sopa batida eu senti que ela não tava conseguindo engolir, mas até então eu achava que era efeito de remédio porque ela estava muito sedada”, contou.
Uma hora depois, relata a mãe, a menina teve alta e foi para casa. Às 20h, Valdênia quis acordá-la, só que seu esposo preferiu deixar a criança descansar. À meia-noite, Maylla começou a chorar.
“Peguei ela e fiquei na área, mas ela chorava muito. A gente percebeu o rosto dela torto, a boca dela torta, tentei acalmá-la. Voltei com ela às 3h da manhã pro hospital, o médico pediu o prontuário e comentou ‘poxa, porque deram 0.3 era pra ter dado 0.1 desse remédio, aí pediu pra moça que fez a triagem perguntasse se tinha na farmácia um medicamento que tirasse o efeito do anterior do organismo dela, mas não tinha”, acrescentou.
Ainda de acordo com a mãe, o médico se dedicou a hidratar a menina para que o medicamento saísse na urina. A equipe teve dificuldade para achar a veia da menina. Às 6h do dia 8, mãe e filha voltaram pra casa. A criança seguia dopada.
“De noite, voltei ao hospital. O médico disse que era normal, que os exames não tinham nada, que ‘não tinha nada de infecção com sua filha’. Fomos pra casa. No outro dia pela manhã, tinham muitas chamadas perdidas, quando eu atendi eram pessoas do hospital querendo saber como estava a minha filha, pediram foto de como ela estava agora e antes. Pediram pra eu voltar pro hospital porque eles estavam suspeitando que minha filha tinha uma doença. Quando eu cheguei lá, a médica foi fazendo a internação dela, levaram ela pra cima e pediram um exame da cabeça e falaram que ela tinha um tumor. Colocaram ela no isolamento pra não pegar outras doenças. No outro dia, após um exame com contraste a médica descartou o tumor”, pontuou.
Valdênia diz ter recebido a informação de que seriam lesões, mas os profissionais não sabiam explicar. Foram feitos outros exames e a criança seguia sem acordar. A saturação era boa, assim como o coração.
“Quando foi 2h10 da manhã, ela começou a ter uma convulsão, ela se enrijeceu todinha e levaram ela pra UTI e não acordou mais. Depois me chamaram e diagnosticaram que ela tem morte encefálica e que minha filha não vai voltar mais, mas até então o coração dela ainda bate, ela tá intubada, mas eles falaram pra mim que ela não reage mais a nada e que o médico disse que tem 25 anos de experiência, que se ela voltar só se for o milagre”, desabafou.
A mãe registrou um Boletim de Ocorrência na Polícia Civil. Segundo ela, os envolvidos no atendimento serão ouvidos na delegacia nesta semana.
O que diz a Sesa
Em resposta ao Portal SN, a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) afirmou, em nota, que a paciente passa por protocolo de diagnóstico de Morte Encefálica, com exames clínicos e de imagem. Veja a nota da íntegra:
“O Hospital da Criança e do Adolescente (HCA) esclarece que a paciente Maylla Linda Carneiro de Aguiar, de 1 ano de idade, segue internada na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) desde o domingo, 12, onde passa por um protocolo do Ministério da Saúde para prognóstico de Morte Encefálica (ME), que exige uma série de exames Clínico e de Imagem.
Uma equipe da UTI pediátrica e equipe multidisciplinar com neuropediatras, neurocirurgiões e outras especialidades seguem trabalhando incansavelmente para fechar o prognóstico do ponto de vista legal, investigando ainda, as possíveis causas do problema.
Ao mesmo tempo, o HCA/PAI vem acolhendo a família da pequena Maylla, em especial a mãe, com psicólogos e mantendo a atualização do caso com informações diariamente. A direção da unidade entende a angústia nesse momento delicado e não mede esforços para a conclusão do caso.”