Por SELES NAFES
A expectativa da exploração do petróleo gerou investimentos privados, especulação imobiliária e a certeza de que o futuro guarda bons momentos de prosperidade para Oiapoque, cidade a 590 km de Macapá, na fronteira com a Guiana Francesa. Na prática, no entanto, o cenário é outro.
Muito antes do primeiro barril de óleo ser extraído na costa do Amapá, o município enfrenta uma onda de migração nunca vista na região. Pelo menos sete bairros novos, alguns com características de favelas, surgiram nos últimos dois anos, devastando a mata nativa e multiplicando a quantidade de problemas sociais que já eram muitos.
Oiapoque é cercada de unidades de conservação e terras indígenas. Essa configuração limitou a possibilidade de crescimento ordenado da cidade, que possui menos de 3% de terras disponíveis. Se o território para investimentos já era escasso, ele ficou ainda menor com o surgimento das sete novas comunidades de Areia Branca, Independência, Belo Monte, Nova Conquista, Matinha, Nova Vila Vitória e Aeroporto.

Bairro de Belo Monte em 2021, com floresta nativa ao fundo

…que deu lugar a ruas e mais casas e barracos…
Já são centenas barracos com lonas, pequenas casas de tijolos, ruas abertas e ligações clandestinas de energia sobre o que antes era cerrado e árvores. Fotos e vídeos aéreos revelam a velocidade e a dimensão do desmatamento. Só a área onde fica a Nova Vila Vitória é do tamanho de 320 campos de futebol. O bairro deveria ser desocupado nesta segunda-feira (15) pela Polícia Militar e equipes da prefeitura, mas o Tribunal de Justiça suspendeu a reintegração de posse concedida ao município.
Serviços e custo de vida
O crescimento da população de Oiapoque também sobrecarregou os serviços públicos. As oito escolas municipais (que nem possuem prédios próprios) recebem recursos do Fundeb para 4 mil alunos, mas a Secretaria de Educação já contabilizou cerca de 6 mil em 2025. Os salários da maior parte dos professores estão atrasados.

Bairro de Areia Branca avança sobre a floresta…

…assim como a Matinha (ao fundo)

Centenas de casas sendo construídas
As ocorrências policiais também dispararam graças à disputa de facções pelo tráfico de drogas, assim como o atendimento na rede de saúde. A pressão sobre a lixeira pública é a pior da história de Oiapoque. Localizado a apenas 2 km do centro da cidade, o lixão atrai urubus, ratos e continua gerando um forte odor que atormenta a vida de moradores vizinhos.
O custo de vida ficou absurdo. Os alimentos e combustíveis estão 30% mais caros. O aluguel de uma quitinete simples chega fácil aos R$ 1.500.
Oiapoque não vive seu melhor momento. O município tem a maior parte das ruas sem asfalto e um prefeito pendurado no cargo por uma decisão judicial. A única certeza é de que, antes de melhorar, ainda vai piorar muito.