Por PEDRO PESSOA, de Belém
Viver um RexPa é mais do que assistir a um jogo. É mergulhar em um ritual amazônico de paixão, rivalidade e resenha. Antes mesmo do apito inicial, o clássico já ferve nas esquinas, nas redes sociais e claro, no Ver-o-Peso, onde a “encarnação” corre solta. Remistas e bicolores trocam farpas, promessas e provocações que só quem vive o RexPa entende.
Horas antes da bola rolar, o torcedor encara o primeiro desafio: o trânsito rumo ao Mangueirão. Uma espécie de pré-jogo de paciência. Do lado azulino, o caminho é pela Augusto Montenegro, sempre fervendo de buzina e bandeira. Já os bicolores invadem a Centenário com o mesmo fervor. E dentro dos carros, o clima é de arquibancada: hinos, batuques, pré-jogo no rádio e o grito preso na garganta.
No estacionamento, a festa continua. Porta-malas viram caixas de som e o cheiro de “espetinho de gato” domina o ar. Por cinco reais, o torcedor garante a refeição sagrada: carne assada, farinha e pimenta à vontade. O verdadeiro combustível da torcida.
Pra quem chega em cima da hora, a fila na catraca é inevitável. Subir a rampa do Mangueirão e ver famílias inteiras vestidas de azul marinho ou azul celeste é entender que o RexPa é um patrimônio emocional do Pará. Crianças, senhores, jovens, todos unidos pela paixão que atravessa gerações.

Muitas famílias foram ao estádio para assistir ao maior clássico do Norte

Torcida deram um show

Quase 42 mil torcedores foram ao Mangueirão. Fotos: Pedro Pessoa/SN
Lá dentro, o espetáculo começa antes da bola. As arquibancadas cantam sem parar, embaladas pelas bandas das torcidas organizadas. E quem for ao estádio, vá preparado: água a R$ 10, cerveja a R$ 15 e uma pipoca grande a R$ 60 — o verdadeiro teste de amor ao time. A reclamação é unânime, mas ninguém deixa de comprar. É tradição sofrer até no bolso.
No clássico desta terça-feira (14), o Mangueirão pulsou. O Remo fez um mosaico triplo homenageando o Círio e, claro, provocando o rival. Já a torcida do Paysandu, mesmo com o time na lanterna da Série B, mostrou na garganta o que faltou em campo: garra e amor.

Enquanto isso…
Teve de tudo
E o jogo… ah, o jogo! Teve de tudo. Gols, viradas, drama e um desfecho de cinema. O Remo abriu 2 a 0, viu o Papão empatar, e quando o empate parecia destino certo, Diego Hernandez acertou uma cobrança de falta perfeita aos 48 minutos do segundo tempo. Um golaço, daqueles que fazem até narrador perder o fôlego.

Remo saiu na frente, houve e empate e o gol da vitória por 3 a 2
Final: Remo 3, Paysandu 2. Emoção, provocação e história. O RexPa mostrou mais uma vez por que é o clássico mais jogado do planeta — 780 edições de pura rivalidade. No total, 41.991 torcedores acompanharam o duelo, resultando em uma renda de R$ 1.785.330.
E quando o torcedor deixa o Mangueirão, ainda suando, rouco e feliz (ou inconsolável), uma certeza fica no ar: pode até mudar o placar, mas o amor pelo clube é imutável. E ano que vem… começa tudo de novo, provavelmente só no campeonato estadual, porque o Papão estará na Série C e o Remo, já garantido na B, tenta o sonho do acesso à Série A depois de mais de 30 anos longe da elite do futebol.