Por SELES NAFES
“Sei que ele está morto. Vai fazer três meses o desaparecimento dele. Recebi áudios afirmando que o mataram com quatro tiros na cabeça. Infelizmente, ele entrou nessa vida. Pedimos muito para ele sair, e hoje estou nessa luta para encontrar o corpo do meu filho.”
O depoimento é de uma comerciante de Oiapoque, cidade na fronteira com a Guiana Francesa e a 590 km de Macapá. Kate Andrade Silva, que comercializa materiais de construção junto com o marido, teve apenas um filho: Eduardo Lima da Silva, de 18 anos.
Eduardo teve uma infância feliz, brincando na rua com amigos, teve conforto, fez viagens e cresceu em uma família sem violência. Optou em não ter tatuagens. Contudo, na adolescência começaram os problemas de relacionamento com os pais.
Veio o abuso de álcool, maconha e cocaína. Mesmo assim, ainda trabalhava com a família e participou de momentos marcantes para a mãe, como as formaturas dela em duas graduações pela Universidade Federal do Amapá (Unifap).

Eduardo teve conforto, educação e uma infância divertida, sem violência em casa…

…mas na adolescência houve problemas de relacionamento

….e uso de drogas
Este ano, após uma discussão, Eduardo saiu de casa apenas com uma mochila que levava para a escola — a mesma que foi encontrada dias depois. A família descobriu que ele estava frequentando uma comunidade de Oiapoque dominada por uma facção e era encarregado de vender drogas em um bar.
“Lutei muito com meu filho. Ele não precisava ter entrado (para o tráfico). Sou empresária, formada em Letras e Contabilidade. Ele colocou o anel no meu dedo, em 2023. Sou casada há mais de 20 anos. A gente sempre procura uma explicação. Eu e meu marido nunca tivemos violência dentro de casa. Sempre foi só luta e dedicação. Eu me pergunto sempre onde eu errei, porque comigo”, desabafa a comerciante.
No fim de julho, já morando fora de casa, Eduardo chegou a ser detido pela polícia, mas acabou sendo liberado após interrogatório.
No dia 6 de agosto, uma semana depois de ter sido preso e solto, o jovem desapareceu. O inquérito corre em sigilo, mas a suspeita da polícia é de que Eduardo tenha sido morto pela própria facção para a qual trabalhava, acusado de ter repassado informações aos investigadores sobre a organização criminosa.

“Pedi muito pra ele sair dessa vida”

Trabalhando com os pais no comércio de material de construção
A mochila
Uma câmera de segurança mostrou quando um casal deixou a mochila de Eduardo em uma lixeira, no dia 18 de agosto. Dentro havia roupas pessoais, documentos e o cartão de crédito dele.
Com a ajuda de uma ferramenta de identificação facial da Polícia Federal, foi possível identificar nas imagens quem eram as duas pessoas, que foram intimadas a prestar depoimento. O Portal SN não foi possível ter acesso ao conteúdo dos interrogatórios porque o inquérito corre em sigilo.
O portal apurou que, até agora, foram ouvidas 14 pessoas no inquérito que investiga o desaparecimento e provável homicídio de Eduardo.

Com a mochila que depois seria abandonada e hoje é prova no inquérito que investiga a tese de homicídio
A Polícia Civil pediu à Justiça a quebra do sigilo telefônico de Eduardo para entender com quem ele falou antes de morrer e aguarda a resposta da operadora.
Enquanto isso, a família cobra o andamento das investigações e o acompanhamento do Ministério Público. Com postagens em que declara amor pelo filho nas redes sociais, a mãe tenta evitar que o caso caia no esquecimento.
