Aluna do Amapá vence prêmio nacional com kit solar portátil que atende castanheiros na floresta

Manuelle, do Ifap, desbancou 210 concorrentes e vence Prêmio Jovem Cientista com kit solar portátil
Compartilhamentos

Por RODRIGO DIAS

No coração da floresta, onde o barulho dos motores a diesel costuma disputar espaço com o som da mata, uma jovem pesquisadora amapaense decidiu reescrever essa rotina. Manuelle da Costa Pereira, 22 anos, estudante do Instituto Federal do Amapá (Ifap), foi a vencedora da categoria Ensino Superior, que teve 211 trabalhos inscritos, no 31º Prêmio Jovem Cientista. A conquista foi anunciada nesta quarta-feira (26) pelo CNPq, em Brasília.

O reconhecimento veio graças ao Kit Solar Castanheiro, uma solução portátil que promete transformar o cotidiano de extrativistas da Amazônia. A criação, apresentada recentemente na COP 30, em Belém (PA), nasceu como alternativa limpa e acessível aos geradores a diesel – caros, pesados e altamente poluentes.

“Esse projeto surgiu a partir de observações de comunidades extrativistas, que vivem em áreas remotas onde a energia convencional não chega, principalmente os castanheiros. Nosso kit surgiu para atender necessidades básicas durante a coleta da castanha”, explicou a jovem pesquisadora.

O equipamento passou por um longo percurso de prototipagem até alcançar sua versão final. Inicialmente volumoso, com cerca de mil litros (de tamanho), o kit foi redesenhado até chegar a apenas 50 litros — tamanho suficiente para servir como uma mochila. O custo total gira em torno de R$ 2,8 mil, em grande parte devido ao reaproveitamento de bombonas descartadas na região.

Versão compacta para 50 litros

Com bateria própria, o dispositivo permite carregar lanternas, rádios, celulares e pequenos utensílios. Itens simples, mas essenciais para quem passa semanas ou até meses em meio à floresta coletando castanha.

“O modelo de utilidade foi testado e aprovado pelos extrativistas aqui da região. A bateria atende às necessidades básicas durante o período de coleta”, afirma Manuelle.

O projeto começou em 2022, impulsionado por uma bolsa de Iniciação Tecnológica do CNPq que permitiu a Manuelle desenvolver a pesquisa sem precisar deixar sua cidade natal, Laranjal do Jari. Integrante do Centro de Estudos em Ecologia e Manejo na Amazônia, ela acompanhou de perto o cotidiano dos castanheiros de São Francisco do Iratapuru, no Vale do Jari — território onde a castanha sustenta famílias há gerações. A vivência em campo foi determinante.

“A ideia surgiu a partir dos trabalhos com castanheiros da região. No período de coleta, eles permanecem semanas ou meses na mata. O projeto veio como fonte de energia que não polui o meio ambiente”, pondera a estudante.

Com os outros estudantes premiados

Inovação

Em 2023, Manuelle e seu orientador, o professor Diego Armando Silva (IFAP), registraram o kit como modelo de utilidade no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI). A iniciativa contou com apoio do Núcleo de Inovação Tecnológica do Ifap e também com apoio da Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado do Amapá -FAPEAP, Secretaria de Ciência e Tecnologia do Amapá por meio do Programa Doutor Empreendedor.

“É um projeto de inovação e também uma marca registrada que surge da vida dos castanheiros e da relação do Instituto Federal com as comunidades do Vale do Jari”, destacou Diego.

O projeto dialoga diretamente com os princípios da Amazônia 4.0 e com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, que defendem soluções sustentáveis construídas a partir dos saberes locais. O próximo passo é aprimorar o kit para ampliar sua eficiência e adaptá-lo a outras demandas das comunidades extrativistas.

“Esse prêmio é um feito inédito, porque é a primeira vez que uma estudante do Amapá ganha um prêmio dessa magnitude. Isso mostra que a ciência produzida na Amazônia tem força, tem valor e precisa ser vista,” comemorou Manuelle Pereira.

A pesquisadora, filha de pais simples — um pedreiro autônomo e uma professora da rede pública —, fez questão de agradecer o apoio familiar.

“Eles nunca mediram esforços para investir nos meus estudos, e tudo isso que estou vivendo hoje também é fruto do apoio deles”.

Com o reconhecimento nacional, o próximo passo do projeto é aprimorar o kit para ampliar sua eficiência e adaptá-lo a outras demandas extrativistas. A criação de Manuelle ganha força para seguir trilhando novos caminhos, oferecendo energia limpa e esperança para as famílias que mantêm a floresta em pé.

Seles Nafes
Compartilhamentos
Insira suas palavras de pesquisa e pressione Enter.
error: Conteúdo Protegido!!