ANDRÉ SILVA
Moradores do Quilombo do Curiaú, em Macapá, há 19 anos são informados dos fatos que acontecem na comunidade por meio do primeiro periódico produzido ali mesmo: o “Jornal do Quilombo”. Ele é feito artesanalmente por um morador da localidade que também escreve livros de poesias, da história do quilombo e crônicas do lugar.
Sebastião Menezes da Silva, de 59 anos, mais conhecido como Sabá, nasceu, e, como ele diz, se criou na comunidade quilombola. Ele é o dono, repórter, editor e diagramador do jornal que é o meio de comunicação mais conhecido do Curiaú.
O jornal, que tem a maior parte das edições impressas em folhas de papel A4 sem imagens ilustrativas, está na sua 125º edição. O material produzido é dividido em cinco editorias: História, Anúncios, Denuncias, Comentários e Ponto De Vista.
O jornal, conta Sabá, nasceu depois que o pai dele teve a canoa roubada do quintal da casa.
“Ele ficou muito chateado e a gente, pra querer que as pessoas soubessem do roubo, aproveitei o momento e fiz um panfleto e saí distribuindo. Depois eu vi que tinha que ter mais matérias para chamar a atenção das pessoas e elas não só olhassem o folheto e jogassem fora”, lembrou seu Sabá.
O atrativo do Jornal, considera, é a parte das denúncias. Ele disse que para chamar a atenção dos leitores é preciso que o periódico entre em assuntos que incomodam os moradores e não é divulgado na mídia tradicional.
Um dos exemplos mais recentes e que vai sair na próxima edição, é a questão das carretas que passam carregadas de soja, vindas de municípios que margeiam a Rodovia AP 070. Segundo o escritor, o asfalto da rodovia que corta o quilombo, não vai suportar o trânsito provocado pelo vai e vem dos caminhões.
“Desde cedo até altas horas da noite, essas carretas passam por aqui carregadas de soja e isso não é legal para nós. Além de que a estrada não é preparada para receber esse fluxo de carro. Algumas carretas passam aqui que de tão alta arrebentam os fios das casas. Várias casas tiveram prejuízo e nunca foram ressarcidos”, disse o editor.
Além de jornal, Sebastião Menezes já produziu livros que contam as historias das pessoas que passaram a infância no quilombo. Além de contar a história do próprio lugar, como seu nascimento que perpassa pela história da primeira família a habitar o local e das brincadeiras das crianças da época.
Seu Sebastião é agricultor e vive da roça que planta. Ele disse que o jornal não dá lucro porque ele faz questão de que os exemplares sejam distribuídos de graça para a comunidade.
O jornal tem um único patrocinador. Todo valor arrecadado é destinado à produção do periódico.
Seles Nafes