Por MARCO ANTÔNIO P. COSTA* e BENÍCIO PONTES**
Se você é amapaense, sabe: caso não tenha comprado uma passagem aérea com bastante antecedência ou esteja disposto a desembolsar uma grande quantia de dinheiro, só irá sair do Amapá através de navios.
Às vezes, em casos de saúde ou reuniões de trabalho, nem todos podem ter tempo para a viagem de 24 horas pelos rios amazônicos. E, cá entre nós, apesar de bonita e bucólica, a viagem também tem seus perrengues.
A vinda de turistas de fora do Estado para conhecer nossas belezas e culinária – recentemente eleita a melhor culinária do país por um importante influenciador digital do ramo do turismo – tem como um dos principais entraves o altíssimo preço das passagens aéreas.
Houve um período, ainda este ano, que a passagem no trecho Macapá/Belém chegou a inaceitáveis R$ 5 mil.
As empresas aéreas cobram fortunas, remarcam passagens e deixam o cliente sem alternativa. O turismo, que tem potencial enorme de ser uma indústria potente no Amapá, fica limitado.
Por isso, o Instituto Municipal de Turismo (Macapatur) pediu, em fevereiro deste ano, uma intervenção do Ministério Público do Amapá (MP) sobre o preço abusivo de passagens. Já houve duas audiências. Este, é um caminho possível, mas há outros.
Alternativa
A solução para dar fim ao grande isolamento do Amapá pode estar, também, na aviação regional, especificamente através de aviões turboélice que podem ter até 40% a menos de custos.
Já pensou você poder pagar R$ 200 para ir ou para voltar de Belém, sem ter que comprar sua passagem seis meses antes? Talvez não seja impossível.
A Embraer, uma das principais empresas brasileiras, acaba de anunciar seu conceito de novo projeto, um novo avião, o Turboélice de Nova Geração (TPNG). Trata-se de um projeto moderno, bonito, inovador, com hélices atrás, assim como seriam os esféricos tanques de combustível.
Tudo bem que os primeiros modelos devem estar prontos apenas em 2027 e 2028 – caso saia mesmo do papel – mas se seus executivos e especialistas de mercado fazem essa aposta, eles se encontram com nossa ideia, pois está nítido para o mundo inteiro que há um enorme vácuo em viagens de curta distância onde o jato tem alto custo operacional.
A composição do “charuto” (o meio do avião) com capacidade entre 74 e 90 passageiros seria o ideal para a nossa realidade. Em relação ao jato, é muito mais barato e é muito seguro também.
Mas, não precisamos esperar o novo modelo da Embraer. Há modelos e empresas que atualmente utilizam turboélices. A empresa Azul e a Trip utilizam em alguns Estados o ATR-72 (e suas variações), de fabricação francesa e, como o nome diz, tem capacidade para 72 passageiros, ou, a depender de ajustes, um quantitativo próximo a isso.
Pela empresa regional que atua no centro-sul do país, a Passaredo, tivemos a possibilidade de fazer um voo no ATR, anos atrás, no trecho Rio de Janeiro/Uberlândia. E a aeronave encaixa-se perfeitamente em nossas necessidades.
Sabemos que muitas tentativas vãs já foram realizadas, mas não há mal que nunca se acabe e acreditamos na força das boas ideias e do trabalho para tentar superar nossos gargalos históricos. Se chegaremos a preços de R$ 200, é uma aposta, o importante realmente é baixar os custos.
As cenas dos próximos capítulos dependem de esforço do conjunto das autoridades do Amapá, boa vontade e articulação política.
*Sociólogo e entusiasta da aviação como elemento de desenvolvimento.
**Advogado e atual Diretor-Presidente da Macapatur.