Por RODRIGO ÍNDIO
Representantes do grupo Narcóticos Anônimos, de Belém (PA), estão em Macapá para lembrar os 20 anos de atividade no Amapá. Os “12 passos” do NA costumam ser a base de programas de reabilitação onde há somente um requisito para ser membro: o desejo de parar de usar drogas.
O NA é um movimento derivado dos Alcoólicos Anônimos que nasceu nos Estados Unidos na década de 1950. Não tem filiação a outra organização, matrículas e nem taxas. Não há compromissos escritos, nem promessas a fazer a ninguém, como gostam de enfatizar os membros. Eles também não são ligados a grupos políticos, religiosos ou policiais.
O objetivo do movimento é divulgar o trabalho para que mais pessoas busquem apoio. Nessa reportagem, eles terão nomes fictícios.
Paulo, 56 anos, é eletricista. Ele se envolveu aos 14 anos com drogas ilícitas e lícitas, e chegou ao fundo do poço após perder o controle sobre sua vida. Há 25 anos, ele está em recuperação a partir do desejo de parar de usar drogas e encontrar uma nova maneira de viver.
Pedro, de 40 anos, está em recuperação há 2 anos e se rendeu ao NA também pelo desejo de parar de usar drogas. O professor diz não se sentir mais só por encontrar na irmandade pessoas com os mesmos problemas e soluções. Ele busca se conhecer mais através do programa de 12 Passos de ajuda mútua.
Eles vieram a Macapá conhecer João, do NA de Macapá, com o objetivo de fortalecer a mensagem. João está ‘limpo’ há 7 anos e 1 mês. Ele é mais um que chegou ao fundo do poço. O funcionário público mudou de vida no NA e afirma ter se tornado um membro produtivo da sociedade.
O Portal SelesNafes.Com teve um bate-papo com o trio que foi respondendo de forma aleatória a cada pergunta.
Muitos centros de reabilitação utilizam a filosofia do Narcóticos Anônimos. Como é essa filosofia?
Paulo: Bom, o programa de Narcóticos Anônimos é um programa espiritual não-religioso. Trabalhamos com 36 princípios, 12 Passos para recuperação e 24 para área de serviço. Então, hoje as instituições, centros terapêuticos, clínicas de reabilitação, casas de apoio, todas usam o programa de Narcóticos Anônimos. Abrange outras comunidades pra ajudar na recuperação contra adicção ativa (dependência).
Com a pandemia, aumentou ou reduziu a quantidade de jovens envolvidos com drogas? E por que?
Pedro: Conseguimos perceber que no período de pandemia, após os lockdowns, os grupos presenciais foram fechados. Fomos para o grupo virtual e teve um aumento considerável de pessoas querendo conhecer a irmandade em nível mundial. Nós percebemos que muitas pessoas conseguiram conhecer nossa mensagem através da tecnologia. É importante pra nós. A juventude participa desse momento de crescimento, assim como o público LGBTQIA+. Tá sendo muito legal receber esses companheiros.
Existem também pessoas acima de 50 anos dependentes químicos. Para esses o tratamento é mais difícil?
Paulo: Uma pergunta importante. Pra chegar ao fundo do poço e admitir sua impotência perante a adicção com drogas, a pessoa precisa de fato ficar lá embaixo. Antes ela vai ficando com uma autossuficiência, achando que ela vai ter o controle da droga, que vai conseguir sozinha. É a doença do egocentrismo, que ‘a vida é minha, trabalho, tenho meu dinheiro, não roubo’, mas não é bem assim. Ele vai chegar ao extremo de sua doença. Tem que querer (deixar). Vai ter dificuldade? Vai! Porque a droga deixa sequelas. É um processo de rendição maior. Existem todos os públicos e é possível, sim, recuperar.
Como o NA avalia a política pública de tratamento dos dependentes?
João (Macapá): É um grupo de ajuda mútua que não cobra taxa e nem matrícula. Fazemos isso pelo bem do próximo que sofre os mesmos problemas que a gente. Faltam políticas por parte dos governantes, mas a gente é multiplicador da mensagem. No Amapá, temos grupos em Macapá e Santana. O de Macapá é localizado no Bairro Buritizal, na Avenida 13 de Setembro com a Rua Professor Tostes. As reuniões são nas sextas, às 19h, e nos domingos às 17h. Em Santana é o Grupo Vida, localizado na Igreja da Praça Cívica, com reuniões às quintas, às 19h. Linha de ajuda (para mais informações) pelo número 3003-5222.
Quais as drogas mais usadas atualmente?
João (Macapá): Em Narcóticos Anônimos nosso problema não é uma droga específica, o nosso problema é a doença da adicção que se manifesta com comportamentos compulsivos e obsessivos. Logo no início nós temos que parar, que quebrar essa compulsão e obsessão pelas drogas, seja por qualquer tipo, lícita ou ilícita.
Qual será a agenda do NA em Macapá?
Pedro: O objetivo é levar esta mensagem. Haverá a 7ª Convenção, em Belém, entre 24 e 26 de junho para debater a experiência.