Por SELES NAFES
Policiais da Delegacia de Mulheres de Santana, cidade a 17 km de Macapá, encerraram nesta quarta-feira (5) as investigações acerca do assassinato de uma jovem de 18 anos, vítima de um tiro na cabeça disparado por uma cartucheira. O namorado dela está preso após confessar o crime e alegar que o tiro foi acidental.
O corpo de Vanuza Santos Nunes foi encontrado na casa onde ela passava os fins de semana com o namorado, Michel da Silva Araújo, de 18 anos, no Bairro Nova União, uma das comunidades mais carentes de Santana. A jovem estava com o rosto desfigurado pelo tiro que explodiu o crânio. O namorado fugiu do local.
Acreditando que 24 horas depois do crime ele escaparia do flagrante, se apresentou no dia seguinte na delegacia acompanhado de um advogado, mas recebeu voz de prisão do delegado Edmilson Antunes.
“No meu entendimento, o crime havia acabado de ser cometido. Estava diante de uma situação flagrancial, cabendo à autoridade policial apenas confirmar se existia inquestionável indicativo de autoria e materialidade, e se o crime foi consumado em um tempo exíguo em relação a apresentação espontânea”, explicou o delegado ao Portal SN. A justiça converteu em preventiva a prisão.
Emoção
Durante o inquérito, o delegado tomou depoimento da mãe da jovem, que revelou ter se esforçado para que a filha terminasse o namoro que havia começado três meses antes. As duas moravam no residencial Macapaba, na zona norte de Macapá.
A mãe contou que começou a desconfiar da índole de Michel quando soube que o casal havia sido abordado por uma equipe da PM em policiamento de rotina. Dias depois, a filha revelou que era ameaçada de ter a cabeça raspada caso o relacionamento terminasse.
Um dia antes do crime, Vanuza passou o dia no balneário do Curiaú, em Macapá, na companhia de amigas. Ela voltou para casa por volta das 19h, e disse à mãe que iria à casa do namorado, em Santana, para terminar o relacionamento.
“Eu só vou terminar com ele e volto. Te juro”, disse a jovem à mãe preocupada.
Às 22h, ao subir numa mototáxi, Vanuza se despediu em tom premonitório.
“Mãe, se eu não voltar eu te amo, mais que tudo”. No dia seguinte, a mãe viu pelas redes sociais que a filha havia sido morta. O depoimento dela emocionou todos na delegacia.
Amigas da vítima também prestaram depoimento e confirmaram que Vanuza já tinha sido agredida e ameaçada pelo namorado, que seria associado a uma facção do Amapá e com o tráfico de drogas.
Risos
Michel estava morando na casa de um amigo, o mesmo imóvel onde o crime aconteceu. Em depoimento, o acusado admitiu que estava comercializando drogas, que tinha comprado uma espingarda calibre 12 com capacidade de 5 tiros, e mas assegurou que o casal estava bem.
Na noite do crime, na versão de Michel, os dois passaram a noite juntos e chegaram a falar sobre casamento. Vanuza se queixava de dor de cabeça e teria recebido um remédio do namorado, que foi até a cozinha e voltou com a arma que ele pensou estar sem munição.
Pela manhã, por volta das 8h, Vanuza teria acordado ainda se queixando de dor de cabeça. Michel argumentou que sempre brincava apontando a arma para a cabeça da Vanuza. Ele teria ficado assustado após o tiro, ao perceber que a arma tinha munição.
O estrondo do tiro atraiu a vizinhança, e Michel fugiu. Ele alegou no depoimento que atirou a arma numa área alagada. Ela nunca foi encontrada. A polícia suspeita que a espingarda tenha sido entregue por ele à facção após a fuga.
O dono da casa onde os namorados dormiam também prestou depoimento junto com a esposa, e disseram não ter ouvido qualquer tipo de briga entre os namorados. Em lugar disso, risos teriam sido ouvidos.
Durante depoimento, Michel estava tranquilo e sorridente, sem imaginar que seria preso. Hoje, ele foi indiciado por feminicídio e o inquérito foi encaminhado pelo delegado Edmilson Antunes para o Ministério Público.
O namorado vai aguardar o andamento do processo no Instituto de Administração Penitenciária do Amapá (Iapen).