Por CAROLINA MACHADO
Aos 34 anos, a soldado Pabla, da Polícia Militar do Amapá, vive uma rotina árdua, construída com muita perseverança e determinação. Há 4 anos, ela ingressou nas fileiras da corporação no Curso de Formação de Soldados (CFSD), que iniciou em agosto de 2019. Atualmente, ela faz parte da 2ª Companhia de Choque do Batalhão de Operações Especiais (Bope). Mas, até ingressar na PM, a soldado Pabla teve que percorrer um longo e doloroso caminho.
Natural de Laranjal do Jari, no sul do Amapá, ela se preparou para o concurso público em um cursinho gratuito para a comunidade oferecido no 11º Batalhão, localizado naquele município.
“Quando tive conhecimento da prova, eu senti uma vontade imensa de fazer parte, mas por morar lá, eu não tive como vir me preparar em Macapá. Mesmo assim, não baixei a minha cabeça e me dediquei completamente aos estudos. Estudava de manhã, à tarde e à noite, mas a aprovação veio”, lembrou.
Após essa fase, iniciaram outras, como a corrida para ser aprovada no Teste de Aptidão Física (TAF) e o CFSD, a etapa mais desafiadora.
Como foi a sua vida durante o curso de formação?
Um curso de formação de soldados por si só não é fácil. Mas comigo houve algumas dificuldades a mais. Quando vim pra Macapá iniciar o CFSD, eu ainda estava com vínculo de um contrato administrativo na Educação. Encerrei o vínculo, mas não foi dado baixa no sistema. Por isso, eu não conseguia receber a remuneração como aluna soldado e nem a da Educação. Fiquei 2 ou 3 meses sem receber. Meu filho ficou no Jari com minha família e eu fiquei na casa de uma amiga. Foi um momento muito difícil. Eu não tinha mesmo como me manter aqui, mas continuei firme no curso. Fiquei na casa de uma amiga, mas lá não tinha muita coisa. Não tinha geladeira, não tinha fogão. Tinha dias que eu saia muito tarde do curso e eu não conseguia nem me alimentar. Quando eu chegava na casa, eu ainda tinha que lavar e passar a roupa para deixar tudo arrumado para o outro dia. Por volta das 2h da madrugada, eu deitava para dormir, mas logo eu levantava para ir pro curso.
Depois disso, o curso melhorou?
Só piorou. Meu filho adoeceu e isso me desestabilizou. Eu passei mal durante o curso por tudo isso, mas a coordenação descobriu e se mobilizou em me ajudar. Eles me ajudaram fazendo coleta e me emprestando um valor para eu me manter por um tempo. Até que eu consegui receber na PM. Foi uma provação muito grande, mas deu tudo certo. Isso serviu para eu ver que por mais que tenhamos dificuldades, nós conseguimos superar tudo.
O que você sentia quando via que estava tudo difícil para alcançar o sonho de ser soldado?
Sentia que apesar de estar enfrentando um momento difícil, eu não poderia desistir da conquista da minha tão sonhada carreira. Sabia que todas as dificuldades seriam superadas e que tudo iria valer a pena. E valeu muito, muito cada sacrifício feito.
Como foi para você fazer parte do Bope?
Durante o curso eu conheci 2ª Cia Choque e me despertou uma vontade imensa de fazer o Curso de Operações de Choque e me tornar uma “choqueana”.
Qual foi a dificuldade enfrentada para fazer parte do Bope?
A maior dificuldade foi que após o curso da Força Tática, em que a minha lombar travou duas vezes, descobri que tenho hérnias de disco. Meu maior desafio seria me preparar para o Curso de Operações de Choque para suportar as cargas, haja vista que, uma das características do curso do Choque é a rusticidade e a sobrecarga que cada aluno deve carregar. Porém, com uma boa preparação através de muita dedicação aos treinos, consegui vencer. A cada dia era uma superação, cada etapa, uma vitória, até após muita luta e intermináveis 62 dias conquistei o meu elmo sagrado, o meu brevê.
Hoje você ensina as pessoas a vencerem a temida barra?
Sim. Ensino muitas pessoas a se prepararem para passar no teste da barra, exigido em muitos TAFs. Tem aluna que não cobro nada e tenho também as que cobro só metade do valor. Eu já estive do outro lado e sei o que é precisar se preparar para um TAF ou para um curso e não ter condições financeiras ou ter que investir o pouco dinheiro que tem e que dá somente para suprir as necessidades básicas. São pessoas com garra e vontade de vencer.
Como é sua rotina de soldado no Bope?
Além serviço embarcado de patrulhamento, na Companhia Choque desempenho funções como escudeira ou atiradora em uma missão no Iapen, por exemplo, como instrutora de IMPO (Instrumento de Menor Potencial Ofensivo) nos cursos de formação, aperfeiçoamento e operacionais. Policiamento nos estádios de futebol, como armeira.
Minhas atribuições no serviço embarcado atuo como “segundo homem” (motorista da viatura), como patrulheira “terceiro homem” ou “quarto homem”, onde sou responsável pela busca pessoal e veicular, além de acompanhar o comandante e preservar pela segurança dos meus companheiros, assim todos da equipe.
O que é ser soldado para você?
O sentimento é de imenso orgulho de poder vestir a farda e defender a sociedade, não importa a hora e nem a missão a ser cumprida. Faço com muita honra. Me tornar soldado não somente me capacitou profissionalmente, mas transformou a minha vida, minha mentalidade, meus hábitos, agregou muitos, muitos valores.