Por PEDRO PESSOA, de Belém
Por muito tempo, os guindastes da beira da baía Guajará ficaram em silêncio. As estruturas de ferro que um dia moveram a economia da borracha viraram testemunhas de um tempo que parecia ter parado. Mas, nesta semana, o tempo voltou a correr na orla de Belém. A cidade reencontrou o seu porto e com ele parte da sua própria história.
Foi inaugurado o Porto Futuro, um complexo de lazer, cultura e inovação que nasce colado à Estação das Docas, o velho porto de 1909 que há vinte e cinco anos, já havia sido transformado em um dos cartões-postais da capital. Agora, os sete armazéns que restavam ociosos ganharam vida nova. Onde antes o som era de correntes e embarques, hoje ecoa o clique das câmeras.
A história vem de longe. No início do século XX, quando o ciclo da borracha impulsionou o progresso, Belém quis um porto à altura do seu futuro. Vieram da Inglaterra as estruturas metálicas e dos Estados Unidos, os guindastes que hoje são relíquias. Eram símbolos de modernidade. Mas os ciclos mudam. O porto esvaziou, a cidade cresceu, e o rio seguiu seu rumo. Até que, em 2000, parte da área virou a Estação das Docas, devolvendo a orla à população. Faltava, porém, completar o quebra-cabeça.

Complexo é a continuação da Estação das Docas

…espaço existe desde 1909

Parque Bioeconomia…

…conecta tradição e ciência
Com a chegada da COP 30, esse pedaço esquecido da história finalmente foi reescrito. A União cedeu o espaço, o Governo do Pará e a Vale uniram forças, e o resultado é um conjunto de 50 mil metros quadrados que combina arquitetura original e tecnologia, tradição e futuro. O vermelho óxido dos armazéns antigos contrasta com os painéis de vidro.
O primeiro passo dessa caminhada está no Museu das Amazônias, um espaço que traduz o espírito do novo complexo. Logo na entrada, uma esfera com projeções da artista Roberta Carvalho mostra as múltiplas faces da floresta, a das águas, das cidades, dos povos, das lendas. No térreo, as fotografias de Sebastião Salgado revelam uma Amazônia de contrastes e resistências.
No andar de cima, a mostra “Ajurí”, palavra que em algumas línguas indígenas significa “mutirão”, propõe um encontro entre arte e sensações. o visitante pisa em fibras de coco, sente o cheiro da terra úmida e descobre, entre luzes e sons, a cobra grande, o mito que protege os rios. Além de outras obras de artistas da região.

Museu Amazonias, obra Sebastião Salgado

Museu Amazonias, mostra Ajuri

Continuação da Estação
O passeio segue pelo Armazém da Gastronomia, onde o aroma de tucupi, jambu e castanha se mistura ao barulho de panelas e conversas. São 15 empreendimentos locais que contam, em sabores, a história da Amazonia.
Mais adiante, o Parque da Bioeconomia conecta tradição e ciência. Lá, ideias nascem como sementes. há laboratórios, coworkings, incubadoras e um balcão único que ajuda empreendedores a transformar a biodiversidade da floresta em oportunidades sustentáveis.
E fechando o circuito, um hotel ainda em construção deve receber, em breve, visitantes de todo o mundo, especialmente os que virão para a COP 30, quando Belém será palco global de discussões sobre o clima e o futuro do planeta. O Porto Futuro custou R$ 300 milhões, com parte dos recursos da iniciativa privada.

Obra custou R$ 300 milhões, com parte dos recursos da iniciativa privada