CÁSSIA LIMA e SELES NAFES –
Um vídeo chocante gravado por um detento logo após um colega ter sido torturado e assassinado na última segunda-feira, 21, mostra o nível de selvageria das rixas dentro do Instituto de Administração Penitenciária do Amapá (Iapen), num mês em que três internos foram assassinados. O vídeo, que por razões óbvias não será publicado aqui, mostra a vítima já morta, com pés e mãos amarrados para trás, exibido como se fosse um troféu dentro da cela.
Nas imagens é possível ver os pés de outro detento pisando sobre as costas perto do pescoço de Alexsandro Cruz de Jesus Coelho, de 20 anos, no pavilhão F1. Ele já parece estar morto. De acordo com agentes penitenciários, ele foi assassinado a pauladas.
No vídeo é possível ouvir um rádio ligado e uma voz. O detento, provavelmente é o que está gravando o vídeo, diz que Alexsandro teria roubado ou ameaçado familiares de um dos internos, mas isso não fica bem claro por causa da qualidade do áudio e excesso de gírias.
Foram identificados como prováveis assassinos Adriano Rabelo e o Jackson da Conceição, colegas de cela do Alexsandro.
O número de mortes tem chamado atenção no Iapen. Só este mês três detentos foram assassinados. O motivo é quase o mesmo dos outros casos: rixa entre presos. Este ano pelos menos uma morte foi registrada por mês no Iapen.
“É muito difícil agir em uma situação como essa. Temos 200 internos soltos tomando banho de sol e todos são fiscalizados pelas guardas das guaritas. Não podemos abrir a grade e mandar os agentes para o meio deles. Existem casos que nem vemos a briga, só encontramos o preso morto, infelizmente”, frisou o diretor do Iapen, Jefeferson Dias.
O Iapen possui 700 agentes e 2,7 mil detentos divididos em 11 pavilhões. Um dos principais problemas enfrentados pelo sistema é a superlotação, e isso contribui para o aumento no número de mortes de internos. Com capacidade para 900 presos, o complexo abriga três vezes mais.
Esse gargalo pode ter sido decisivo para que Milfram Matos Lima, de 29 anos, matasse estrangulado o colega de cela Felipe Lima, também de 29 anos, no último dia 15. O motivo do crime não ficou claro, mas os dois eram usuários de drogas. De acordo com os agentes, muitas mortes são motivadas por rixas que acontecem dentro do próprio complexo, mas existem casos que começam fora do presídio.
“No geral o motivo é briga por espaço dentro do sistema penitenciário. Mas também têm casos de briga por venda de drogas fora do Instituto que acaba chegando aqui. Ás vezes não dá tempo de agirmos antes do assassinato”, contou um agente penitenciário que preferiu não ser identificado.
Segundo o diretor do Iapen, quando há uma suspeita de atentado contra a vida de um detento, imediatamente ele é transferido para outro pavilhão. O mesmo ocorre quando há suspeita contra agentes. A situação não é considerada normal.
“Eu só posso agir quando alguém avisa que um interno está sendo ameaçado. Muitas vezes não sabemos. Esse número de mortes não é normal. Porém, é algo que a gente trabalha como fatos isolados devido a esse desentendimento dos internos”, destacou Jeferson.