RODRIGO INDINHO
A Polícia Civil concluiu o inquérito do assassinato da policial militar, cabo Emily Karine de Miranda Monteiro, morta a tiros, aos 29 anos de idade, pelo ex-namorado, o também policial, soldado Kassio de Mangas dos Santos, que está preso.
Nesta sexta-feira (24), a polícia contou detalhes do que foi apurado desde o dia do crime, em entrevista coletiva de imprensa, realizada na Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp).
Kassio foi indiciado por três crimes. Furto, pois ele levou o celular da vítima após matá-la. Fraude processual, já que alterou a cena do crime ao levar cápsulas que caíram da pistola ponto 40 após os disparos. Homicídio, com quatro qualificações: feminicídio (caraterizado pelo ódio à vítima, que era mulher), motivo torpe (apenas o término de um relacionamento), meio cruel (emprego de arma de fogo e deixou a vítima agonizando), e ação que impossibilitou chance de defesa à vítima (que estava deitada na cama quando sofreu os disparos).
“É um inquérito muito volumoso e extremamente criterioso, sobretudo na parte pericial e de riqueza de detalhes nos depoimentos das testemunhas e familiares da Emily”, explicou a delegada Sandra Dantas, que preside o inquérito policial sobre o caso.
Ela e duas delegadas adjuntas, Katiuscia Amaral e Janeci Monteiro, também da Delegacia Especializada de Crimes Contra a Mulher (DCCM) se debruçaram durante 10 dias seguidos na análise de provas materiais, depoimentos e diligências.
Além de profissionais de imprensa, advogados e familiares foram para a coletiva. A jornalista Graziela Miranda, prima de Emily, reconheceu o empenho da polícia e de outras autoridades em resolver, de forma rápida, a morte de Emily. Ela também agradeceu o clamor da sociedade, que se comoveu com a morte da policial.
“A gente vê que todas as entidades da segurança pública estão trabalhando muito pra descobrir como tudo aconteceu, passo a passo. Isso é importante para não deixar brechas, para que a justiça seja feita. Nada vai trazer a Emily de volta, mas esse envolvimento das autoridades em fazer justiça, conforta muito a gente”, considerou a prima da vítima.
Mensagens
Sandra Dantas revelou que, segundo depoimentos, a caminho do hospital, a cabo Emily balbuciou, com a voz tremula e fraca: “Eu não quero morrer”.
A polícia cruzou informações de horários obtidas das câmeras de segurança e de mensagens de whatsapp trocadas por Kassio, com o celular de Emily, com uma colega da vítima. “Queria muito ficar com a Emily, mas ela fez outra escolha”, dizia a mensagem.
“Chegamos à conclusão que ele já tinha assassinado a Emily quando passou as mensagens para a colega dela”, deduz a delegada. De acordo com ela há uma série de informações, com provas materiais, entre mensagens e áudios de celular, que não foram revelados na coletiva e ficarão para análise do Judiciário.
Apesar do inquérito ter sido concluído, as investigações continuam. “Ainda temos algumas diligências para fazer e estamos aguardando alguns laudos para anexar. Nós já apresentamos o inquérito para dar celeridade à resposta para um crime que a sociedade clama por justiça”, explicou a delegada.
Tiros
A principal novidade é a conclusão pericial de que a vítima foi atingida por um quarto tiro – e não apenas três como foi anunciado anteriormente pela polícia. Segundo laudo pericial preliminar, foram quatro disparos, três sequenciais – caraterística de ação tática policial – e um quarto disparo, descoberto por peritos ao combinar provas na cena do crime e da necropsia no corpo da vítima. Esse último tiro atingiu a cabeça. Os três primeiros, acertaram uma das pernas, abdome e próximo a um dos seios, provavelmente nesta ordem.
Em relação ao quarto tiro, foi encontrado um projétil com sangue e cabelo. Foi observada uma fratura na cabeça de Emily. “A perícia sugere que este tiro pegou de raspão na cabeça da vítima. O crânio estava partido em duas partes. Ele empregou uma técnica policial para matar a Emily”, revelou a delegada Sandra Dantas.
Antecedentes
A delegada que preside o inquérito também ressaltou que Kassio já tinha antecedentes de violência doméstica. A primeira denúncia contra ele, ocorreu em 2008, por ameaças de morte contra uma namorada. À época da segunda denúncia, feita por outra namorada em 2016, Kassio já era policial militar. Ele teria jurado de morte a mulher com a arma do trabalho.
Foto de capa: Reprodução/SN