Em meio ao negacionismo, Brasil olha para o abismo

O escritor Artemis Zamis analisa a forma como o governo brasileiro trata a pandemia e a crise econômica que se aproxima
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Por ARTEMIS ZAMIS, empresário e escritor

Enquanto o mundo assiste perplexo ao tratamento que o negacionista presidente Bolsonaro trata a mais terrível pandemia já vista no mundo globalizado, os brasileiros parecem anestesiados ou sob efeito de fortíssimos ansiolíticos que os transformaram em meros espectadores da crise que diariamente é produzida, seja ela por escândalos ou por atabalhoadas decisões do presidente ou de seu ministério do horror.

O certo mesmo é que os mais sóbrios podem, sem nenhum grande esforço, constatar que hoje vivemos o período mais desanimador da política em toda a nossa história republicana. E o pior é que esse período vem justamente em meio a uma fase pandêmica, onde o governo em vez de agir e colocar todo o aparato da máquina a serviço do povo para promover o salvamento de vidas, o que faz é totalmente o contrário.

Promove todos os dias confusões com governadores, prefeitos, intrigas com auxiliares, interferências em instituições como o Congresso Nacional, Supremo Tribunal Federal, Polícia Federal, todos sem exceção. O governo é um desastre total.

Na semana passada, vimos estupefatos a reprodução do vídeo de uma reunião ministerial ocorrida no dia 22 de abril que mais parecia uma reunião de uma quadrilha que propriamente de um presidente e seu ministério. Em vez de assuntos de governo, assuntos para o país e seu povo, de combate à pandemia que assola o mundo e o Brasil, vimos foi a combinação de crimes e até seus modus operandi dissertados não só pelo presidente, mas também por vários de seus ministros.

Com quase 30 mil mortes, presidente come pastel e abraça apoiadores sem máscara: negacionismo. Fotos: Reprodução

Do presidente, pode-se ver seu desejo em transformar a Polícia Federal em sua “Polícia Política” para proteger a si e sua família, que hoje enfrenta várias denúncias tanto no Ministério Público como na própria Policia Federal. Dos ministros, podemos ver do Sr. Weintraub a declaração de que odeia o termo “Povos Indígenas”, e que os vagabundos do STF (ministros) teriam que ser presos a bem de suas ideologias tacanhas e tóxicas.

O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, protagonizou talvez o momento mais terrificante ao declarar “Precisa ter o esforço nosso aqui enquanto estamos nesse momento de tranquilidade no aspecto de cobertura de imprensa, porque só fala de covid, e ir passando a boiada, ir mudando todo o regramento e simplificando normas, de Iphan, de Ministério da Agricultura, Ministério do Meio Ambiente, ministério disso, ministério daquilo”, disse Salles.

O ministro Paulo Guedes mostrou a todos a que veio e a quem serve. Mostrou que são os bancos e grandes empresas seu alvo de investir o dinheiro público e não os micros e pobres empresários que são para ele a plebe que talvez precise ser extinta.

Enfim, tinha de tudo, menos projetos e programas para o país e seu povo. Vimos um presidente desqualificado, despreparado administrativamente, politicamente e humanamente. Pessoa mal-educada, boca suja e desrespeitosa com seus auxiliares.

Reunião ministerial de 22 de abril: assombro

É urgente que as instituições constituídas se articulem e salvem o país. Urge que tirem esse tirano do poder antes que o fascismo se estabeleça em toda sua plenitude no seio da sociedade.

O principal assunto em todo o mundo é o combate à pandemia ocasionada pela covid-19. As secretarias estaduais de Saúde confirmam hoje quase 30 mil mortes. Já somos o segundo país no mundo em número de casos confirmados da doença, atrás apenas dos Estados Unidos.

E apesar de todos esses números alarmantes, temos um presidente focado apenas em criar crises das mais diversas possíveis em seu governo. Não há casos no mundo em que um líder tenha atacado tanto o seu Ministério da Saúde como aqui, onde chegou a trocar de ministro duas vezes em menos de 60 dias.

Hoje, no órgão que é o responsável pela administração da crise está colocado como ministro um general especializado em logística e que, por sua vez, ao invés de se cercar de notáveis da saúde, aparelhou toda a estrutura do órgão com tantos outros militares.

O governo demonstra todo o seu desapreço por seu povo e pela doença. Prega a minimização da pandemia e acha que a imprensa exagera na divulgação de notícias ruins como a realidade das mortes e dos parentes que não podem celebrar o enterro de seus entes queridos.

A desumanidade com que trata as pessoas, seus compatriotas, é inacreditável, assustadora e indigna. 

Não temos ainda a noção exata do que nos espera após a pandemia no Brasil e no mundo. O que sabemos é que nada será como antes. Economistas renomados já alertam que centenas de milhões de pessoas serão empurradas para a extrema pobreza.

Paciente atendido em hospital de campanha: Brasil caminha para as 30 mil mortes

A fome atingirá outras milhões de pessoas e as economias mundiais não se reerguerão a tempo de suprir tantas necessidades que são sempre mais velozes que os números contábeis.

Mudarão com certeza nossos costumes, nossas rotinas e nossa maneira de viver no mundo. Novas tecnologias deverão surgir com maior rapidez para ajudar na vida das pessoas e o mundo será de fato bem diferente daquele que conhecemos.

Nossa desvantagem é que seguiremos sempre atrás das grandes potencias pela inercia, inabilidade, despreparo e desqualificação deste governo.

O Brasil precisa encontrar novamente o rumo do desenvolvimento, do progresso e do bem-estar das pessoas. Mas não deve ser antes de cuidar da saúde do seu próprio povo. Não tem como se admitir uma economia forte sem um povo igualmente forte.

Não será jamais com ideologismos morais, de costumes ou fundamentalismos religiosos que chegaremos a algum lugar. Chegaremos sim, mas com um estado laico, livre, democrático, onde as instituições, a imprensa e o povo tenham suas liberdades garantidas e exercidas dentro do que determina a nossa Lei Magna.

Basta dessa paranoia de comunismo, basta de imaginar inimigos atrás das portas, basta de perseguições, basta de mentiras, basta.

Jornalista é agredido durante cobertura de manifestação

Estamos confinados e não temos tempo, nem meios para ocupar as ruas e lutar para promover as mudanças que o Brasil precisa. Resta-nos, contudo, no meu modo de ver, a obrigação de todos nós, em cobrar daqueles que ajudaram no passado a viabilizar esse governo, a corrigir e promover as mudanças que precisamos para que saiamos e rápido desse abismo profundo que nos lançaram, sejam eles instituições setores de classes sociais e imprensa em geral. 

A hora é de lutar por uma nova ordem democrática e por uma verdadeira libertação de um fascismo já em andamento.

Seles Nafes
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