Por MARCO ANTÔNIO P. COSTA
Dezenas de mulheres, professoras, estudantes, artistas, mães, desempregadas, entre outras, manifestaram-se em Macapá, na tarde desta sexta-feira (8), contra o veto do Presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), ao item da lei 14.214, que previa a distribuição gratuita de absorventes para estudantes pobres e mulheres em situação de rua.
A lei, de autoria da deputada Marília Arraes (PT/PE), foi sancionada por Bolsonaro nesta quinta-feira (7), e criou o Programa de Proteção e Promoção da Saúde Menstrual, no entanto, o veto presidencial ao item considerado mais importante, a previsão de distribuição gratuita de absorventes femininos para mulheres pobres, desencadeou manifestações simbólicas em várias capitais brasileiras, incluindo Macapá.
As professoras da rede estadual, Alinne Brito e Benedita Alves, relataram o quanto é comum que a pobreza menstrual interfira, por exemplo, nos estudos de muitas garotas.
“A questão do absorvente é uma questão de saúde pública e foi vetada pelo presidente, o que prejudica muito as mulheres das periferias, que têm que escolher entre comer e ter um material de higiene. É muito comum vermos os problemas na escola, meninas que se sentem culpadas por menstruar porque vai ter um custo a mais para essa família. O dinheiro que seria para um absorvente, ela poderia estar fazendo uma ‘inteira’ pra comprar uma banda de frango ou algo do gênero. A pobreza menstrual é muito comum e a evasão escolar nesse período de ciclo menstrual, também”, declarou Alinne.
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Alinne Brito: “A pobreza menstrual é muito comum e a evasão escolar nesse período de ciclo menstrual”. Fotos: Marco Antônio P. Costa/SN
A professora Benedita destacou que cerca de 6 milhões de mulheres brasileiras não têm condições adequadas de comprar seus absorventes íntimos. Além disso, também falou do estigma que ainda há ao se abordar o tema da menstruação.
“Se uma menina sangra na escola ela vai ser açoitada [caso ocorra um acidente por falta de absorventes], e é grande tabu ainda a menstruação. A gente chamou esse ato porque foi completamente abusivo e misógino, representa um ódio às mulheres, e ele [Bolsonaro], simplesmente vetou”, declarou a professora.
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Benedita: “A gente chamou esse ato porque foi completamente abusivo e misógino, representa um ódio às mulheres”
Veto
O Governo Federal alegou, centralmente, problemas orçamentários dentre os motivos do veto. Haveria uma contrariedade com o interesse público, pois seria criada uma despesa obrigatória “sem apontar a fonte de custeio ou medida compensatória e de compatibilidade com a autonomia das redes e dos estabelecimentos de ensino” – destacou o Planalto em seu veto.
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Mulheres consideraram o veto…
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… um ato de ódio
Redes de apoios de mulheres que organizaram a manifestação estarão, neste sábado (9), no Residencial São José, na zona sul de Macapá, realizando a distribuição, dentre outras coisas, de absorventes.