Apesar de renovação da frota, população ainda tem problemas

Transporte coletivo continua sendo alvo de insatisfação e um dos desafios para a próxima gestão municipal de Macapá
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JÚLIO MIRAGAIA

Mesmo com a recente renovação da frota de ônibus de Macapá, o transporte coletivo continua sendo alvo de insatisfação e um dos desafios da prefeitura. Cada linha do sistema de transporte coletivo na cidade transporta hoje, aproximadamente, 650 passageiros por dia. Houve, em 2015 e 2016, o acréscimo de 60 novos veículos circulando na cidade.

De acordo com informações repassadas pela Companhia de Trânsito e Transporte de Macapá (CTMac), atualmente, a capital do Estado possui uma frota de 184 ônibus rodando. Cada veículo tem 38 assentos e, nos horários de pico, andam em média entre 60 e 70 passageiros.

Segundo o Sindicato dos Rodoviários do Amapá, diariamente, são transportadas 120 mil pessoas nos ônibus. Ainda de acordo com a entidade sindical, uma viagem de duas horas gera de arrecadação entre R$ 400 e R$ 450.

O portal SELESNAFES.COM foi até as paradas de ônibus do centro de Macapá para ouvir o que a população tem a dizer sobre a situação do transporte e o que acham que deve ser feito para melhorar o serviço. O portal também ouviu os agentes envolvidos no sistema de transporte da cidade: trabalhadores rodoviários, CTMac e o Sindicato das Empresas de Transportes Públicos (Setap).

Moradores reclamam da qualidade

Para o servidor público, Charles Silva, 45 anos, a qualidade do transporte é péssima. Ele conta que espera, todos os dias, mais de uma hora pela linha Infraero-Zerão.

Charles Silva, servidor público: "

Charles Silva, servidor público: “além de ser um ônibus deficitário, é um ônibus velho com passagem cara”

“Só chego atrasado, porque além de ser um ônibus deficitário, é um ônibus velho com a passagem muito cara”, desabafa.

Ele acredita que para melhorar a qualidade do transporte é preciso ter uma boa fiscalização para que os ônibus cumpram os horários e que os veículos fossem mais limpos.

“Macapá é uma cidade pequena, então nós pagamos uma passagem que é muito cara, e tem uma qualidade péssima. Eu deveria pegar um ônibus só, mas pelas circunstâncias, sou obrigado a pegar mais de um ônibus”, comentou Silva.

“Eu gostaria que as autoridades, sem fazer comercial, fossem lá, e tentassem pegar um ônibus para ver a situação que a gente passa. No final de semana, à noite, o ônibus só passa até nove da noite. Se quiser ter um lazer, depois das dez horas, ninguém pega ônibus”, prosseguiu.

Charles Silva opina ainda que as linhas teriam que rodar pelo menos até às duas horas da manhã.

O estudante Alexandre Silva, 20 anos, cursa pedagogia na Universidade Estadual do Amapá (Ueap). Ele é morador do Marabaixo I e pega três ônibus por dia. O estudante também está insatisfeito com a qualidade do transporte.

Alexandre Silva, estudante da Ueap: "

Alexandre Silva, estudante: “o ônibus que pego atrasa muito e todos são sucateados”

“O ônibus que pego atrasa muito e todos são sucateados. Não tem um que a gente pegue que tenha qualidade. No meu bairro pelo menos não veio nenhum ônibus novo”, comentou o estudante.

Ele acredita que é preciso trocar a frota e as empresas, além de fazer licitação de forma correta.

Eucinei Nery, 37 anos, é moradora do conjunto Macapaba. Ela conta que onde vive os ônibus são todos novos, e em horários regulares. Porém, em geral, também acredita que o sistema de transporte nos outros bairros é sucateado.

Euciney Neri, moradora

Euciney Neri, moradora do Macapaba, pega quatro ônibus por dia

“Os ônibus dos outros bairros são velhos e não oferecem conforto, principalmente, para as pessoas que são cadeirantes”, diz Eucinei, que pega quatro ônibus por dia.

A moradora do bairro Novo Horizonte, Risalva de Brito, 48 anos, espera que o serviço melhore.

Risalva Brito, cozinheira

Risalva Brito, cozinheira: “esses ônibus são muito quentes”

“Esses ônibus são muito quentes, tem ônibus que parece que nem era pra cá pra esse Estado”, reclamou.

Risalva, que trabalha como cozinheira no centro e pega quatro ônibus por dia, também diz que há problemas nos horários.

“A gente fica muito tempo na parada esperando o Jardim-São Camilo, que demora muito”, relatou a moradora do Novo Horizonte.

Trabalhadores rodoviários

O presidente em exercício do Sindicato dos Rodoviários, Max Delis, comenta que as condições de trabalho da categoria são as piores possíveis.

Max Delis, sindicato dos Rodoviários

Max Delis, sindicato dos Rodoviários: “estamos precisando de 16 terminais de ônibus”

“Já fizemos várias solicitações para a prefeitura e governo do Estado para a construção de novos terminais, porque aqui não são construídos terminais desde a época em que Annibal Barcellos foi prefeito”, destacou o sindicalista.

“Nós estamos precisando hoje de 16 terminais de ônibus, só temos um antigo, da época do Barcellos, que só fazem pintar. Temos que fazer nossas necessidades no banheiro alheio porque não tem um final de linha adequado”, prosseguiu Delis.

O representante da categoria conta que as principais reclamações dos rodoviários têm haver com o horário e com os constantes atrasos dos pagamentos das empresas. No último dissídio, a categoria teve reajuste de 8,5%.

“Conseguimos um auxílio saúde que saiu no valor de R$ 17 mil para R$ 25 mil para cuidar da saúde do trabalhador, e conquistamos a cota de 5% para mulheres dirigirem”, afirmou.

Há hoje aproximadamente de 1,7 mil rodoviários trabalhando em Macapá e Santana. Cerca de 80% desses trabalhadores ocupam postos em Macapá, de acordo com o sindicato.

CTMAC: um novo projeto para o transporte em Macapá

A CTMac diz que houve uma melhoria considerável no sistema de transporte coletivo.

“O que a gente pode verificar é que a idade média, que estava acima da média nacional, caiu muito. Estava em cerca de quatro anos e agora está em dois anos. Isso é reflexo da quantidade de ônibus novos, que foram mais de 100 na gestão e também na melhoria do atendimento”, avalia a ex-presidente da companhia, Cristina Baddini, cotada para retornar ao cargo.

Cristina Badinni diz ainda que outro grande marco será a consolidação do chamado BRS (Bus Rapid Service), que é um serviço de ônibus mais rápido, tronco alimentado.

“O BRS é a linha principal que irá pelos corredores, nos bairros teremos alimentadores e será com uma tarifa integrada”, explicou.

A atual administração buscou o financiamento do BNDES de R$ 131 milhões para financiar o projeto, e, de acordo com Badinni, agora passa para a licitação do projeto executivo, pois o projeto básico já foi feito.

“A tendência é melhorar bastante, nesses corredores que serão licitados, que prevê não só o pagamento dos ônibus, mas abrigos, na área central, que deverão ser climatizados, com calçadas e drenagem”, disse a gestora.

Sobre o valor da tarifa não há previsão de reajuste no valor da passagem. Acerca da frota, a CTMac  diz que existe a previsão da chegada de 30 a 40 ônibus até o fim do ano, como parte do acordo judicial firmado, que diz respeito ao último aumento da tarifa.

O presidente do Sindicato das Empresas de Transportes de Passageiros do Amapá (Setap), Décio Policarpo, informou que um ônibus roda em média 10 mil quilômetros por mês em Macapá. Ele ainda informou que cada carro fatura cerca de R$ 20 mil no mesmo período.

“De 2013 pra cá, colocamos 120 carros novos na rua”, destacou Policarpo.

O empresário acredita que para melhorar a qualidade do transporte, o poder público deveria fiscalizar a pirataria, fazer corredores de ônibus para que o trânsito flua.

“É preciso também fazer um ajuste operacional em todas as linhas, são deveres de casa que ajudariam muito”, concluiu.

Seles Nafes
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