Roberto Dinamite, o gênio de calção e chuteira

Principais nomes do esporte expressaram solidariedade
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Por MARCO ANTÔNIO P. COSTA

Esse é o nome da foto icônica que Ronaldo Theobald fez em 1977, à serviço do saudoso Jornal do Brasil. No centro, Roberto Dinamite, o craque do Vasco de minha mamãe, de meu irmão e de tantos amigos. Aliás, para mim, mesmo sendo botafoguense, “Dina” também é um craque meu, como brasileiro amante do bom futebol.

Roberto Dinamite faleceu neste domingo (8) aos 68 anos, no Rio de Janeiro, após uma batalha contra um câncer no instestino descoberto em 2021. O jogador foi, sem nenhum debate, senão ou dúvida, o maior craque da história do Clube da Colina, sendo até hoje venerado por velhas e novas gerações.

Entre o início das décadas de 1970 e 1990, Dinamite marcou 190 gols pelo brasileirão, marca até hoje jamais atingida por outro jogador. Foi titular da Seleção Brasileira na Copa da Argentina, em 1978, onde marcou três gols. Na seleção histórica de 1982, foi reserva de Telê Santana, e não participou de nenhum dos jogos, vendo Paolo Rossi acabar com os sonhos brasileiros no fatídica “Tragédia do Sarriá”.

Entrada sempre ovacionada em campo

Fora do futebol, envolveu-se tanto na política do Vasco, do qual chegou a ser presidente em oposição ao grupo de Eurico Miranda, como também foi deputado estadual do Rio de Janeiro, onde foi quadro do MDB.

Se fora dos campos Dinamite não foi um consenso, dentro dele a situação é diferente. Assim que sua morte foi anunciada, os três principais rivais do Vasco no Rio – Botafogo, Flamengo e Fluminense -, lançaram notas homenageando o craque.

Sua relação com a torcida vascaína, porém, é incrível, como, aliás, é incrível a torcida vascaína. Desde Coimbra, em Portugal, meu amigo carioca Diego São Bento, que está doutorando-se em terras lusitanas, contou-me de uma de suas mais tenras lembranças.

Craque morreu de câncer neste fim de semana

“Eu tinha uns 9 anos. Era um sábado véspera de jogo contra o Fluminense, e meu pai me levou para ver o treino do Vasco em São Januário. Fui com uma camisa do Vasco (que guardo até hoje) para pedir autógrafos aos jogadores. Primeiro vi o Bismarck, depois Germano, luisinho. Eis que o meu pai me chama e aponta para o Roberto. Estava ele lá. Com  um pé apoiado na parede dando entrevista para a rádio Tupi. Fiquei paralisado olhando e esperando que a entrevista acabasse. Enquanto esperava, passou o Eduardo(vulgo Eduardo cachaça para a torcida). Fui até ele com a camisa e o babaca passou direto resmungando por ter sido barrado para o jogo do dia seguinte. O Roberto vê a cena, para a entrevista e vai até mim. Faz um afago na cabeça, pega a camisa e assina. Então ele pergunta: você joga de que? Óbvio que fiquei mudo. Só olhando. Ele bota a mão no meu ombro, deixa ela descansada numa espécie de proteção e volta para a entrevista. Foi inesquecível. Saí dali extasiado. Até hoje lembro desse dia”, relembrou o vascaíno raiz.

A imagem

A foto que Thebald fez em 77, na Ilha do Governador, na volta do intervalo de um jogo contra a Portuguesa, é uma das mais belas da história da fotografia esportiva brasileira. Os perfis oficiais a utilizaram agora, com uma pequena alteração com as asas e uma iluminação dourada sobre o clássico preto e branco. Sobre a foto, neste Dia do Fotógrafo, destaco o que Ronaldo Theobald falou.

“Em um lindo domingo de maio de 77, fui escalado pelo JB para cobrir o jogo entre Vasco e Portuguesa na Ilha do Governador. Quando a equipe do Vasco saiu do vestiário para o campo, os torcedores se comprimiam junto ao gradil e estendiam as mãos para tocar seus ídolos. Parecia uma cena bíblica, algo mágico. Fiquei imaginando como registrar aquilo. No intervalo da partida, me deitei, discretamente, no chão do túnel e, à medida que os jogadores retornavam para o segundo tempo, ia dando meus cliques. Meu alvo era Roberto Dinamite, o ídolo maior. Quando disparei a câmera, sabia que ali estava a mais bela foto da minha vida”

Para mim, o apelidado “Gol do lençol”, marcado na Taça Guanabara de 1976, justamente sobre o meu Botafogo, é a imagem que fica. Embora não fosse vivo à época, este que muitos defendem ser o gol mais bonito da história do Maracanã, é uma pintura de velocidade, inteligência e precisão, características que definiam Dinamite. Meu zagueiro Osmar, ficou na saudade. Aos amigos vascaínos, solidariedade. À Dinamite, eternidade.

Seles Nafes
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